É difícil calcular o tamanho do retrocesso provocado pelo governo Michel Temer em seu breve período como presidente ilegítimo do Brasil. É certo que o ponto mais baixo dessa escalada antidemocrática foi o golpe contra Dilma Rousseff, que terminou sendo deposta por um Congresso Nacional achacador, em sintonia com a mídia, setores do Judiciário e do grande capital.
Um ano após a saída de Dilma, ainda não se sabe qual foi o crime de responsabilidade que justificou o impeachment. O que nos resta de certeza é que toda a farsa encenada por Eduardo Cunha, Temer e o PSDB de Aécio Neves serviu apenas para desmontar o Estado brasileiro edificado pela Constituição de 1988 e efetivado por Lula, que em menos de uma década tirou mais de 40 milhões de pessoas da pobreza.
Temer e seus sócios conseguiram a proeza de trazer a fome de volta a milhões de brasileiros, uma posição incômoda e vexatória se levarmos em conta o tamanho de nossa economia e produção agrícola que temos. Nesse “novo” país, os brasileiros mais pobres também já perderam empregos, direitos trabalhistas, crédito estudantil, investimentos em saúde e educação, e ainda viram a suspensão da construção de moradias e de obras de infraestrutura.
O próximo passo do consórcio golpista é acabar com a aposentadoria da maioria do povo brasileiro, preservando as mordomias da alta burocracia do serviço público que recebe acima do teto e mais cedo.
O presidente Lula tem insistido que só vamos nos recuperar dessa crise quando colocarmos novamente o pobre no orçamento do país. Porém, a dobradinha formada por PMDB e PSDB age justamente no sentido contrário.
Amparados por forte apoio empresarial e a blindagem de sempre da mídia, enterram as esperanças de milhões de brasileiros sob a justificativa de que precisamos fazer sacrifícios para cumprir a meta fiscal. Só não explicam com clareza por que os mais pobres têm que pagar a conta.
Somente na semana passada, mais de 500 mil famílias deixaram o Bolsa Família – em um ano, os cortes já atingem 1,2 milhão de famílias. Essa medida é extremamente covarde, atinge um programa que se transformou em referência mundial no combate à miséria, num momento em que o desemprego não para de crescer, deixando cada vez mais gente dependente do Estado.
Nesse cenário, também causa espanto a redução do Programa Farmácia Popular, que atendia 9 milhões de brasileiros. Surpreendentemente, a economia gerada pelos cortes a esses programas é estimada em R$ 200 milhões por ano, dinheiro de troco perto dos R$ 14 bilhões dados ao Congresso Nacional para livrar Temer da cassação por corrupção passiva.
Seja lá qual for a bandeira ideológica que se defenda, é difícil admitir que pessoas passem fome novamente no Brasil, em pleno século XXI. Vivemos uma era marcada pelo conhecimento e pela informação, com nível de riqueza incomparável a qualquer outro período da história.
Nesses tempos difíceis e nebulosos, não podemos fechar os olhos diante do desmonte do Estado promovido pelo governo Temer, que atinge os mais vulneráveis do povo brasileiro. Não podemos abrir mão da solidariedade e da compaixão, da justiça social e da fraternidade. Isso é o mínimo de humanismo que nos resta!
*Artigo publicado inicialmente no Blog do Esmael
Gleisi Hoffmann é senadora e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores