Diário de Bordo: Caravana movida a esperança

Nutrida de confiança no futuro, a Caravana do Semiárido contra a Fome está na estrada denunciando a volta da miséria no país pós-golpe

A equipe da Agência PT está acompanhando a Caravana Semiárido Contra a Fome. E publica aqui um diário de bordo com crônicas e históricas encontradas ao longo do trajeto.

Diário de Bordo da Caravana do Semiárido Contra a Fome – 30/07

Ruth, 21 anos, do Recife. Luiz Carlos, 29, de Canudos. Marinise, 42, de Pindobaçu. Maria Geralda, 59, de Felisburgo. Helena, 36, de Fortaleza. Pernambucanos. Baianos. Mineiros. Cearenses. Acima de tudo, brasileiros. Vidas desencontradas pelo tempo, desassistidas pela seca, pela fome, pelo descaso. Vidas que poderiam estar inertes, inoperantes, inexistentes, mas que renasceram quando um tal de Luiz lá de Caetés, gente como eles, decidiu juntar a fome com a vontade de vencer. E venceu.

E com ele, todos venceram. Mas a fome, que agora ronda outras vidas, também machuca o estômago da Ruth, do Luiz Carlos, da Marinise, da Maria Geralda e da Helena. Dói tanto, mas tanto, que cada um deles resolveu sair de casa para lutar por milhões de outros brasileiros que sequer conhecem e talvez jamais venham a conhecer.

Mas eles seguem na luta mesmo assim. Agora juntos, percorrendo o Brasil com a Caravana do Semiárido contra a Fome.
Na estrada denunciam a volta da miséria no país pós-golpe e se alimentam de esperança. Veem nos olhos dos famintos, no choro dos desamparados e no suor dos carentes e desabrigados as suas próprias vidas. Por isso não desistem. Não deixam ninguém desistir. E o que se vê são tantos outros Josés, Joões, Ruths e Marias dispostos a lutar contra a fome. Contra o golpe. Contra a injustiça.

Lutam, ainda, por aquele Luiz que um dia também passou fome, mas que dedicou a própria vida para encher o prato de todos eles de comida. E por um desses desvios de percurso que a história jamais perdoará, agora é ele que precisa de ajuda. Agora é ele que precisa de cada um deles. De cada um de nós. A jornada seguirá pelos próximos dias ou até que a vida volte a brotar como nunca antes na história deste país. Todos sabem que a luta vai ser longa. Mas enquanto os golpistas ladram a caravana passa e deixa o seu recado. Pelo Luiz. Pelo Brasil. Por todos nós.

Sobre a caravana

O Brasil deixou o Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) apenas em 2014, mas com as políticas nefastas de Temer, já corre o risco de retornar para esse inglório patamar.

Diante desse cenário, organizações, redes e movimentos sociais do campo popular e democrático do Semiárido vão cruzar o país para chamar a atenção da sociedade e dos agentes públicos do Estado sobre os riscos da volta da fome e ao mesmo anunciar os avanços e conquistas que milhares de famílias tiveram a partir do acesso à água, ao crédito, a assistência técnica nos últimos anos.

O projeto está percorrendo mais de 4.300 quilômetros do sertão de Pernambuco até a capital federal. O comboio começou no dia 27 de julho, em Caetés (PE), com paradas estratégicas em Feira de Santana (BA), Guararema (SP), Curitiba (PR) até o destino final Brasília (DF), no dia 07 de agosto, onde a caravana pretende denunciar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a situação de fome que atinge o país.

Por Henrique Nunes, enviado especial à Caravana do Semiárido contra a Fome, para a Agência PT de notícias

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