A CPMI do Golpe deu, em reunião nesta terça-feira (13), mais um passo rumo à verdade sobre o atentado à democracia tramado, estimulado, financiado e realizado por bolsonaristas em 8 de janeiro.
Além de uma série de pedidos de informações, como o acesso à investigação sobre o cartão de vacinação falso de Jair Bolsonaro, a maioria dos deputados e senadores votou pela convocação de pessoas claramente envolvidas na tentativa de golpe, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e outros (veja lista abaixo).
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Ao mesmo tempo, a maior parte dos membros rejeitou a tentativa de tumultuar os trabalhos e votou contra requerimentos apresentados por bolsonaristas com a clara intenção de confundir e inverter a lógica da investigação.
“O que tivemos foi a confirmação de que o foco não será desviado. Nós fizemos um plano de trabalho, e nesse plano nós deixamos claro o que seguiremos para descobrir quem foram os autores intelectuais, quem arquitetou e quem financiou o 8 de Janeiro”, resumiu, ao final, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Extrema direita fracassa
Com os requerimentos que apresentaram, os apoiadores de Jair Bolsonaro praticamente confessaram que seu objetivo na CPMI é espalhar mais mentiras para tentar culpar quem, na verdade, foi vítima.
Entre os pedidos absurdos estavam o acesso a câmeras de segurança de órgãos federais que não foram alvo dos ataques e até mesmo a quebra de sigilo telefônico de ministros do governo que nem sequer estavam em Brasília no dia do ataque.
A tentativa deles, obviamente, era a de direcionar as investigações apenas para os eventos de 8 de janeiro, ignorando todo o planejamento e toda a incitação feita aos golpistas por meses e até anos a fio. Tudo isso só para criar uma versão falsa dos fatos, atribuindo ao governo Lula a culpa pela tentativa de golpe que sofreu.
Rogério Carvalho: golpe urdido por anos
Durante a votação dos requerimentos, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) tratou de recuperar a verdade. “O que nós estamos tratando nesta CPMI é de uma tentativa de golpe que foi urdida ao longo de quatro anos, que foi ensaiada antes mesmo da eleição do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, quando um dos seus filhos disse que bastavam um soldado, um jipe para fechar o Supremo Tribunal Federal”, lembrou (assista acima).
Carvalho acrescentou que a tarefa da CPMI é explicar os atos que geraram o ataque às sedes dos Três Poderes. E isso passa, certamente, pela forma como Jair Bolsonaro estimulou ideias antidemocráticas em seus seguidores (leia aqui sobre as narrativas que levaram ao 8 de Janeiro).
“O 8 de Janeiro não foi algo criado em 8 de janeiro. Aqui, quer se transformar o 8 de Janeiro como se fosse uma omissão. Não, ali foi uma catarse, uma construção, uma emulação feita ao longo de meia década de construção política diuturna. Todo fim de semana a gente tinha de administrar uma crise que era produzida pelo ex-presidente. E o que aconteceu? Uma catarse, um ato terrorista, golpista”, concluiu o senador.
Rubens Pereria Jr. desmascara ultradireita
Ao perceber que perderia a votação, a extrema direita bolsonarista passou a repetir o discurso de que ela votava a favor de todos os requerimentos da base do governo, mas que a esquerda não votava a favor dos requerimentos da oposição.
O deputado Rubens Pereira Júnior só precisou de alguns minutos para destruir esse argumento. “A narrativa de que o governo quer rejeitar os requerimentos da oposição não procede”, disse o deputado, citando vários pedidos feitos pela oposição — alguns apresentados até por um dos filhos de Bolsonaro — que tiveram o apoio da base do governo.
“Agora, se eu entendo que a câmera interna do Itamaraty não deve ser vazada para a comissão, eu tenho direito de votar não. Dentro do Itamaraty teve alguma coisa? Não. As imagens internas das câmeras de segurança do Itamaraty são assunto, ao meu ver, de segurança nacional, não devem ser disponibilizadas mesmo. Plano de voo do presidente para Araraquara (SP) eu também sou contra disponibilizar”, prosseguiu Pereira Júnior.
Cartão de vacinação falso
Por fim, o deputado desmentiu o blablablá de que os bolsonaristas estavam apoiando os requerimentos do governo. “Não venham falar que vocês votaram tudo porque, na hora em que se falou de cartão de vacinação do Bolsonaro, a oposição apresentou logo um requerimento dizendo não”, apontou o parlamentar.
Sobre a importância de a CPMI ter acesso à investigação sobre a fraude no cartão de vacinação do ex-presidente, o deputado Rogério Correia (PT-MG), foi bem didático. “Foi a partir da análise da fraude é que apareceram, no celular do Mauro Cid, todos os diálogos que estão sendo chamados de ‘diálogos do golpe'”, esclareceu (veja vídeo abaixo).
Pereira Júnior apresentou outro motivo. “Tem uma tese de que, se foi uma tentativa de golpe de Estado, o presidente Bolsonaro disse ‘eu não posso estar no Brasil no dia, eu tenho que estar fora. E, se eu tenho que estar fora para poder viajar, porque eu vou ser ex-presidente, eu tenho que ter um cartão de vacinação’. Vamos investigar”, propôs.
Próximos passos
Ao fim da sessão, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), marcou a próxima reunião para a terça-feira (20) e anunciou que tentará promover um acordo para que os primeiros convocados já sejam ouvidos neste dia.
Veja os nomes cuja convocação foi aprovada pela CPMI:
Testemunhas (são obrigadas a comparecer e dar esclarecimentos):
– Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, é acusado de reduzir a segurança em Brasília e facilitar o ataque
– Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro que tramou o golpe com comparsas
– General Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice de Bolsonaro, orientou os golpistas a aguardar e a não se desmobilizar mesmo após as eleições
– Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI
– Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde e assessor de Braga Netto, flagrado em conversas golpistas com Mauro Cid
– Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do DF
– Jorge Naime, ex-comandante de Operações Polícia Militar do DF
– Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
– Robson Cândido, delegado-geral da Polícia Civil do DF
– George Washington de Oliveira Sousa, Alan Diego dos Santos e Wellington Macedo de Souza, suspeitos de tentarem explodir um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília
Convidado (pode aceitar ou não o convite)
– Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça e ex-interventor do Distrito Federal (DF)
Da Redação