Lula: China mostra que é possível cuidar da população com um governo sério

Em entrevista à agência de notícias Xinhua, o presidente Lula também defendeu a quebra de patentes das vacinas contra a Covid-19

Ricardo Stuckert

Lula: "Precisamos definir como ajudar os países pobres a receber a vacina"

O presidente Lula falou, esta semana, à agência de notícias chinesa Xinhua. Na entrevista, publicada na quinta-feira (25), Lula elogiou a condução do governo chinês diante da pandemia de Covid-19, defendeu a quebra de patente das vacinas contra o coronavírus e disse que pretende se dedicar para “que as pessoas e o país possam melhorar”.

Leia a íntegra da entrevista

Rio de Janeiro, 25 mar (Xinhua) — O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) disse nesta quinta-feira que carece de sentimentos de “raiva” ou “vingança” contra o ex-juiz Sergio Moro, que lhe impôs sentença pela qual passou 580 dias na prisão, mesma que foi anulada na terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista à Xinhua, o ex-presidente descreveu Moro como um “herói de barro que foi desmontado” e expressou não sentir “raiva porque não fui eu quem ganhou, foi o povo brasileiro que voltou a poder acreditar na justiça”.

“Não precisava ter demorado cinco anos, demorou, mas quem ganhou foi o povo brasileiro”, frisou.

Essa é a primeira reação pública de Lula ao voto de 3 a 2 na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, que considerou haver perseguição e parcialidade de Moro na sentença, agora anulada, de oito anos de prisão na Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014.

“Não quero vingança, não tenho ódio, tenho menos tempo de vida do que já vivi, e eu quero dedicar este tempo que tenho para fazer com que as pessoas e o país possam melhorar”, expressou.

Lula garantiu que, com os direitos políticos restabelecidos, não pensa em candidaturas às eleições presidenciais de 2022, apesar de aos 75 anos se sentir “jovem e com energia”.

“Vou continuar lutando. Acho que Moro está com ódio agora. Eu, quando estava preso, tinha certeza que dormia mais tranquilo que o Moro”, disse o fundador do Partido dos Trabalhadores (PT).

Em 2018, após a condenação que desqualificou Lula para participar das eleições vencidas por Jair Bolsonaro, o ex-magistrado renunciou à magistratura para ingressar no atual governo como Ministro da Justiça, cargo que ocupou até maio de 2020, para depois passar à iniciativa privada.

Neste mês, Lula recebeu a anulação de suas duas condenações na operação Lava Jato por determinação do juiz do STF Edson Fachin, que entendeu que Moro não tinha jurisdição na Justiça de Curitiba para vincular o ex-presidente a desvios na petroleira Petrobras, mas na terça-feira teve seu maior triunfo quando a Segunda Turma do Tribunal entendeu que ele foi vítima de perseguição política devido à parcialidade do magistrado que o julgou.

Apelo a uma conferência internacional para combater a COVID-19

O ex-presidente defendeu a criação de uma conferência internacional destinada a quebrar as patentes de laboratórios privados com o objetivo de que os países mais pobres da África, Ásia e América Latina possam ter custos reduzidos e melhor acesso às vacinas contra o coronavírus.

Ele afirmou que, diante do enfrentamento da pandemia, a China é um “exemplo de que é possível cuidar da população por meio de um governo sério e com responsabilidade para com seu povo”.

“É importante que as patentes sejam quebradas e não pertençam apenas aos laboratórios e que as vacinas possam ser financiadas pelos países mais ricos e assim trazer a cura para os países pobres da África, Ásia e América Latina”, disse Lula durante entrevista à Xinhua.

O ex-presidente foi vítima da COVID-19 em janeiro, durante uma viagem a Cuba.

“É importante que os países ricos, os países do Conselho de Segurança da ONU, o G20 tenham uma reunião extraordinária para falar sobre a vacina. É importante que a vacinação da humanidade seja a prioridade de todos os países do mundo e que os mais ricos possam financiar vacinas para os mais pobres”, disse.

Ele também acrescentou que outro cenário importante pode ser a convocação de uma Assembleia Geral extraordinária da ONU.

“Precisamos definir como ajudar os países pobres, como os pobres vão receber a vacina. O enfrentamento da pandemia é algo em que os chineses estão dando o exemplo, assim como os cubanos. Lamentavelmente, no Brasil nosso presidente não dá o exemplo de como cuidar do país. O (Jair) Bolsonaro é irresponsável e o Brasil merece melhor “, disse.

O Brasil é atualmente o epicentro global das mortes diárias por COVID-19, uma média de mais de 2.100 nos últimos sete dias, totalizando mais de 300 mil mortes, segundo o Ministério da Saúde.

Da Redação, com informações da Xinhua

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