A tentativa de Jair Bolsonaro de imitar Donald Trump e colocar em dúvida o sistema eleitoral cai por terra, definitivamente, nesta segunda-feira (2), quando termina o prazo dado pela Justiça Eleitoral para que ele mostre provas de que houve fraude em eleições anteriores. O atual presidente, evidentemente, não as apresentará, pelo simples fato de elas não existirem, como ele próprio admitiu em uma patética e criminosa live na internet na última quinta-feira (29). Cabe à Justiça agora cobrar o ex-capitão por suas mentiras e ataques ao voto popular.
A sabotagem de Bolsonaro ao maior pilar da democracia começou em março de 2020, quando viajou aos Estados Unidos para se encontrar com Trump, de quem copiou duas estratégias que imediatamente colocou em prática: a defesa da cloroquina para não enfrentar devidamente a pandemia de Covid-19 e os questionamentos a respeito da segurança das eleições. Ainda durante a viagem, Bolsonaro afirmou: “Eu acredito, pelas provas que eu tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, que eu fui eleito em primeiro turno. (…) Nós temos não apenas uma palavra, nós temos comprovado”.
Como as declarações a respeito das tais provas continuaram, o corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Felipe Salomão, instaurou, em 21 de junho, procedimento administrativo para apurar a existência ou não de elementos que tenham prejudicado as últimas eleições. Em portaria, o ministro deu 15 dias para que Bolsonaro apresentasse as provas. O prazo acabou estendido até esta segunda-feira por causa do recesso do Judiciário. Às vésperas da data, Bolsonaro promoveu o espetáculo patético de reunir vídeos amadores e fake news antigas já desmentidas e classificá-las como “indícios”, após admitir que as provas não existem.
Ele ainda aproveitou a live, que acabou transmitida pela TV Brasil, para estimular que seus apoiadores fossem às ruas no último domingo (1º) para defender o voto impresso, peça-chave de sua campanha contra o sistema eleitoral. As manifestações fracassaram e juntaram alguns poucos fanáticos do atual presidente, que, ainda assim, voltou a dar declarações que colocam em dúvida o voto popular. Claramente, Bolsonaro repete a estratégia trumpista de tentar manter fiéis a ele seus admiradores mais fanáticos diante da inevitável derrota nas urnas.
É preciso parar o ataque à democracia
Não se pode, porém, deixar que Bolsonaro siga com seu plano, por mais patético que seja, pois trata-se de um evidente atentado à democracia. Vale lembrar ainda que bastaram algumas centenas de fanáticos para promover a invasão do Capitólio nos Estados Unidos, numa ação que resultou em cinco mortos. Com a live de quinta-feira, Bolsonaro deixou claro que busca, sem pudor, à base de fake news requentadas, manipular o sentimento da população para enfraquecer as eleições. As instituições democráticas não podem deixar de agir em defesa do voto.
O Partido dos Trabalhadores tem atuado em defesa da democracia e contra as manifestações de Bolsonaro. Na sexta-feira (30), membros da bancada do PT na Câmara dos Deputados protocolaram no Supremo Tribunal Federal (STF) notícia-crime contra Bolsonaro, acusando-o de ter cometido improbidade, crime eleitoral e abuso de poder econômico e político, ao utilizar a estrutura da TV Brasil para fazer “propaganda eleitoral antecipada” na live. Além disso, ao lado de outros partidos, o PT requereu ao corregedor Luís Felipe Salomão a interpelação de Bolsonaro, para que preste esclarecimentos sobre as acusações e apresente eventuais documentos e provas de suas ilações promovidas durante a transmissão nas redes sociais que acusam o sistema eleitoral brasileiro de irregularidades.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) pediu que providências sejam tomadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). “Aquilo (a live) foi um teatro do terror, um show de mentiras, de calúnias contra o Estado de Direito, usando o aparato da Presidência da República. É algo que não pode ficar impune. Tem de ser investigado e severamente punido”, defende Costa.
Da Redação