A mentira e o medo são os principais recursos da direita brasileira para disputar eleições e governar. Desde a redemocratização, a esquerda sempre foi atacada com discursos mentirosos para causar medo no povo. A partir das eleições de 1989, o PT e Lula sempre foram alvos de campanhas caluniosas e difamatórias. A verdade, como aponta Wadih Damous, é que a extrema direita e o fascismo dependem do medo, dependem das milícias. É neste contexto de um Brasil do medo, que o deputado federal do PSOL Jean Wyllis anunciou, nesta quinta-feira (24), que abrirá mão de seu mandato e sairá do país por causa de ameças de morte que vem sofrendo.
O parlamentar do Rio de Janeiro vive sob escolta policial desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018. Segundo Wyllys, as ameaças de morte já ocorriam antes da execução da correligionária do PSOL, mas se intensificaram após o crime.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Wyllys disse que pesou na sua decisão as recentes informações de que familiares de um ex-PM suspeito de chefiar uma milícia, envolvida na morte de Marielle, trabalharam para o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), durante o mandato de deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
“Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário. O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim”, afirma Wyllys à Folha de S. Paulo.
Ao longo da entrevista, Wyllys revelou que, antes do assassinato de Marielle, não acreditava que as ameaças de morte poderiam acontecer, mas após a execução, ele passou a viver sob o medo. “Quando rolou a execução da Marielle, tive noção da gravidade. Além dessas ameaças de morte que vêm desses grupos de sicários, de assassinos de aluguel ligados a milícias, havia uma outra possibilidade: o atentado praticado por pessoas fanáticas religiosas que acreditavam na difamação sistemática que foi feita contra mim.
Luta em favor da comunidade LGBT
O parlamentar foi o primeiro deputado federal assumidamente gay a encampar a agenda LGBT no Congresso Nacional, o que o tornou alvo da ira de grupos conservadores. Ao longo das Eleições 2018, Wyllys foi um alvo frequente da rede de fake news que atacou a campanha de Fernando Haddad, tanto é que, recentemente, o deputado federal venceu um processo por difamação contra o também eleito deputado federal, Alexandre Frota (PSL), que o acusou nas redes sociais de defender a pedofilia.
O deputado também lembrou a cautelar emitida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). “O documento é claríssimo: é baseado em todas as denúncias que nós fizemos à Polícia Federal, no fato de que a Polícia Federal não avançou nas investigações sobre as ameaças contra mim. No fato de que a proteção era pífia”.
“A OEA deu um prazo para o Estado responder quais eram as providências que estava tomando em relação à minha proteção. A resposta foi a mais absurda possível. O Estado não reconheceu que havia uma violência homofóbica no Brasil. Isso com quatro pessoas LGBTs ou mais tendo sido mortas durante o processo eleitoral”, critica. Ainda durante a entrevista à Folha, Wyllys lembrou o recente ataque que sofreu no Facebook, desta vez de um agente público que deveria zelar pela segurança de todos.
“A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança. Na sequência, um dos magistrados falou que eu gostaria de ser executado de costas. E ela respondeu: “Não, porque a bala é fina. Veja a violência com homofobia dita por uma desembargadora do Rio de Janeiro. Como é que posso imaginar que vou estar seguro neste estado que eu represento, pelo qual me elegi?
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da Folha de S. Paulo