Enquanto reserva R$ 1,8 bilhão no Orçamento da União de 2021 para a farra do rentismo com títulos da dívida pública, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, afronta a multidão de desempregados e desvalidos do país tentando barganhar algum reajuste no valor do auxílio emergencial, em troca da entrega de estatais à ganância do mercado.
A proposta foi feita nesta quinta (25), em reunião da Comissão Temporária Covid-19 (CTCOVID19) do Senado. Sem demonstrar vergonha, Guedes propôs acelerar a venda de empresas estatais e ativos imobiliários da União para alimentar um fundo destinado a “pagar a dívida pública” e a aumentar o valor de benefícios como o auxílio emergencial e o Bolsa Família – ou o Renda Brasil, programa bolsonarista que nunca saiu do papel.
Quando os senadores da oposição cobraram a restituição do valor do auxílio emergencial aos originais R$ 600, o ministro rebateu ao seu modo: atropelando os fatos. “O estado está financeiramente quebrado, mas cheio de ativos. Se aumentar o valor sem por outro lado ter as fontes de recursos corretas, traz a superinflação ou a inflação de dois dígitos, como era antigamente. O resultado final é desemprego em massa e o imposto mais cruel sobre os mais pobres, que é a inflação”, afirmou.
“A perspectiva da economia é piorar nos próximos meses, com redução do PIB e aumento do desemprego. Tudo tende a piorar e o governo não tem previsão orçamentária para um programa de renda em meio à crise sanitária. A nossa inflação não é de demanda, quando as pessoas consomem muito, é de falta de oferta”, alerta Bruno Moreti, assessor da liderança do PT no Senado
Com relação à inflação, ela continua firme e forte: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) chegou a 0,93%, bem acima de fevereiro e com a maior taxa para março desde 2015. A “prévia” da inflação oficial somou 2,21% no primeiro trimestre, maior índice desde 2016. Em 12 meses, o IPCA-15 chega a 5,52%.
Sobre o desemprego, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, no quarto trimestre de 2020, chegou a 13,9%, maior índice para o período da série histórica, iniciada em 2002. O número de pessoas em busca de vaga chegou a 13,4 milhões em 2020, maior marca da série histórica da Pnad. Os desalentados cresceram 25,3% na comparação com o último trimestre de 2019, e chegam a 5,8 milhões.
Alguns analistas estimam que o desemprego possa se aproximar de 20% neste ano, em meio à continuidade da recessão “administrada” por Guedes. Não à toa, 79% dos brasileiros disseram a pesquisadores do Datafolha que o desemprego vai aumentar nos próximos meses. Foi o pior resultado registrado nas pesquisas Datafolha, considerando a série histórica iniciada em 1995 para essa pergunta. E não foi culpa do auxílio.
Barbárie neoliberal na disputa por vacinas
O ministro-banqueiro também se mostrou um recém-convertido à vacinação em massa, mas do seu jeitinho neoliberal pinochetista, estimulando a barbárie do poderio econômico sobrepujando o interesse social.
“Nossos empresários têm condições de ir lá fora e comprar sobras de vacina. Tem brasileiros que moram nos Estados Unidos e já tomaram as duas doses da Pfizer, e pode ser comprado. Dizem que até um grupo de empresários de Minas Gerais consegui comprar lá fora e se vacinou” afirmou candidamente. “Por enquanto isso é ilegal, mas se a gente permitir que isso seja feito de forma legal, eles fazem doações e, aí sim, você pode dar uma isenção para as doações.”
Para o líder da Minoria no Senado, Jean-Paul Prates (PT-RN), a fala foi apenas mais uma chantagem de Guedes. “Esse governo diz que descobriu e tratou dos ‘invisíveis’. O auxílio emergencial é indenizatório. Todos os países desenvolvidos adotaram. O invisível a que se refere o ministro são trabalhadores informais e eles não foram descobertos por esse governo”, criticou.
“De 2003 a 2014, o país criou 20 milhões de empregos para aqueles que não se enquadravam no Bolsa Família, os informais. O salário-mínimo cresceu 77% acima da inflação. Isso, sim, é inclusão social. Não transformar um auxílio emergencial que é indenizatório em programa social”, prosseguiu o líder da Minoria.
“Não vamos aceitar a venda de nossas empresas públicas. O Brasil não precisa disso para socorrer a população, destinar mais verbas para a saúde ou pagar um auxílio emergencial de valor maior”, antecipou o senador, para quem as prioridades do país, no momento, são vacinas, mais leitos de UTI Covid e medicamentos.
Os gastos com juros e amortizações da dívida pública consumiram R$ 1,381 trilhão em 2020. Foi a maior fatia do orçamento federal e também o gasto que apresentou o maior crescimento nominal, de 33% em relação a 2019. Esses gastos foram excluídos do teto de gastos estipulados pela malfadada Emenda Constitucional 95.
O Orçamento deste ano, aprovado na quinta com voto contrário dos parlamentares do PT, tirou R$ 26,5 bilhões destinados ao pagamento de benefícios previdenciários, do abono salarial e do seguro-desemprego para turbinar as emendas parlamentares.
Também retirou recursos da educação e dos programas de crédito para as micro e pequenas empresas, além de não prever recursos para um novo programa de redução de salários e suspensão de contratos. A nova rodada de auxílio emergencial só será possível porque foram destinados R$ 44 bilhões de créditos extraordinários que ficam fora do orçamento deste ano.
“A perspectiva da economia é piorar nos próximos meses, com redução do PIB e aumento do desemprego. Tudo tende a piorar e o governo não tem previsão orçamentária para um programa de renda em meio à crise sanitária. A nossa inflação não é de demanda, quando as pessoas consomem muito, é de falta de oferta”, explicou o economista e assessor do PT no Senado, Bruno Moretti.
Da Redação