Segundo dado divulgado na sexta-feira (12) pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena, criado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB),um total de 1.001 indígenas já haviam morrido em decorrência da pandemia da Covid-19 até o dia 12 de março de 2020.
As tribos xavante, kokama e terena seriam as mais atingidas e as capitais Manaus e Boa Vista, no norte do país, são as que concentram o maior número de indígenas mortos. E o Amazonas é o estado que concentra o maior número de óbitos, segundo as informações do Comitê.
A ausência de políticas públicas por parte do governo federal para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, em especial para a população indígena, fez com que fossem registrados 50.468 casos de contaminação confirmados e um total de 163 povos atingidos.
O documento publicado pelo Comitê da APIB alerta para o fato de a SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde ser um dos principais vetores da doença dentro dos territórios indígenas e que acabou atingindo a região com maior número de povos isolados existente no mundo.
O primeiro caso de contaminação registrado entre as comunidades indígenas ocorreu justamente quando um médico da SESAI que estava infectado pelo vírus contaminou uma jovem de 20 anos do povo Kokama, no dia 25 de março de 2020, no município amazonense Santo Antônio do Içá.
De acordo com a médica sanitarista Ana Lúcia Pontes, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e que coordena o GT de saúde indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), falta empenho ao governo federal para registrar os efeitos do coronavírus na população indígena brasileira. Para se ter ideia do descaso, a base de dados no SIASI – Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena, que faz parte do SUS está desatualizada. A última atualização de dados desse Sistema ocorreu somente em 2010
“Esse sistema coleta todos os dados demográficos de saúde e prestação de serviço pra as populações indígenas atendidas nos 34 distritos sanitários especiais indígenas. Só que esse sistema de informação, diferente do conjunto de dados do DataSUS, não é público. Já faz pelo menos dois ou três anos que a gente não tem acesso a nenhum desses dados”, afirma a pesquisadora.
Conforme explicação da pesquisadora da Fiocruz, os indígenas que vivem nas áreas urbanas, fora das aldeias, além de viverem o apagamento diário da sua identidade e de não poder falar seu idioma, apresentar suas marcas e costumes e exercer suas tradições, também são excluídos da contabilização oficial das infectados e mortos em decorrência da covid-19. Assim, os dados coletados pelo governo não representavam a totalidade de casos e mortes de indígenas pela doença e o problema era subnotificado.
Pelos dados oficiais do governo federal sobre a saúde índígena, que incluiria apenas a população nas aldeias, o total de óbitos seria de 601 e o tal de contaminados seria de 44.571 casos.
“Você tinha claramente um cenário de subnotificação, seja por falta de teste ou por falta de identificação de parte da população indígena. O retrato da Secretaria Especial de Saúde Indígena era apenas uma parcial do impacto da covid em povos indígenas”, afirma Ana Lúcia.
Segundo ela, a fragilidade dos dados sobre indígenas no país durante a pandemia fez com que diversas organizações se reunissem para cruzar informações e realizar levantamentos de forma independente, o que eles chamam de Vigilância Participativa.
Os dados levantados pelo Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena revelam não apenas a quantidade de indígenas que foram contaminados pelo vírus ou morreram até o momento, mas também traz informações sobre povos afetados, sexo e território, com divisão entre cidades e estados.
Da Redação, com Brasil de Fato