Réu confesso, crime 8: 70 milhões de doses da Pfizer desprezadas

Em 2020, quando o mundo todo disputava a vacina contra a Covid-19, o governo Bolsonaro disse não às doses que lhe foram oferecidas. Só a estratégia de imunidade de rebanho explica tamanha sabotagem

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A verdade é que Bolsonaro nunca se preocupou em vacinar os brasileiros rapidamente

A CPI da Covid, instalada no Senado, começa esta semana a investigar mais a fundo um dos episódios mais tenebrosos ocorridos na gestão da pandemia de Covid-19 no Brasil: a recusa do governo de Jair Bolsonaro em adquirir milhões de doses de vacina que, hoje, já poderiam ter sido aplicadas nos brasileiros.

No documento em que lista os crimes do Executivo na gestão da pandemia e que deu origem a esta série Réu confesso, a Casa Civil da Presidência da República anotou, no item 22, o fato mais escandaloso relacionado ao tema: “O Governo Federal recusou 70 milhões de doses da vacina da Pfizer”.

Sim, foi exatamente o que aconteceu, conforme a empresa farmacêutica revelou após o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello mentir em uma entrevista coletiva. Em 8 de janeiro deste ano, quando ainda estava no governo, Pazuello afirmou que havia sido procurado pela Pfizer dois meses antes, ou seja, em novembro de 2020, para negociar vacinas.

O fato de ter sido a farmacêutica a tomar a iniciativa e não o ministério já seria escandaloso. Porém, a história era ainda pior. “Vale reforçar que a Pfizer encaminhou três propostas para o governo brasileiro, para uma possível aquisição de 70 milhões de doses de sua vacina, sendo que a primeira proposta foi encaminhada pela companhia em 15 de agosto de 2020 e considerava um quantitativo para entrega a partir de dezembro de 2020”, contou a empresa em nota.

Dois meses depois, em março, a Folha de S. Paulo teve acesso aos e-mails enviados pela Pfizer, comprovando que a farmacêutica fez a primeira oferta em 14 de agosto de 2020. A proposta previa 500 mil doses ainda em dezembro de 2020. Quatro dias depois, a oferta inicial foi elevada para 1,5 milhão de doses ainda em 2020, com possibilidade de mais 1,5 milhão até fevereiro de 2021 e o restante nos meses seguintes. “Sem aprovação do governo, uma nova proposta foi apresentada em 11 de novembro”, informou o jornal. O governo só foi fechar acordo com a empresa em fevereiro deste ano, com as primeiras doses chegando em abril.

Depois de ser pego na mentira, Pazuello admitiu a recusa das doses e deu uma justificativa estapafúrdia: disse que a entrega inicial geraria “frustração” nos brasileiros, pois uma parcela pequena da população seria vacinada. Porém, em janeiro de 2020, o governo federal importou 2 milhões de doses da fórmula da Oxford/AstraZeneca para mostrar serviço. Ou seja, 1,5 milhão em dezembro era pouco, mas 2 milhões em janeiro era uma maravilha…

Recusas constantes

Para piorar, ainda mais, o quadro, soube-se, duas semanas atrás, que recusar a oferta de compra de vacinas foi uma constante do governo Bolsonaro. Foram pelos menos 11 as propostas ignoradas pelo Executivo. Além das três propostas da Pfizer, foram seis do Instituto Butantan, que produz a Coronavac, e duas do Consórcio Covax Facility, da OMS, segundo o G1. Como no caso da Pfizer, acordos só foram fechados este ano, após as recusas iniciais e muita pressão por parte de toda a sociedade.

A sabotagem do governo Bolsonaro à vacina só tem explicação quando se entende que a aposta de Jair Bolsonaro para combater a pandemia foi apostar na imunidade de rebanho por meio da infecção de 60% ou 70% da população, mesmo sabendo que a estratégia mataria centenas de milhares de brasileiros, como acabou acontecendo.

Como Bolsonaro queria que o vírus se espalhasse, não se preocupou em garantir, o mais rapidamente possível, vacina para a população. Por isso, também, deu mau exemplo, circulando sem máscara e provocando aglomerações, e tentou convencer as pessoas de que a cloroquina combatia a Covid-19. Por isso é um criminoso, que deve pagar pelas milhares de mortes evitáveis que causou.

Da Redação

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