A luta atualmente no País está entre aqueles que querem mais democracia e aqueles que querem menos democracia. Está é a opinião do senador João Capiberibe (PSB-AP), que lidera a Frente Parlamentar Suprapartidária pelas Diretas Já.
A Frente Parlamentar foi lançada no início do mês de junho com cinco partidos: PSB, PSOL, PDT, PT e PCdoB. Mas outras legendas já se aproximam dela, além de diversos deputados e senadores, inclusive de partidos da base de sustentação do governo que se identificam com a campanha.
“A Diretas Já é um guarda-chuva que agrupa todos aqueles que querem uma saída democrática para o País, uma conciliação democrática com o povo, através do voto popular”, afirmou.
Para Capiberibe, que presenciou a campanha das Diretas Já de 1984, é difícil não fazer um paralelo com o que acontece atualmente no Brasil. Leia a entrevista completa:
Senador, como é formada essa Frente Parlamentar e qual o seu objetivo?
A Frente Parlamentar começou com cinco partidos: PSB, PSOL, PDT, PT e PCdoB. Mas outros partidos estão se aproximando, como Podemos, Avante, Rede, PSD, PMDB e PMB, que começam a discutir a permanência ou não na base do governo.
Parlamentares de quase todos os partidos já estão hoje apoiando a Diretas Já, que é um guarda-chuva que agrupa todos aqueles que querem uma saída democrática para o País, uma conciliação democrática com o povo, através do voto popular. Esse é o grande objetivo da frente.
A grande maioria que compõe a frente também é radicalmente contra as reformas. Não são todos. As diretas ampliam mais que as reformas, mas acho que 90% de quem está apoiando as diretas também é contrário às reformas.
Nós temos aqui parlamentares que são de outros campos ideológicos que estão se aproximando e são favoráveis às eleições diretas. E quem se identifica com eleições diretas se identifica com mais democracia.
Porque a luta é entre aqueles que querem mais democracia e aqueles que querem menos democracia. É isso que está posto.
O mote para aglutinar precisa ser: mais democracia, contra a corrupção, contra as reformas de Temer, mais transparência, mais respeito ao voto popular.
O que vale é mais democracia, o que vale é o respeito ao voto e a confiança que a sociedade tem nela mesma.
E como o senhor tem percebido a mobilização pelas Diretas Já na sociedade?
A mobilização da sociedade acena para mais democracia. O que vimos acontecer nos últimos dois anos foi um encolhimento da democracia diante dos nossos olhos. E quando a democracia encolhe, floresce a intolerância. Os discursos aqui dentro acirram a sociedade lá fora.
As Diretas Já têm esse objetivo de estancar esse estreitamento da democracia e buscar uma saída que seja de fato uma solução para o País.
Porque uma eleição indireta seria tirar o Temer para colocar o Temer 2, para reproduzir a mesma coisa, e isso não vai resolver o problema do País.
Quais as semelhanças e as diferenças desse movimento de hoje pelas Diretas Já e a mobilização que aconteceu por eleições diretas em 1984?
Eu tenho dado uma mergulhada no labirinto da memória sobre 1984. Também foi um movimento que começou timidamente e depois foi incorporando mais gente.
Lá em 1984, começando pelos setores que vinham da luta pela democracia, então os partidos recém-criados no calor do momento da redemocratização do País e a esquerda. Depois, foi aglutinando gente. Entrou Ulisses Guimarães, que foi um homem de ponta no processo, mas não desde o começo. Entrou o PMDB por baixo. O PMDB era uma frente de esquerda, que agregava gente de todas as matizes ideológicas, mesmo já tendo surgido o PT e o PDT.
E aí o movimento foi crescendo. Entrou Ulisses, entrou Mario Covas, entrou Tancredo. E entrou gente do Brasil todo. Entraram os artistas.
Só que agora é um pouco diferente. Nós não temos mais líderes políticos de grande expressão nacional, catalisador, mobilizador. O único que nós temos é Lula, é o único. Mas Lula está em uma situação que o envolvimento dele em um movimento como esse não ajudaria.
Então nós não temos esse elemento. E hoje, quem começa o movimento são os artistas. Eles que chamam, que mobilizam, até porque, tal como aconteceu em 84, a grande mídia também não divulgava nada.
Mas qual a consequência de 84? A campanha foi derrotada pelo Congresso, no dia 4 de abril de 84, na votação da Emenda Dante de Oliveira.
Nós perdemos, mas a vitória política estava consagrada. A frustração da derrota de abril de 84, eu comparo com a derrota do Brasil no Maracanã pro Uruguai. Foi assim, um negócio tão dolorido. Todo aquele movimento, milhões de pessoas nas ruas, cheios de esperança.
Mas a consequência positiva disso foi a eleição de 86 para a Assembleia Nacional Constituinte, em que o Brasil elege um parlamento com uma cara muito próxima da do povo brasileiro, e que faz a melhor Constituição que o País já teve. E que acena para um choque civilizatório, uma Constituição que cria essa rede de proteção social que nós conhecemos hoje e que eles agora estão tentando desmontar.
E é resultado dessa ampla mobilização, do ativismo político da campanha das Diretas Já, que a gente logrou conquistar uma democracia que se consolidou através do tempo.
Como furar o bloqueio da grande mídia, que tem escondido os atos e a campanha pelas Diretas Já?
Quando a gente colocar 200 mil pessoas na praça, aí sim. Foi o que aconteceu em 84. A mídia só divulgou quando teve um ato de 500 mil pessoas. Aí eles começaram a falar do ato.
É uma coisa quase incompreensível. O que leva a Rede Globo a abandonar Temer? Eles abandonam Temer e ao mesmo tempo impulsionam as reformas. Isso porque a grande mídia se transformou em meganegócio, são operadores de mercado.
Mas diferente de 84, hoje nós temos um fator muito importante de comunicação que são as redes sociais. E hoje é preciso estruturar esse movimento, organizar esse movimento em rede, para que a gente chegue nos locais de trabalho das pessoas, nos comitês locais, nas cidades. Isso tem que chegar no Acre, em Porto Alegre, em Natal.
Será possível, assim como em 84, alcançar esse clima social pelas Diretas Já?
Acho que sim, do ponto de vista do povão, que é realmente quem define, na hora que o povão engrossa, aí esta Casa aqui treme nas bases.
Tanto que em 2013, as consequências do movimento de julho de 2013, foi a aprovação no Congresso da lei de combate à corrupção e a instituição da delação premiada.
Para nós chegarmos a isso, é necessária a incorporação de todas as forças, de todos aqueles que queiram mais democracia.
Alguns nomes começam a aderir ao movimento, como é o caso de Ciro Gomes, Fernando Henrique Cardoso. Estamos conversando com outras figuras também. Então, à medida que vai ampliando o movimento, mais gente vai se incorporando à luta política. E movimentos organizados também.
Quais os próximos passos da Frente para ampliar a campanha das Diretas?
São duas coisas. Tem a Frente que reúne os partidos e a Frente que reúne os parlamentares, que já tem um bom time.
O que nós vamos fazer na Frente Parlamentar é conquistar mais parlamentares para engrossar a Frente.
Na Frente partidária, nós vamos dar suporte aos movimentos sociais e às centrais sindicais. Não vamos entrar como protagonistas do processo, vamos entrar como apoio. Onde tiver movimentação, nós vamos nos mobilizar para apoiar. Uma delas é a greve do dia 30, e vamos discutir qual será nosso papel nessa greve.
Os movimentos sociais e sindical, junto da sociedade civil, criaram uma Frente Ampla pelas Diretas. Então, nós queremos uma intersecção para unificar todas as correntes políticas. Esse é o nosso objetivo: não sermos os protagonistas nem liderarmos esse processo. Esse é o momento de apoiar e estimular que a sociedade mesmo se organize.
Claro que nós vamos ajudar muito nisso, até porque tem muita intersecção entre os partidos e os movimentos. E os partidos podem ajudar muito, inclusive atraindo outros partidos para a Frente.
Como fica a organização aqui dentro do Congresso pelas PECs na Câmara e no Senado que tratam das eleições diretas?
Esse é um trabalho da Frente Parlamentar, que é impulsionar as duas PECs, tanto a que está na Câmara como a do Senado, e buscar o apoio popular a essas PECs, para poder avançar aqui dentro.
A do Senado está mais avançada, já tivemos aprovação na CCJ e está pronta para o Plenário. Mas ainda não tem um burburinho social que nos permita fazer andar mais rápido. Está andando por força de um ativismo dos parlamentares que compõe a Frente e estão pressionando nessa direção. Mas ainda não temos uma ressonância aqui dentro, da voz rouca das ruas, que é fundamental. Eu acho que a gente, dentro de um mês, dois meses, vai ter um movimento mais consistente e capaz de influenciar.
Por Luana Spinillo e Mariana Zoccoli, da Agência PT de Notícias