O desprezo do governo de Bolsonaro e Paulo Guedes, que defende dar restos de comida aos pobres, agrava o cenário de fome e miséria enfrentado por mais de 19 milhões de brasileiros e brasileiras. É o resultado da volta do país ao Mapa de Fome, um retrocesso inédito no mundo, como disse o economista Walter Belik, um dos criadores do Fome Zero.
Os exemplos das dificuldades impostas pelo atual governo ao povo não faltam. No Mato Grosso, em apenas um dia, um açougue doou 320 quilos de ossinhos a famílias carentes da região no entorno de Cuiabá. Em Vila Velha, no Espírito Santo, uma rede de supermercados oferece bandejas de pele de frango, a “preços convidativos”.
No caso do Mato Grosso, o desmonte de políticas públicas para a segurança alimentar de pessoas que passam fome resulta neste cenário: doações que atendiam em média 100 pessoas por dia, triplicou, segundo o dono do açougue que fica em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá. O município na região Norte do Estado é o 10º mais rico do agronegócio no Brasil.
As 19 milhões de pessoas passam fome e 116 milhões que vivem em insegurança alimentar, desde 2020 está piorando. O diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, Rodrigo Afonso, alertou que a volta do Brasil ao Mapa da Fome é consequência direta da destruição das políticas sociais de combate à fome por Bolsonaro e Guedes.
“O preço dos alimentos aumentou pela falta de planejamento, o governo é a causa da fome no Brasil”, acusa o dirigente, lembrando a extinção do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) e o desmantelamento do programa de estoques reguladores de alimentos.
Ele ainda relembrou sobre as reduções no incentivo ao pequeno produtor – de R$ 1,3 bilhão em 2014 para R$ 151 milhões em 2020—e no programa de cisternas na zona rural –de R$ 643 milhões em 2014 para R$ 74 milhões em 2020. Mas os investimentos na agricultura para exportação explodiram.
“Em vinte anos, a área plantada de arroz perdeu 50% do espaço de produção em hectares, junto com o feijão, que perdeu 76%. Já a soja e o milho tiveram expansão de 165% e 143%, respectivamente”, enumera Afonso. “Ao longo dos anos, não se pensou em segurança alimentar, não se olhou para a produção de alimentos. As pessoas comem arroz e feijão, não soja e milho.”
Modelo injusto
Para o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (PT), Penildon Silva Filho, o país tem um modelo injusto de política nacional de regulação de estoques e destinação de alimentos para pessoas em vulnerabilidade.
“O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo, mas o atual modelo do agronegócio se concentra em exportar a produção pelo valor alto das commodities, e não tem prioridade para o mercado interno. Some-se a isso a ausência de uma política nacional de regulação de estoques e de destinação de alimentos para as pessoas em vulnerabilidade e teremos essa situação de fome e miséria ao lado da riqueza e opulência de poucos. É um modelo injusto socialmente, mas também ambientalmente inviável, pois é a principal atividade econômica emissora de carbono pelo Brasil, usa agrotóxicos fortemente e exaure os recursos hídricos. Em breve não se manterá, seja pela destruição do meio ambiente ou pelos embargos dos países ricos da OCDE”.
Como o Brasil se livrou da fome?
A dura regressão que o país enfrenta no combate à fome foi alertado por Daniel Souza, filho de Betinho e presidente da ONG Ação da Cidadania, que respondeu à Folha de S. Paulo, em artigo publicado, de como o Brasil se livrou da fome: “vontade política de Lula e Dilma Rousseff”.
1) que o pequeno e médio agricultor, que, de fato, produzem os alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, tivessem apoio e jamais houvesse escassez de comida;
2) que a população mais pobre tivesse renda suficiente para comprar esse alimento.
Para que esses dois objetivos fossem alcançados, foram colocadas em prática não só uma política, mas várias ações combinadas, como resumiu Lula em agosto passado, durante outra entrevista para rádio.
“As pessoas pensam que o sucesso da nossa política de inclusão foi apenas o benefício do Bolsa Família. Não foi. Foi o Bolsa Família; o aumento sistemático e anual do salário mínimo; foi a criação de política para ajudar o pequeno e médio agricultor, que é responsável pela produção de 60% a 70% do alimento que chega à nossa mesa; foi a combinação do auxílio com a necessidade de as crianças estarem na escola, tomarem vacina e de as mulheres grávidas fazerem o pré-natal”.
Da Redação, com informações do G1