O Brasil chegou a uma nova encruzilhada em sua luta contra a Covid-19. Ou dá um basta definitivo à sabotagem de Jair Bolsonaro ou viverá um cenário ainda mais destruidor que o observado até o momento. Nos últimos dias, crescem os alertas de que o país pode ser varrido por uma terceira onda da doença, o que poderá fazer com que, até o fim de agosto, o total de mortos pela pandemia chegue a pelo menos 750 mil, segundo projeção da Universidade de Washington, que trabalha com dados que consideram a subnotificação de casos (para a instituição de pesquisa, o país já ultrapassou a marca de 600 mil óbitos).
O alto risco de o Brasil viver a terceira onda devido à chegada do inverno vem sendo alertado por cientistas há algumas semanas. No começo do mês, o neurocientista Miguel Nicolelis, da Universidade de Duke, alertou em seu podcast semanal para o jornal El País: “Basta lembrar que foi no ano passado, no começo do inverno, que a explosão da pandemia se deu no Brasil”.
Outros cientistas têm feito o mesmo alerta. Em seu mais recente Boletim Epidemiológico, de 13 de maio, a Fiocruz ressalta que, apesar de o país apresentar agora uma ligeira redução nas taxas de mortalidade, a incidência de casos continua em um patamar alto, “o maior desde a introdução do vírus SarsCoV-2 no Brasil”.
Em entrevista ao jornal O Globo nesta terça-feira (18), o estatístico da Fiocruz Leonardo Bastos resume o conjunto de fatores que deixa o Brasil tão vulnerável a uma terceira onda: alto patamar de infecções e hospitalizações, número alto de cidadãos que não contraíram a doença (e, portanto, não produziram anticorpos contra a infecção), ritmo lento da vacina, redução no uso de máscaras e abertura acelerada nos estados que haviam intensificado medidas de distanciamento.
O ritmo da vacinação é preocupante. Também ao Globo, a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Ethel Maciel ressalta que a terceira onda pode ser freada com a aplicação de mais vacinas em menos tempo. “Temos que vacinar 1,5 milhão de pessoas ao dia, idealmente 2 milhões. E ter cautela na flexibilização das medidas de isolamento”, diz.
O problema é que, depois de sabotar a aquisição de vacinas de todas as formas, seja recusando ofertas de venda, seja atrapalhando a entrada do país no consórcio da Organização Mundial da Saúde, o governo Bolsonaro não tem conseguido vacinar a população no ritmo minimamente necessário.
Segundo painel da Universidade de Oxford, o Brasil conseguiu aplicar o máximo 1,1 milhão de doses num só dia, em 13 de abril. Depois, a quantidade caiu gradualmente, chegando a 429 mil doses em 12 de maio. Resultado: nem 10% da população está totalmente protegido até agora com as duas doses.
É preciso agir
A saída é fazer, mesmo que tardiamente, o que ainda é possível fazer. Continuar a vacinação e adotar o isolamento social de forma coordenada, em todo o país. Como ressaltou Nicolelis, no começo do mês: “Os dados do Reino Unido, por exemplo, mostram que a combinação de um lockdown nacional, rigoroso, com ajuda financeira para a população, aliado a uma campanha de vacinação agressiva, funciona”.
Porém, mesmo sendo, mais uma vez, alertado sobre o grande risco de gerar uma catástrofe em cima de outra já instalada, Jair Bolsonaro segue em sua estratégia de estimular que o vírus se espalhe. Além de promover aglomerações no fim de semana passado, chamou de “idiotas” as pessoas que se protegem ficando em casa.
Se permitir que o atual presidente continue a agir assim, o Brasil, nesta nova encruzilhada, escolherá o caminho de ainda mais mortes, ainda mais famílias destruídas, ainda mais sangue nas mãos de um governo que preferiu se dobrar “à saúde do mercado” do que proteger a vida de seus compatriotas.
Da Redação