As pesquisas comprovam nas eleições municipais de 2020 que o Palácio do Planalto, antes de ser uma expressão da força popular do governo, passou a ser um entrave para a direita brasileira. O dedaço do presidente Jair Bolsonaro se transformou numa maldição porque não só não se transforma em votos, como está ampliando a rejeição ao bolsonarismo.
Resumindo, o líder da extrema-direita tem o dedo podre nessas eleições. Em pelo menos seis capitais, o aceno de Bolsonaro a algumas candidaturas virou um problema político, porque não agrega votos e amplia a rejeição. É o que acontece no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Manaus. Nessas capitais, os políticos que têm o apoio do presidente estão em queda livre na corrida eleitoral ou patinam em posições distantes.
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), não mostra surpresa. Ela considera que Bolsonaro perde popularidade porque não tem política para melhorar a vida das pessoas, reduzir a desigualdade e criar empregos. Esses são os grandes problemas do país. O Brasil tem hoje a maior taxa de desemprego da história – 14,4% – e um contingente de 40 milhões de pessoas vivendo na informalidade. “A associação a Bolsonaro não rende votos, porque a vida dos brasileiros está pior com este governo”, adverte. “A vida do povo e do país está uma desgrama, com fome e dor. O brasileiro não merece ter Bolsonaro como presidente”.
O fato é que candidatos a prefeito apoiados explicitamente pelo presidente enfrentam grandes dificuldades na reta final da corrida pelas administrações de muitas capitais. As pesquisas mostram que os escolhidos – políticos de diferentes partidos, mas expressões da direita – citados nominalmente por Bolsonaro em “lives” ou vídeos gravados estão perdendo força. Quem não apresenta tendência de queda está estagnado na corrida pelos governos municipais. Quase todos estão muito distantes do primeiro colocado.
O caso mais vistoso é o do deputado Celso Russomanno (Republicanos), que passou semanas como líder em São Paulo. No começo da campanha, chegou a ter 29% num levantamento do Datafolha realizado em setembro. No final de outubro, o deputado recebeu apoio oficial do presidente, numa live eloquente direto do Palácio da Alvorada.
“Estamos com Celso Russomanno em São Paulo. Eu conheço ele há muito tempo. Foi deputado federal comigo. E eu sou capitão do Exército, né? Ele é tenente R2 da Aeronáutica. Então, um capitão do Brasil e um tenente na Prefeitura de São Paulo. Celso Russomanno é minha pedida para São Paulo”. A ajuda de Bolsonaro se reverteu em perda de massa eleitoral do apresentador de TV, que agora está com 12%, tecnicamente empatado com o candidato do PT, Jilmar Tatto, que cresce na reta final na disputa pela prefeitura.
No Rio de Janeiro, o dedinho fedorento de Bolsonaro está tirando votos de outro candidato do Republicanos, o atual prefeito Marcelo Crivella. Ao pedir votos ao candidato evangélico, Bolsonaro fez um discurso parecido com o usado para o amigo de São Paulo: “Estou aqui com Crivella. Conheço ele há muito tempo. Foi deputado comigo, depois foi ser senador, prefeito do Rio”, disse, lembrando também que o bispo serviu no Exército. Pois o dedaço não rendeu nenhum voto ao prefeito, apesar de Bolsonaro ter sua base eleitoral no Rio de Janeiro. Crivella está empatado com a candidata Benedita da Silva (PT), que está crescendo e deve ir para o segundo turno na disputa com Eduardo Paes (DEM).
Em outras capitais, o presidente da República deu um abraço de afogados em candidatos inexpressivos em Belo Horizonte e Manaus, onde ganhou com folga nas eleições presidenciais de 2018. Nos dois casos, o apoio não surtiu efeito. Há um mês, Bolsonaro anunciou apoio ao deputado estadual Bruno Engler (PRTB) – amigo dileto dos filhos de Bolsonaro. Engler oscilou na margem de erro nas pesquisas, e tem 4%.
Na capital do Amazonas, o candidato escolhido pelo inquilino do Palácio do Planalto é Coronel Menezes (Patriotas). Nas última pesquisa Ibope, ele apareceu em sexto lugar, com 5%. O candidato do PT em Manaus, José Ricardo, tem 12%, e deve ir para a disputa final no segundo turno das eleições.
Outros dois candidatos adotados por Bolsonaro que patinam e sofrem com o apoio do Palácio do Planalto são Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza, e Delegada Patrícia (Podemos), no Recife. Ambos apresentam tendência de queda nas pesquisas. O primeiro era líder no mês passado e agora está empatado com Luizianne Lins (PT), candidata do PT à Prefeitura, que está crescendo na reta final e estará no segundo turno.
Já no Recife, o dedaço de Bolsonaro levou a delegada Patrícia a cair para 12%, atrás do outro candidato da direita, Mendonça Filho (DEM). Na capital pernambucana, quem mais cresceu nas pesquisas até agora é a deputada federal Marília Arraes (PT), que arrancou de 14% para 21% e vai enfrentar o candidato João Campos (PSB). Ou seja, na segunda maior cidade do Nordeste, a direita estará fora da disputa a partir de domingo, 15 de novembro.
Curioso é que, até o início de agosto, Bolsonaro dava sinais de que não pretendia atuar na campanha eleitoral. “Decidi não participar, no primeiro turno, nas eleições para prefeito. Tenho muito trabalho na Presidência e tal atividade tomaria todo o meu tempo num momento de pandemia e retomada na nossa economia”, comentou há dois meses. Há uma semana, contudo, passou a exaltar próceres do bolsonarismo, lançando apoios em “lives” diárias para apresentar os preferidos. Chegou a chamar o gesto de o “nosso horário eleitoral gratuito”.
O líder da Minoria na Câmara dos Deputados, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que o recado do povo brasileiro ao Palácio do Planalto será desfechado neste domingo. “O Brasil não suporta mais este governo”, aponta o parlamentar. “A questão é: quem tem responsabilidade política na eleição de Bolsonaro? Essa elite conservadora ajudou a levá-lo ao Palácio do Planalto. E agora deveria pedir desculpas ao povo brasileiro. O povo sabe, quem defende você é o PT”.
Da Redação, com informações do ‘Valor Econômico’