Há, no imaginário coletivo, uma fascinação perene pelas estradas. Dos grandes fluxos migratórios que moldaram e redefiniram povos e nações ao anseio individual pela busca de conhecimento, viajar é condição indissociável da natureza humana. Não por acaso “cair na estrada”, seja lá a razão ou a distância, é sempre uma lição de vida – mesmo que reserve em cada caminho uma série de surpresas e imprevistos.
Diante de tantas incertezas, sucumbir ao acaso ou ao cansaço seria condição aceitável aos que se dispõem a sair em busca do desconhecido. Não para os que fazem parte da Caravana Semiárido contra a Fome, que nesta quarta-feira (1º de agosto) chegou a Curitiba, no Paraná, depois de passar por Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
É comovente e motivador ver a força e a coragem de cada um dos que deixaram suas casas, suas famílias e a segurança de suas rotinas para percorrer milhares de quilômetros com a missão de denunciar a iminência da pobreza extrema, a retirada de direitos promovida por um governo ilegítimo e a prisão política de Lula – homem do povo, que fez da estrada a sua escola para conhecer como nenhum outro líder popular os cantos mais esquecidos do próprio país.
Mesmo que indiretamente, a trajetória do ex-presidente acaba por ser o espelho do que se propõe a caravana. Basta lembrar de como Lula sempre fez questão de quebrar todas as fronteiras, reais ou metafóricas, para ter a certeza que esta iniciativa popular, formada por gente de todos os lugares do país, já nasceu vitoriosa.
Na capital paranaense, a caravana fará parada estratégica: sua centena de integrantes se juntará nesta quinta (2) aos militantes que há mais de 100 dias seguem em resistência pela liberdade do ex-presidente antes de cair novamente na estrada. Com a benção do homem que fez do verbo viajar uma lição de vida, a caravana será um alento aos que cogitaram desistir pelo meio do caminho.
Quando o poeta português Fernando Pessoa escreveu que “navegar é preciso” se referia à precisão matemática com a qual se orientam os navegadores. Na estrada, tal certeza se dissipa a cada passo percorrido. Mesmo assim, viajamos. Porque parados, jamais levaremos o Brasil adiante.
Sobre a caravana
O Brasil deixou o Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) apenas em 2014, mas com as políticas nefastas de Temer, já corre o risco de retornar para esse inglório patamar.
Diante desse cenário, organizações, redes e movimentos sociais do campo popular e democrático do Semiárido vão cruzar o país para chamar a atenção da sociedade e dos agentes públicos do Estado sobre os riscos da volta da fome e ao mesmo anunciar os avanços e conquistas que milhares de famílias tiveram a partir do acesso à água, ao crédito, a assistência técnica nos últimos anos.
O projeto está percorrendo mais de 4.300 quilômetros do sertão de Pernambuco até a capital federal. O comboio começou no dia 27 de julho, em Caetés (PE), com paradas estratégicas em Feira de Santana (BA), Guararema (SP), Curitiba (PR) até o destino final Brasília (DF), no dia 07 de agosto, onde a caravana pretende denunciar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a situação de fome que atinge o país.
Por Henrique Nunes, enviado especial à Caravana do Semiárido contra a Fome, para a Agência PT de notícias