A venda de 30% das ações da BR Distribuidora mostra que o governo Bolsonaro quer que a Petrobras atue, cada vez mais, apenas como empresa privada, sem se preocupar com a soberania e o desenvolvimento do Brasil. Essa é a análise do professor Giorgio Romano, da Universidade Federal do ABC (UFABC), em entrevista a Glauco Faria e Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
“O único objetivo é valorizar as ações no mercado, o interesse financeiro a curto prazo”, opina Romano. Para ele, os interesses de quem atua nesse mercado e passa a tomar conta do transporte, do gás ou da petroquímica, significa que as decisões serão tomadas no exterior, levando em conta interesses que não necessariamente são os do desenvolvimento do Brasil. O percentual de 30% em ações da BR Distribuidora foi vendido a 160 investidores, oriundos de diversos países. Outros 28,75% da empresa já havia sido vendido durante o governo de Michel Temer.
Assim, a partir de agora, a Petrobras tem apenas 41,25% da BR Distribuidora. “O desmonte do Estado virou uma coisa positiva em si, sem considerar a vontade estratégica. Na verdade, eles querem privatizar a Petrobras, isso está claro na cabeça do Paulo Guedes, só que não há ainda força política para fazer isso de uma vez, por isso vão por partes”, afirma.
Giorgio Romano avalia que a venda da BR Distribuidora se insere no contexto de desmonte da Petrobras como uma empresa integrada, um processo iniciado após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. “A empresa tem seu poder de mercado e sua capacidade de contribuir com o desenvolvimento do Brasil por controlar a cadeia toda, do poço ao posto”, explica. Ele destaca que a BR Distribuidora, ao ser desmembrada da Petrobras, se torna a quarta maior empresa do Brasil, atrás da própria Petrobras, da JBS e da Vale. Em 2018, a BR Distribuidora obteve mais de R$ 3 bilhões de lucro.
Para o professor, a questão daqui em diante é analisar o que acontecerá com a “pulverização” da venda das ações da BR Distribuidora. Segundo ele, ainda não está claro se a venda pulverizada das ações da empresa tem ou terá um único controlador por trás. Caso não tenha, a Petrobras pode permanecer como acionista majoritária por ainda deter 41,25% da empresa, mas se houver uma empresa ou grupo financeiro controlando as ações vendidas a Petrobras deixa de ser a acionista majoritária.
“Tudo indica que não é isso que vai se concretizar mais à frente. É um cenário plausível, ainda a se verificar, que essas ações depois passem para o controle de uma empresa, provavelmente estrangeira”, pondera Giorgio, ressaltando que essas empresas provavelmente serão estrangeiras e concorrentes da Petrobras.
Por CUT