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Mesmo com inflação em queda, Brasil lidera ranking mundial de juros reais

Com inflação abaixo de 6%, país mantém taxa de juros real em 8,16%, muito à frente das nações em segundo e terceiro lugar no ranking, o México (5,39%) e o Chile (4,66%)

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Com Guedes e Neto, atividade econômica foi para o abismo. Imagem: Site do PT

Enquanto a inflação brasileira apresenta uma trajetória de queda, abaixo dos 6%, o país ocupa a absurda posição de liderança entre os indicadores de juros reais do planeta, contrariando as práticas das mais diversas economias, da Europa aos EUA, passando por países vizinhos. A taxa de juros real está em 8,16%, muito à frente das nações em segundo e terceiro lugar no ranking, o México (5,39%) e o Chile (4,66%).

A taxa de juros real é a diferença entre a taxa de juros nominal e a inflação. Quando se considera a taxa de juros nominal, o Brasil só perde para a Argentina, que tem um índice de 75%, ante os 13,75% mantidos pelo Banco Central, chefiado pelo bolsonarista Roberto Campos Neto. A diferença é que a hiperinflação do país vizinho anula a taxa real de juros. Com isso, o Brasil consegue ficar à frente de países com taxas consideradas exorbitantes por economistas, a exemplo de Hungria (13%), Colômbia (12,75%), Chile (11,25%) e México (10,5%).

Veja o gráfico com os dez países com as maiores taxas de juros reais: (Fonte: Infinity Asset Management)

Nos EUA, onde economistas atualmente debatem uma redução da taxa nominal, hoje em torno de 4,75%, a taxa de juros real é negativa. O que explica, então, um país com inflação em queda manter uma taxa tão estratosférica como a do Brasil, estrangulando o crescimento e a geração de empregos?

“O Banco Central independente contribui para manter aceso o rentismo e apagado o crescimento econômico”, criticou o economista, professor e presidente do Instituto Lula, Márcio Pochmann, pelo Twitter. Avaliação semelhante à do economista e ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira. Para ele, o “financeiro-rentismo quer juros altos, Estado menor, e pagar ainda menos impostos”.

Disparada nos juros

A análise dos economistas nos remete ao início do governo Bolsonaro, em 2919. Naquela época, a taxa de juros nominal estava em 6,5%. Depois, caiu para 4,5% em dezembro e, no ano seguinte, chegou a 2%.

Curiosamente, mas não sem propósito, após sancionada a Lei da Independência do Banco Central, em janeiro de 2021, conferindo um mandato a Campos Neto não coincidente com o do presidente da República, a taxa de juros sofreu uma disparada fenomenal. A partir de março de 2021, portanto, em menos de um ano e meio de “autonomia” para Campos Neto, a taxa de juros explodiu em inacreditáveis 11,75% pontos.

A decisão de Campos Neto foi prontamente acordada com o Ministério da Economia de Paulo Guedes, o verdadeiro chefão dos interesses do capital financeiro no governo. À época, Guedes justificou que a alta da Selic serviria para segurar a inflação.

Com Guedes e Neto, atividade econômica foi para o abismo

O plano fez água: em maio de 2022, quando a taxa Selic já alcançava os 12,75%, a hiperinflação de Guedes de 12,3% castigava os brasileiros e colocava o Brasil na esquizofrênica posição de liderar o ranking dos países com as maiores taxas de juros e inflação no mundo.

Assim, a Selic alta fez o juro bancário bater um recorde em seis anos, empurrando o país para um ciclo  vicioso e infernal: o crédito mais caro esmagou o consumo e derrubou os investimentos que, por sua vez, levaram a atividade econômica para o abismo.

Em sua desastrosa passagem pelo BC, Campos Neto, afinal, mostrou a que veio: se de um lado, os juros abusivos praticados por ele resultaram em lucros extraordinários para os agentes especuladores do mercado financeiro, de outro, produziu um quadro de asfixia na renda do trabalhador, com um insuportável endividamento para as famílias e pequenas e micro empresas.

O resultado não poderia ser outro: em dezembro de 2022, 80% das famílias estavam endividadas e 30% tinham contas em atraso, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

“A redução da taxa de juros é fundamental para estimular a economia, facilitando a retomada de investimentos e, por conseguinte, criando emprego”, declarou o senador Paulo Paim (PT-RS). “Precisamos também avançar na política de valorização do salário mínimo, inflação mais PIB, gerando renda e empregos”.

Falta a Campos Neto aceitar o resultado das urnas e entender que o desenvolvimento do país foi o projeto escolhido pelo eleitor, não a farra de lucros da Faria Lima.

Da Redação