O obscurantismo de Jair Bolsonaro, manifesto nos sucessivos ataques de seu governo à educação, saúde e cultura e ciência, foi exposto mais uma vez aos olhos do mundo. A primeira edição do ano da prestigiada publicação científica britânica The Lancet traz um artigo, assinado pelos pesquisadores Bernardo Galvão-Castro, Renato Sérgio Balão Cordeiro e Samuel Goldenberg, no qual Bolsonaro é denunciado pelo “ataque contínuo” ao setor nos últimos três anos.
“Apesar da resistência dos cientistas brasileiros, a ciência no Brasil tem sido prejudicada por medidas implementadas pelo governo federal nos últimos três anos, como cortes crescentes no orçamento, ataques à autonomia das universidades e uma política geral de negação da ciência”, apontam os três pesquisadores, no artigo.
Os três lembram do corte de U$ 110 milhões no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além da retenção de U$ 490 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Para os pesquisadores, as tesouradas de Bolsonaro põem fim à realização de pesquisas em universidades e institutos de pesquisa e comprometem o desenvolvimento científico futuro do país.
“As consequências incluem a fuga de cérebros de cientistas, o descontentamento e a desmoralização de pesquisadores científicos brasileiros”, opina o grupo.
Ameaças à comunidade científica
Os pesquisadores denunciam ainda as ameaças de Bolsonaro à comunidade científica por meio do que classificam como “sanções indiretas”, dirigidas aos que ousam contradizer o bolsonarismo. “A recente demonstração de desrespeito aos cientistas foi um decreto federal, emitido em 5 de novembro de 2021, revogando o prêmio da Ordem Nacional do Mérito Científico concedido a dois cientistas, Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda”, reforçaram, no artigo.
Por causa da retirada do nome de Benzaken e Lacerda, 21 cientistas rejeitaram a condecoração Ordem Nacional do Mérito Científico, com a qual tinham sido homenageados em novembro. Lacerda, que integra a Fiocruz, posicionou-se contra o uso de cloroquina para tratar pacientes com Covid-19. Já Benzake, consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS), elaborou uma cartilha voltada para orientação e promoção da saúde de pessoas trans.
Outros 44 professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também protestaram em um manifesto contra a atitude do presidente. “A decisão também provocou uma reação imediata de várias sociedades acadêmicas e científicas brasileiras, incluindo a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Avanço da Ciência”, confirmam os pesquisadores.
“Os ataques perpetrados pelo atual governo federal não se limitam à ciência e aos cientistas e afetam a educação, a saúde pública, o meio ambiente e os programas culturais”, acusam Castro, Cordeiro e Goldenberg. “Esperamos que o Brasil não continue a se pautar pela negação e evitará a degradação da ciência”, concluem.
Da Redação, com informações de The Lancet