Fora do controle da equipe econômica do desgoverno Bolsonaro, a inflação continua corroendo a renda das famílias brasileiras. Em janeiro, o valor da cesta básica aumentou em 16 de 17 capitais analisadas na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Açúcar, batata, café, óleo de soja e tomate foram alguns dos produtos que subiram de preço neste início de ano.
Somente Porto Alegre (R$ 673,00) registrou queda no preço da cesta básica. Nas demais capitais, os aumentos variaram de 0,87%, em Florianópolis (R$ 695,59), a 6,36%, em Brasília (R$ 661,09). Entre cidades do Norte e Nordeste, com a composição da cesta diferente, Aracaju (R$ 507,82) e João Pessoa (R$ 538,65) tiveram o custo mais barato.
Em nove capitais, a alta acumulada da cesta básica em 12 meses supera os 10% (em um caso, os 20%), chegando a comprometer mais de 60% do salário mínimo líquido. Com base no custo da cesta mais cara (São Paulo: R$ 713,86), o Dieese estima que o salário mínimo para uma família de quatro pessoas em janeiro deveria ser de R$ 5.997,14, o equivalente a 4,95 vezes o mínimo de R$ 1.212 em vigor desde 1º de janeiro.
Esses R$ 5.997,14 seriam o suficiente para suprir as despesas com alimentação, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e Previdência Social. Se comparado à renda média do trabalhador, que em outubro de 2021 estava em R$ 2.449, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença é de 2,44 vezes.
No entanto, desde que Jair Bolsonaro extinguiu a política de valorização do piso nacional adotada durante os governos petistas, o salário mínimo vem perdendo poder de compra. Neste ano, o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada de 2021.
A política de valorização estabelecia aumentos reais para os pisos, que também servem de parâmetro para o reajuste de aposentadorias e benefícios assistenciais e trabalhistas. De 2003 a 2017, segundo o Dieese, o ganho real (acima da inflação) foi de 77,01%.
O Auxílio Brasil de Bolsonaro (R$ 407,54) também não foi suficiente para comprar uma cesta básica em nenhuma das 17 capitais analisadas pelo Dieese em janeiro. A cesta mais barata, encontrada em Aracaju (R$ 507,82), é 24,6% maior que o benefício substituto do Bolsa Família, considerado “muito baixo” por 51% dos entrevistados em pesquisa do instituto PoderData realizada de 31 de janeiro a 1º de fevereiro.
Alimentação compromete metade da renda das famílias mais pobres
Dados levantados pela fintech Superdigital, do Santander, para a Folha de São Paulo, revelam que mais de um terço (36%) do consumo das classes C e D se concentra em gastos com mercado. A segunda maior categoria da lista (restaurantes) responde por 11% do consumo. Com isso, quase metade dos gastos das famílias mais pobres está vinculada à alimentação e, em menor escala, a itens de higiene pessoal e limpeza.
A pesquisa foi feita a partir do banco de dados da Superdigital, que abrange 700 mil usuários ativos de todo o país que fazem compras com cartão de crédito ou débito. Essas pessoas estão empregadas com carteira assinada ou são trabalhadores temporários.
Os resultados reforçam como a inflação dos alimentos está corroendo a renda dos mais pobres. Em janeiro, o maior impacto do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a “prévia da inflação”, veio do segmento de alimentação e bebidas (0,97%), que acelerou frente ao mês anterior (0,35%). O IBGE anuncia a inflação oficial de janeiro nesta quarta-feira (9).
“Percebemos que as classes C e D estão mais receosas quanto a gastos”, diz a CEO da Superdigital, Luciana Godoy. Segundo ela, o comportamento está relacionado à falta de confiança do consumidor. “As pessoas estão ressabiadas, com medo de comprar e se endividar. Esperam para saber se aquele gasto vai caber no bolso”, analisa a executiva.
Luciana diz que o recuo nos gastos em janeiro, após as festas de dezembro, foi maior neste ano do que no início de 2021. “Estes três primeiros meses são de muita cautela. O trabalho das classes C e D está muito atrelado ao presencial e o avanço da variante ômicron neste início de ano assustou”, conclui.
Com a renda comprimida e frente ao descaso do desgoverno Bolsonaro, quase 9 milhões de pessoas entraram nas estatísticas dos que passam fome no país nos últimos dois anos. Nesse período, saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, sem acesso regular e permanente de alimentos em quantidade e qualidade suficiente para a sobrevivência.
Segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), como parte do projeto VigiSAN, atualmente, mais da metade da população brasileira sofre com a insegurança alimentar seja leve, moderada ou grave. A insegurança alimentar grave afeta 9% da população.
Da Redação, com informações do Dieese