Janaína Oliveira tem evitado demonstrar pessimismo diante de tantos retrocessos impostos por Jair Bolsonaro ao povo LGBT do país desde o seu primeiro dia de governo. A tarefa, no entanto, não tem sido das mais fáceis. “As besteiras que o governo fez em pouco mais de quatro meses a gente esperava que aconteceria em quatro anos. Daria para escrever um livro sobre tantos retrocessos em tão pouco tempo”, lamenta a secretária Nacional LGBT do PT.
A disposição para o enfrentamento, no entanto, ainda é maior do que as queixas e deve desencadear uma nova onda de atos e manifestações neste Dia Internacional de Combate à LGBTfobia – foi em 17 de maio , há 27 anos, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID).
“Temos iniciativas agendadas em várias partes do país e gostaríamos de convidar a todos e a todas para que se somem nesta luta ao enfrentamento contra a violência. O verdadeiro cidadão de bem é aquele que deseja uma sociedade mais justa, que não defende a violência, que não propaga o discurso de ódio”, avalia Janaína.
A exemplo do que ocorreu dois dias antes, com o histórico levante de estudantes, professores e servidores da educação que tomaram as ruas e balançaram as estruturas do governo, as pautas LGBT também devem englobar diversas outras áreas de interesse popular, já que, segundo Janaína, os retrocessos “estão todos interligados”. “Não tem como fazer um recorte sobre as políticas LGBT sem incluir as mulheres, a população negra, porque nós estamos inseridos em todos estes demais temas. Temos um conjunto de fatores que atinge o dia a dia de grande parte da população”, ilustra.
Balanço negativo
Quando Janaína fala de retrocessos a toque de caixa impostos desde o primeiro dia de 2019 não é algo meramente figurativo. É literal. “Logo no discurso de posse como presidente. Jair Bolsonaro fez questão de enfatizar que a sua principal proposta de governo seria o enfrentamento à ideologia de gênero e dizendo que o politicamente correto deixaria de existir. Desde então, não parou mais de atacar as minorias”.
A secretária lista em seguida uma série de decisões tomadas, como desmonte do Conselho Nacional LGBT, a retirada da população LGBT da política de Direitos Humanos, a decisão do Ministério da Educação de acabar com a discussão de diversidade, identidade de gênero e orientação sexual em salas de aula, entre outros.
“Ele vai criando narrativas para construir no imaginário brasileiro que ele está fazendo o enfrentamento no campo da moralidade. Como ele não dá conta de oferecer respostas ao momento crítico em que estamos vivendo ele busca os instrumentos da moralidade para desviar o foco. Eles não têm políticas concretas para o país”, aponta.
Soma-se a isso, o mundialmente criticado discurso de ódio do presidente das fake news, que já causa impactos negativos não só ao público LGBT, como às mulheres vítimas de violência e feminicídio e todos os “eleitos inimigos da nação” pela ultra direita e pelo próprio presidente.
Mas Janaína não baixa a guarda e avisa: “Nós vamos resistir. Fazemos parte da sociedade brasileira. Continuaremos reivindicando os nossos direitos. Enquanto houver discurso de ódio, enquanto eles defenderem a arma como instrumento de defesa nós usaremos a palavra e o discurso para nos defendermos. Não adianta ameaçar. Se matar uma hoje, amanhã tem mais 10 na luta”.
Da Redação da Agência PT de Notícias