Partido dos Trabalhadores

Novo ministro do Trabalho cometeu 24 infrações trabalhistas

Caio Vieira de Mello recebeu as autuações pelas condições irregulares dos trabalhadores de sua fazenda, em Conceição do Rio Verde (MG)

Valter/Campanato/Agência Brasil

O ministro Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello

O novo ministro do Trabalho do governo golpista de Temer já possui um currículo que levantava suspeitas sobre sua credibilidade para o cargo – Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello atuou por anos no escritório de Sergio Bermudes, defendendo pelo menos cinco grandes empresas contra trabalhadores.

Duas semanas após tomar posse, vem a tona o fato de que ele foi autuado 24 vezes em fiscalizações do Ministério do Trabalho por infrações trabalhistas, entre 2005 e 2013, em sua fazenda, em Conceição do Rio Verde, no Sul de Minas Gerais, segundo informou a Repórter Brasil.

Os auditores do Ministério do Trabalho fizeram sete fiscalizações entre 2005 e 2013 na Fazenda Campestre, onde o ministro mantinha uma plantação de café. No local, a fiscalização encontrou  falhas de segurança e de higiene, além de dois trabalhadores que não possuíam registro na carteira de trabalho e, portanto, não recebiam benefícios como FGTS, INSS e férias remuneradas..

A autuação relacionada aos dois trabalhadores ocorreu em 2009 e geraram multas de R$ 46 mil. À época, Vieira de Mello era desembargador e vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, em Belo Horizonte.

De acordo com os autos de infração obtidos pela Repórter Brasil, era permitido o livre acesso dos trabalhadores ao depósito com agrotóxicos, que ficava perto do refeitório dos funcionários. “É grande a chance de contaminação, pois nem todo trabalhador é treinado para manusear o agrotóxico”, afirmou o assessor jurídico da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados Rurais (Contar), Carlos Eduardo Chaves Silva, sobre esse tipo de problema.

Na Fazenda Campestre, do atual ministro, outra infração apontada pelos auditores-fiscais era o fato de a moradia dos empregados ficar perto da baia dos animais. Também foi constatado o não fornecimento de equipamento de proteção individual para os funcionários. Os fiscais do Ministério do Trabalho também autuaram Vieira de Mello pela precariedade das instalações elétricas e por risco de contato acidental com a picadeira.

Em nota, o Ministério do Trabalho confirmou que a fazenda do ministro foi alvo de uma fiscalização “de rotina” e que pagou uma multa de R$ 46 mil. “A administração da propriedade decidiu não contestar nem judicial nem administrativamente as autuações, embora houvesse fundamentos jurídicos e fáticos para fazê-lo”, afirmou.

As infrações de higiene e segurança encontradas pelos auditores do Ministério do Trabalho na fazenda do ministro constam da NR-31, norma específica que regulamenta o trabalho rural desde 2005 e é considerada um marco na fiscalização, pois definiu os critérios que são avaliados nas autuações.

A norma costuma ser criticada pelos deputados da bancada ruralista e foi alvo do polêmico projeto de lei do deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), que previa pagamento de trabalhadores rurais por meio de alimentação e moradia, além de pretender revogar completamente a NR-31

A Repórter Brasil ainda apurou que a fazenda do ministro em Conceição do Rio Verde tem aproximadamente 250 hectares e chegou a ter cerca de 300 mil pés de café. Após as autuações, os pés foram arrancados e o espaço passou a ser usado para criação de cavalos. Atualmente, a fazenda tem quatro funcionários.

Histórico de ministros

Em janeiro, o presidente Michel Temer tentou nomear a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), mas a posse foi impedida pela Justiça Federal porque a filha de Roberto Jefferson havia sido condenada pela Justiça do Trabalho por empregar um motorista que trabalhava 15 horas por dia sem carteira assinada.

A decisão foi mantida pela presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia. O ministro que assumiu após a polêmica com Brasil, Helton Yomura, saiu do cargo em 5 de julho após operação da Polícia Federal sobre fraudes na concessão de registros sindicais.

Na sequência, Eliseu Padilha assumiu a pasta de maneira interina, junto com a Casa Civil. Homem forte do MDB, Padilha é apontado como membro ativo de ilegalidades no partido e tem várias denúncias contra si. No ano passado, o melhor amigo de Michel Temer e ex-assessor especial da Presidência da República, José Yunes, revelou ao MP ter entregado a Padilha um “pacote” com dinheiro vindo de caixa dois. O emissário foi Lúcio Funaro, operador de Eduardo Cunha. Ele também é investigado no STF por crime ambiental.

O caso de Vieira de Mello, que tomou posse em 10 de julho, tem semelhanças com o imbróglio jurídico que impediu Cristiane Brasil de tomar posse, mas com uma diferença: o atual ministro foi autuado no âmbito administrativo pelo Ministério do Trabalho, enquanto Brasil chegou a ser condenada pela Justiça do Trabalho.

Da redação da Agência PT de notícias, com informações da Repórter Brasil