Na campanha municipal passada, o prefeito Fernando Haddad se comprometeu a promover um “tempo novo” para São Paulo. A promessa saiu do papel, e hoje a metrópole tem mais acesso à saúde e à educação, um trânsito melhor, as contas em dia, um modelo de combate à corrupção inovador e mais um conjunto de políticas públicas de vanguarda que tornaram a administração petista em São Paulo uma referência internacional.
Mais: ao longo de 3 anos e meio de governo, Haddad arrumou as contas públicas da Prefeitura – um feito inédito – e, com isto, garantiu recorde de investimentos em todos os setores, principalmente para a periferia. Ainda que o país estivesse em recessão econômica. “Batemos recorde de investimento na cidade em todas as áreas. Batemos recorde de investimentos no transporte, na educação, em saúde, na habitação”, afirma Haddad em entrevista exclusiva à Agência PT. A seguir, a entrevista:
Quais são os benefícios, na prática, do saneamento que o sr. conseguiu promover nas contas públicas da Prefeitura de São Paulo?
Numa metrópole deste tamanho, este é um pressuposto essencial para garantir as futuras gerações. São Paulo estava com as finanças totalmente desorganizadas, com uma dívida impagável até 2030. E, pior do que isto: em 2015, vencia o prazo do ajuste das contas públicas, e a São Paulo não tinha feito a lição de casa.
Então, nós conseguimos um pequeno feito: convencer o Congresso a não apenas trocar o indexador da dívida para frente, mas recalcular com este novo indexador da data da assinatura até a data de renegociação. Isto fez com que a nossa dívida, em termos absolutos, caísse de 70 bilhões para 30 – um valor valor absolutamente administrável até 2030, que é o prazo de pagamento.
Nós equacionamos as finanças da cidade no pior momento econômico que o Brasil já viveu. Isto nos permitiu, mesmo com a recessão, bater recorde de investimento na cidade em todas as áreas. Batemos recorde de investimentos no transporte, na educação, em saúde, na habitação, e por aí vai.
Se o senhor pudesse destacar algumas das ações mais significativas de seu mandato para a periferia, quais seriam?
Mais de 80% dos 17 bilhões em investimentos foram para a periferia. Basicamente em moradia, corredores de ônibus, creches, CEUs, escolas, hospitais gerais e hospitais-Dia, UPAs e UBS.
São obras simultâneas, e algumas já entregues. São 3 hospitais gerais. Estamos falando de 38 Hospitais-Dia, 25 já em funcionamento, 15 UPAs, 16 UBS, 15 CEUs, tudo acontecendo simultaneamente.
Fizemos 41 obras viárias, todas praticamente na periferia. Na zona leste, avenida Nordestina, Riacho dos Machados, Inácio Monteiro. Zona norte: Inajar de Souza, Estrada de Taipas. Zona sul, um caminhão de obras, Belmira Marin, Estrada do Alvarenga, M’ Boi Mirim, Itapaiuna, Binário Santo Amaro, Berrini…
Mobilidade urbana é um dos principais temas em São Paulo. Os ganhos foram significativos?
Ninguém que anda de ônibus nega os avanços. Todo mundo que pega ônibus sabe o que ganhou de tempo. Não tem um trabalhador que pegue ônibus e não tenha ganhado tempo nos últimos 4 anos. Alguns ganharam muito, mas todos ganharam alguma coisa no trânsito de São Paulo, mesmo o carro.
Saímos da 7ª colocação de pior trânsito do mundo para a 58ª em dois anos, com medidas que tomamos para melhorar a mobilidade na cidade. Reforma semafórica, plano de redução de alagamento intransitável, 41 obras viárias. Tudo isto foi feito em um prazo recorde e com benefícios imediatos para a cidade.
Uma vez o senhor afirmou que o programa LED nos Bairros significa levar cidadania aos bairros. Como assim?
O LED transforma noite em dia, quem conhece sabe. Nós começamos a fazer pela periferia e, até 2019, vamos fazer na cidade inteira. Começamos pela periferia porque é onde o povo acorda mais cedo – e, portanto, depende mais da iluminação pública.
Então, hoje você tem Jardim Ângela, Heliópolis, Sapopemba, Guaianases, Cidade Tiradentes, Jardim Helena, Brasilândia. Você tem estes bairros 100% com LED. Vamos trazer das franjas para o centro expandido, justamente no movimento de onde o povo acorda mais cedo para onde o povo acorda mais tarde, que é da periferia para o centro.
Isto muda completamente a qualidade de vida na cidade. Sobretudo a segurança. As pessoas vão poder usufruir da cidade à noite. E onde tem LED elas saem porque sentem que o bairro está mais seguro.
Quais os principais desafios para se construir um modelo em combate à corrupção e promoção da transparência?
A criação da Controladoria Geral do Município (CGM) teve grande resistência da oposição. Por incrível que pareça, a oposição fala tanto em ética mas lutou para que nós não criássemos a Controladoria. Só que criamos, e isto significou um ganho extraordinário na gestão pública.
Para você ter uma ideia do que estamos falando, já entrou no caixa da Prefeitura 278 milhões em recursos desviados de administrações anteriores. E temos 330 milhões de reais em bens bloqueados de servidores que já foram inclusive demitidos e que vão passar para o município. São 608 milhões de reais. É muito dinheiro, dá para construir 4 hospitais.
A cultura da transparência está conseguindo ser implementada em toda Prefeitura?
Cem por cento dos nossos compromissos firmados com a transparência internacional estão sendo cumpridos. O último deles é impressionante: abrimos todo o cadastro imobiliário da cidade em meio digital e acessível. Os contratos todos estão em meio digital e acessível. Os salários estão em meio digital e acessível. Não existe informação hoje da Prefeitura de São Paulo que não esteja em meio digital acessível para todas as pessoas.
Uma das marcas de seu mandato foram as políticas para minorias. Em que medida estas iniciativas transformam São Paulo?
Não tem minoria política que não tenha sido contemplada em alguma ação forte da Prefeitura. Mulheres: criação da Secretaria, Guardiã Maria da Penha, paridade de gênero nos conselhos, foi uma política bastante efetiva. Seis secretárias mulheres, fora as secretárias-adjuntas, chefes de gabinete, subprefeitas. Temos seis secretárias no primeiro escalão, temos quatro negros no primeiro escalão.
A criação da igualdade racial, a criação das cotas, a produção de material didático com história da África para as nossas crianças, o combate ao preconceito contra religiões de matriz africana. Tudo isso nós estamos trabalhando. O apoio à cultura periférica, aos vários gêneros musicais. A descriminalização de uma parte da juventude que, em função do gosto, acabava sendo criminalizada.
O idoso, ganhou as primeiras creches, as primeiras seis creches inauguradas para idosos, os centros-dia. A questão do centro de referência do imigrante. A população LGBT, que ganhou os centros de referência LGBT, de combate à violência e ao preconceito. O Transcidadania, que é um programa que repercutiu internacionalmente.
Tem ainda o De Braços Abertos, que é uma política de redução de danos para a população em situação de rua e usuária de crack… Enfim, nós procuramos atuar em todas as frentes, e com políticas efetivas. Tem histórias para contar.
Seus adversários dizem que privatizarão parques e outros espaços públicos. Como o sr. avalia essas propostas?
Essa visão privatista da cidade é até bom que surja, para que as pessoas comparem a visão de cidade que se tem. Nós abrimos o Clube Tietê para a população, abrimos o Centro de Esportes Radicais, desapropriamos a chácara do Jockey, estamos entrando agora com a desapropriação da chácara da Fonte, compramos o parque dos esportes náuticos lá no fundo do M’Boi Mirim, que também já está selado o acordo, vamos abrir em setembro.
Tudo isso é política pública de abertura de espaços públicos. O artista de rua ganhou visibilidade, a comida de rua ganhou visibilidade, os parklets ganharam visibilidade, as ruas abertas ganharam visibilidade.
Então, é uma política de ocupação do espaço público e cidadania. Mas tem gente que está propondo privatizar ciclovia, privatizar corredor de ônibus, privatizar parque, vender Interlagos, vender Pacaembu. Ou seja, uma política antagônica à que está sendo feita, que é de ampliar os espaços comunitários na cidade.
A oposição se esforça para dizer que o sr. não terá um segundo mandato. O que o senhor pensa desta situação?
Em 2012 eles já procuravam fazer esse tipo de bastidor. Diziam que nunca na história do PT um candidato foi para o segundo turno, que o Serra era imbatível na cidade de São Paulo, que ele tinha ganhado a eleição da Dilma em 2010, que o Alckmin tinha ganhado a eleição na cidade de São Paulo em 2006, e que portanto eles eram uma força insuperável. Faz parte da contrainformação, e eles jogam muito hoje com boataria. Eles usam muito as redes sociais com boataria. Mas a gente nunca ligou para boataria, não é agora que vamos começar.
Em 2016, qual deve ser o papel da mídias alternativas – blogs, rádios comunitárias e jornalistas independentes – na política?
Nunca ficou tão clara a necessidade de democratização dos meios de comunicação. Efetivamente, hoje, a agenda política do país está nas mãos de cinco pessoas. Cinco pessoas dizem de manhã o que vai ser discutido durante o dia. O que não está na cabeça dessas pessoas, não está no mundo. Então, isso é a anulação da política, a anulação da cidadania.
Não é o cidadão que pauta a política, mas sim meia dúzia de famílias. Isso tem sido objeto até de consideração por parte de um dos maiores jornalistas do mundo, que é o Glenn Greenwald, que tem feito um trabalho de cobertura da imprensa. É um olhar de fora, que é um olhar mais imparcial, sobre o que se passa no Brasil no que diz respeito aos meios de comunicação.
Ao começar o mandato, o senhor apresentava propostas para construir uma nova cidade. Quais desafios encontrou para implementar um novo conceito de política?
É essa escalada obscurantista, que você tenta trazer de mais moderno para a cidade e, de imediato, recebe uma negativa por parte dessa onda obscurantista. Então, nós estamos adotando práticas que são consagradas nas grandes metrópoles.
Se você pegar as políticas de São Paulo, são políticas que ou são forjadas aqui e ganharam visibilidade, ou ganharam visibilidade fora e estão trazidas para cá. Nosso Plano Diretor ganhou destaque internacional, os programas sociais nossos são conhecidos no mundo inteiro, o programa de mobilidade da cidade está sendo respeitado no mundo inteiro. E você encontra muita resistência aqui para discutir esses assuntos.
O mais eloquente deles é essa questão da redução de velocidade, que é uma diretriz da Organização Mundial da Saúde, com resultados incríveis. Nove mil feridos a menos. Hoje você não vê mais os corpos dos motoboys estendidos no asfalto como se via três anos atrás. Isso mudou. A impressão que dá é que uma parte da população não é gente. Como é que pode isso? Às vezes, são pessoas que sustentam uma família. Quando não vão para o cemitério, vão para uma cadeira de rodas. Como é que faz? Os custos sociais, os custos emocionais dessas perdas. Quem é que repara isso?
E o trânsito melhorou, segundo todos os indicadores. E não melhorou no Brasil, por causa da crise. Não melhorou em nenhum lugar. Melhorou em São Paulo em função de políticas públicas recomendadas internacionalmente.
Mas qual é o sentido em reduzir a velocidade para melhorar o trânsito?
Quando você reduz a velocidade máxima, aumenta a velocidade média. Isso também está registrado por uma ampla literatura e comprovada empiricamente. Ao diminuir os espaços entre os carros, o fluxo melhora. Por isso e pela redução de acidentes. Então, são dois efeitos simultâneos benéficos sobre a fluidez. Mas enfim, isso tudo vai sendo absorvido lentamente. Mas vai.
Por que o povo de São Paulo deve garantir ao senhor um novo mandato?
Porque São Paulo está planejada até 2030. Nós fizemos um planejamento de médio a longo prazo para a cidade. Os serviços públicos estão melhorando, os tempos estão melhorando, o tempo de deslocamento está melhorando. O tempo para esperar uma consulta, uma cirurgia, está melhorando. O tempo para esperar uma vaga em creche. O tempo está melhorando. Você libera energia para produção, criação, para inovação, não consome o tempo das pessoas dessa maneira cruel que é ficar esperando atendimento. A cidade está fluindo. Os serviços públicos estão melhorando.
E ainda há coisas para fazer…
Tem toda uma consolidação. Você não muda uma cidade em quatro anos. Eu sei a diferença de 4 para 8 porque eu fiquei 8 no MEC, o Ministério da Educação. Na verdade, os primeiros 4 têm um gasto de energia no próprio planejamento, na organização da máquina, que você não tem na segunda metade.
Veja o legado que nós deixamos na educação. Escolas técnicas, universidades, Prouni, Fies, ENEM, Fundeb, piso nacional da categoria, transporte escolar, informatização das escolas, conectividade. Tudo isso aí foi feito, mas teve tempo para fazer. Quando você tem um tempo muito exíguo, é mais difícil.
Veja o vídeo da entrevista aqui:
Por Daniella Cambaúva da Agência PT de Notícias