A cena em que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva é saudado como “o cara” por Barack Obama, presidente americano à época, virou lenda. Mas é real. Foi durante o encontro das 20 maiores economias do mundo, o G20, em abril de 2009. “Esse é o cara, eu adoro esse cara”, afirmou Obama. “Ele é o político mais popular da Terra.”
Dez anos depois, a situação do Brasil frente aos países do G20 mudou. E muito. Jair Bolsonaro (PSL) participará pela primeira vez do encontro que este ano ocorre em Osaka (Japão), na sexta-feira (28) e sábado (29). A viagem de Bolsonaro ao Japão teve alterada a escala para Lisboa, em não a prevista, em Sevilha – onde o chamado “avião reserva” da Força Aérea Brasileira levava um militar preso em flagrante com 39 quilos de cocaína. A decisão por uma escala diferente não foi explicada.
O brasileiro tem poucos resultados a apresentar. Falará sobre a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência, livre mercado e combate à corrupção, diante de uma economia cada vez mais fraca. A estimativa de crescimento de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) do país, quando tomou posse, já caiu para menos de 1%, e não para de descer. Em 2009, abatido pela crise global de 2008, o PIB brasileiro teve queda de 0,2% – depois de crescer em média 4,7% nos três anos anteriores e alcançar alta de 7,5% no ano seguinte.
Situação dramática
Um documento publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na terça-feira (25), com análises sobre o impacto das mudanças climáticas na faixa mais pobre da população mundial, traz duras críticas ao presidente brasileiro. O texto lista uma série de líderes mundiais que são, nas palavras do relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos da ONU, Philip Alston, “um fracasso”. Bolsonaro é o primeiro entre os fracassados.
A política do governo Bolsonaro para o ambiente é alvo de críticas constantes entre os países europeus. Em carta publicada na revista Science, em abril, mais de 600 cientistas da Europa e 300 indígenas reivindicam que a União Europeia vincule importações do Brasil à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos.
O eurodeputado alemão Martin Häusling, do Partido Verde, disse em entrevista ao jornal Deutsche Welle que o presidente brasileiro não compartilha os mesmos valores democráticos da União Europeia e que por isso não haveria base para negociar um acordo com o Mercosul daquele bloco com o Mercosul.
Angela Merkel
Em sessão no Parlamento alemão, em Berlim, nesta quarta-feira (26), a chanceler Angela Merkel descreveu como dramática a situação do Brasil sob o governo Jair Bolsonaro. Merkel foi questionada pela deputada do Partido Verde Anja Hajduk, sobre se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, no momento em que ambientalistas, cientistas e defensores dos direitos humanos denunciam o desrespeito a essas frentes no Brasil.
“Vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo governo brasileiro”, disse Merkel, afirmando que a reunião do G20 será uma oportunidade para tratar do assunto. “Porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil.”
A comandante da maior economia da Europa, no entanto, diz que a hipótese de a União Europeia não levar adiante um acordo com o Mercosul – lembrando que outros países estão envolvidos – não fará com que um hectare a menos de floresta seja derrubado no Brasil. “Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para o que acontece no Brasil não aconteça mais.”
Merkel mencionou o Brasil em resposta ao questionamento da deputada do Partido Verde Anja Hajduk. A parlamentar também colocou em questão se o governo alemão deveria seguir investindo nas negociações entre os blocos europeu e sul-americano.
O noticiário alemão sobre o Brasil tem uma ampla cobertura negativa, como se pode ver aqui.