Pesquisa da USP revelou que as mulheres lésbicas se preocupam com ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), mas não se protegem. O estudo “Estereótipos de gênero e cuidado em saúde sexual de mulheres lésbicas e bissexuais” aponta que são vários elementos interpostos para essa constatação como o foco das campanhas de conscientização estarem centradas no sexo heterossexual, a falta de preparo dos profissionais de saúde em lidar com as especificidades da população lésbica, além do acesso à informação e preconceito.
Comandada por Juliana Rodrigues, mestre na Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, a pesquisa também revela que os insumos disponíveis hoje na rede pública de saúde não fazem sentido pra prática sexual realizada entre mulheres. A camisinha, por exemplo, não é vista como um material que faz sentido na cena sexual lésbica.
“A menos que elas usem algum objeto que lembre um pênis, então a entrada da camisinha é ok, mas fora isso, a maioria dos objetos disponíveis não faz sentido pra cena sexual lésbica”, apontou a pesquisadora em entrevista à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Juliana enfatiza que se houve poucos avanços nos direitos reprodutivos, em relação ao direito sexual o retrocesso ainda é grande. “A lésbica, quando ela chega numa consulta ginecológica, a questão da contracepção não costuma ser o foco central da lésbica, porque ela não está numa relação que ela possa engravidar, e a medicina conduz a consulta focada na questão contraceptiva”, aponta.
Se o cenário já era de completa invisibilidade e, consequentemente, escassez de políticas públicas, com a pandemia esse processo de vulnerabilização acentou-se de maneira drástica. É o que traz o artigo “Impactos da pandemia da Covid-19 na saúde das mulheres lésbicas“, publicado na Revista Brasileira de Estudos da Homocultura (RBEH). Segundo as pesquisadoras, mesmo que qualquer pessoa possa ser contaminada pelo vírus, a intersecção de outros marcadores como gênero, orientação sexual, raça, deficiência, classe, geração, região de moradia e território explicam por qual motivo determinados grupos estão mais expostos à doença; e/ou possuem acesso limitado aos serviços essenciais de saúde.
“Garantir as vozes das lésbicas na elaboração de políticas públicas é uma característica fundamental do projeto Elas Por Elas e das mulheres do PT na construção do partido e de programas de governo. E não só a voz de lésbicas, mas de todas as realidades de mulheres que tem sido invisibilizadas ao longo do tempo como as ribeirinhas, quilombolas, indígenas, com deficiência e tantas outras”, enfatiza Anne Moura.
Da Redação, Elas Por Elas