O corte geral e irrestrito de gastos tem atingido um setor vital para a economia: os investimentos públicos. Ao mesmo tempo, a piora econômica e a crise política têm travado concessões e leilões, que poderiam estimular o investimento privado. O resultado é uma economia completamente parada. A última previsão de mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) é de crescimento de apenas 0,34%.
Os gastos em programas essenciais para estimular o crescimento, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI) desabaram no governo do golpista Michel Temer.
O PSI, por exemplo, sofreu corte de 75% desde junho de 2016, na comparação com o primeiro ano do segundo mandato do governo de Dilma Rousseff (PT), de R$ 38, 3 bilhões para R$ 9,6 bi. No mesmo período, o PAC caiu 36%, de R$ 56,6 bilhões para R$ 36,4 bilhões. O corte no Minha Casa, Minha Vida foi de 71%, de R$ 23,5 bi para apenas R$ 6,9 bi.
A economista Leda Paulani, da FEA-USP, lembra que o investimento público sempre foi a locomotiva da economia brasileira e que o investimento privado é feito no esteio do público. Ou seja, o investimento público dá um empurrão na economia e, com a economia girando, os empresários se arriscam a investir também.
Paulani afirma que desde a década de 1990, com o fortalecimento do neoliberalismo no país, o investimento público tem caído, mas o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) havia recuperado esses gastos. Agora, o corte no programa é brutal, e com a PEC dos Gastos não há nenhuma perspectiva no horizonte.
“Não vai ter recursos nem para as despesas obrigatórias. O investimento é feito com o recurso que sobra, e não vai sobrar”, diz ela.
Francisco Luiz Caveiro, economista e pesquisador da Unicamp, afirma que o governo tem insistido num ajuste fiscal a qualquer custo, e isso tem causado uma deterioração bastante grande da economia em várias áreas. Além disso, o ajuste não tem recuperado a situação fiscal, já que a arrecadação tem desabado.
Em junho, o governo apresentou o maior déficit fiscal desde o início da série histórica em 1997.
Caveiro também aponta que o setor privado espera o investimento do setor público. “Se o setor público também resolve fazer um ajuste cortando investimentos, a tendência é que a economia viva uma situação bastante complicada”, afirmou.
Concessões
Além disso, a crise política e econômica do governo de Michel Temer faz com que outros mecanismos de estímulo ao investimento também estejam paralisados.
“As concessões emperraram. Estão enterradas”, diz Caveiro. Segundo ele, na atual situação política e econômica, é muito difícil que o capital privado assuma novos compromissos. “Enquanto a situação não se resolver, não vai avançar”, afirma.
A própria crise econômica dificulta o interesse do setor privado, segundo Caveiro. Concessões como a do aeroporto de Viracopos, em Campinas, ainda não têm apresentado os resultados esperados devido à queda no fluxo de passageiros.
Já Paulani argumenta que uma concessão frustrada seria uma derrota política séria em um governo enfraquecido. Assim, os golpistas estão em “compasso de espera”.
“O capital privado está ressabiado. O governo é muito precário, é muito incerta a estabilidade política. Eles ainda não tiveram coragem de botar o bloco na rua para lançar uma concessão e ver o que dá”, afirma Paulani. “Se houver uma resposta muito ruim seria uma derrota política muito importante”, diz ela.
Da Redação da Agência PT de Notícias