A explosão do desemprego, derivada da falta de políticas públicas que visem a retomada do mercado de trabalho, fez a fatia de famílias brasileiras que sobrevivem sem renda efetiva do trabalho passar de um quarto do total, no primeiro trimestre de 2020, para quase um terço no primeiro trimestre de 2021. A conclusão é da ‘Carta de Conjuntura’ do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada nesta quinta-feira (16).
Elaborado com base nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo foi coordenado por Sandro Sacchet de Carvalho, técnico de Pesquisa e Planejamento da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea.
“Os resultados mais recentes da Pnad Contínua confirmaram o impacto sobre a renda efetiva do recrudescimento da pandemia, visto que o primeiro trimestre de 2021 apresentou uma queda de 2,2% dos rendimentos efetivos”, afirma Carvalho em nota técnica. “Esse padrão se repetiu para trabalhadores com diferentes grupos demográficos. “
Segundo o levantamento, a proporção de domicílios sem nenhuma renda de trabalho saltou de 25,09%, no primeiro trimestre de 2020, para 31,56% no segundo trimestre, passando para 31,24% no terceiro trimestre. No quarto trimestre de 2020, a fatia permanecia elevada (29,01%). No primeiro trimestre deste ano, o total subiu a 29,34%.
O resultado, equivalente a dizer que três em cada dez lares do Brasil estão sobrevivendo sem qualquer rendimento proveniente de trabalho, reforça “como tem sido lenta a recuperação do nível de ocupação entre as famílias de renda mais baixa aos patamares anteriores à pandemia”, apontou o pesquisador do Ipea.
A proporção de famílias brasileiras na faixa de renda mais baixa, que recebem menos que R$ 1.650,50 mensais, também aumentou. Ela passou de 25,84%, no primeiro trimestre de 2020, para 25,96% no primeiro trimestre de 2021. Na faixa de renda mais elevada, com ganho acima de R$ 16.509,66 mensais, a fatia de domicílios enquadrados caiu no mesmo período – de 2,69% para 2,42%.
“Os dados da Pnad Contínua apresentam em linhas gerais o mesmo quadro da Pnad Covid-19: um forte impacto inicial da pandemia e uma lenta recuperação do mercado de trabalho, que ainda se encontrava incompleta (especialmente se considerarmos também as informações sobre o nível de ocupação) ao final do ano, quando o país foi atingido pelo início da segunda onda do Covid-19”, aponta Carvalho.
“De fato, enquanto muitos grupos apresentaram uma queda dos rendimentos efetivos no quarto trimestre de 2020, as quedas foram amplamente generalizadas no primeiro trimestre de 2021, sendo as mulheres e os trabalhadores com mais de 60 anos as exceções”, conclui a nota técnica.
Sobe número de estagiários que ajudam no sustento da família
Sem acesso a trabalho e modos de auferir renda, as famílias se viram como podem. Pesquisa do Ibope Inteligência divulgada nesta quinta-feira (17) revela o crescimento do número de estagiários que ajudam no sustento da família durante a pandemia.
O estudo, feito a pedido do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), aponta que o total passou de 66%, em 2019, para 70% em 2020 – quatro pontos percentuais a mais. Em movimento inverso, o percentual de estagiários que não ajudam no sustento familiar caiu de 27%, em 2019, para 21%, em 2020.
A pesquisa também mostra que aumentou a quantidade de estagiários que são os únicos responsáveis pelo sustento na família. Entre 2019 e 2020, o número passou de 6% para 9%. A maioria dos gastos dos estagiários é com as despesas em casa, como o pagamento de alimentação e contas de água e energia.
Para a superintendente nacional de operações do instituto, Mônica Vargas, “preocupa” o uso de boa parte da bolsa-auxílio para esse fim. “Muitos pais e familiares perderam os postos de trabalho e estão desempregados. A partir disso, a gente começa a perceber que a responsabilidade do estudante passa também a ter influência na renda familiar”, disse Vargas para o portal ‘G1’.
Entre as 6.634 pessoas de organizações públicas e privadas entrevistadas, 65% estudam em instituições particulares e 35%, em instituições públicas. Do total, 11% fazem cursos técnicos e 89% cursam o ensino superior.
No país, a renda média da bolsa dos estudantes é de R$ 895,22, e o tempo médio de permanência nos postos é de 16 meses. Sobre a renda familiar dos estagiários, a maioria (30%) recebe até R$ 1.996. Em seguida, estão pessoas que ganham até R$ 2.994 (20%) e R$ 4.990 (13%).
Da Redação