Misógino é o termo usado para descrever o indivíduo que não respeita nem valoriza as mulheres. Ao longo da vida, Jair Bolsonaro deu várias mostras de que é um desses sujeitos. Em sua trajetória, há pelos menos dois casos de agressão física (admitidos por ele mesmo) e inúmeros comportamentos desrespeitosos e ofensivos contra mulheres.
Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher, celebrado todo 8 de março, é importante lembrar esses tristes episódios, pois a população, em especial as brasileiras, tem o direito de saber qual é o verdadeiro caráter do homem que hoje ocupa a Presidência do país.
Conhecer esse caráter, certamente, ajuda a compreender por que Bolsonaro tomou tantas medidas contrárias aos interesses das mulheres, como a extinção da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), criada por Lula em 2003, e o veto à lei que prevê a distribuição de absorventes higiênicos para estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias, da deputada Marília Arraes (PT-PE).
As agressões cometidas por Bolsonaro contra mulheres:
27 de agosto de 1998 – Dá murro na cabeça de uma mulher
Durante campanha eleitoral para se reeleger deputado federal, Bolsonaro esmurrou por trás a cabeça de Conceição Aparecida, então funcionária da Planajur, empresa de consultoria jurídica que prestava serviços para o Exército. Conceição discutiu com uma apoiadora de Bolsonaro e acabou esmurrada pelo então deputado. Além disso, o dono da empresa, Jorge dos Santos, contou ter sido agredido por seguranças. Na época, o Jornal do Brasil noticiou a agressão, e o próprio Bolsonaro admitiu ao jornal ter cometido a violência (veja imagem abaixo).
Março de 2011 – Ofende a cantora Preta Gil
Bolsonaro participava de um programa de tevê no qual respondia perguntas enviadas por diferentes personalidades. A cantora Preta Gil havia gravado a seguinte questão ao então deputado federal: “Deputado Jair, se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”.
Bolsonaro respondeu, como pode ser visto aqui: “Ô, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. E meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.
Julho de 2011 – Ex-mulher afirma ter sido ameaçada de morte por Bolsonaro
Em 2011, a Embaixada do Brasil na Noruega entrou em contato com Ana Cristina Valle, mãe do quarto filho de Bolsonaro, Jair Renan. O vice-cônsul (VC) da representação questionou por que Ana Cristina havia se mudado para o país europeu com o filho, então adolescente, sem uma autorização expressa do pai. Ela, então, disse que havia sido ameaçada de morte por Bolsonaro e questionou se poderia pedir asilo na Noruega. A afirmação de Ana Cristina foi registrada em uma comunicação diplomática (veja abaixo) e noticiada por diferentes jornais, como a Folha de S. Paulo e o Correio Braziliense.
2012 – Admite outra agressão a mulher
Durante outra entrevista ao extinto programa CQC, Bolsonaro admite ter batido em mulher, mas conta outro episódio, diferente do de 1998.“Era garoto na Eldorado, uma menina forçou a barra para cima de mim”, disse, como se fosse uma justificativa aceitável (o trecho dessa entrevista pode ser visto no vídeo abaixo, com outras agressões cometidas pelo ex-capitão).
Dezembro de 2014 – “Ela não merece ser estuprada porque é muito feia”
Em 9 de dezembro de 2014, no Plenário da Câmara, Jair Bolsonaro cometeu um ataque contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e todas as mulheres, pelo qual acabou condenado, pagou multa e teve de pedir desculpas publicamente.
Maria do Rosário acabara de fazer um discurso defendendo que os torturadores da ditadura militar fossem responsabilizados. Bolsonaro, que sempre defendeu torturadores, tomou a palavra em seguida e se dirigiu à deputada de maneira agressiva: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Há poucos dias, você me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”.
Na verdade, quando usou a expressão “há poucos dias”, Bolsonaro se referia a outro ataque seu contra Maria do Rosário 11 anos antes, em 2003. Na ocasião, a deputada do PT disse que, com seus discursos e posições políticas, Bolsonaro promovia a violência contra a mulher. Bolsonaro, então, disse: “Eu sou o estuprador agora? Não vou estuprar você porque você não merece”. Ele ainda chamou a parlamentar de “vagabunda” e a empurrou (essa ofensa pode ser vista no vídeo abaixo, com outras agressões cometidas por Bolsonaro).
Não satisfeito de lembrar desse ataque, Bolsonaro voltou a ele no dia seguinte, em entrevista ao jornal Zero Hora. Perguntado por que havia dito que a deputada “não merece ser estuprada”, ele afirmou:“Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque não merece”.
Maria do Rosário não se intimidou e processou Bolsonaro, que acabou condenado por danos morais, teve de pagar multa e ainda precisou pedir desculpas publicamente. A multa paga por Bolsonaro foi doada por Maria do Rosário a sete entidades de defesa dos direitos das mulheres. Ao fazer a doação, de mais de R$ 20 mil, a deputada celebrou: “O dinheiro do machista vai para as feministas”.
Dezembro de 2014 – Diz achar justo que mulheres ganhem menos que os homens porque engravidam
Na mesma entrevista ao jornal Zero Hora, em 2014, Bolsonaro disse achar justo uma mulher ganhar menos que um homem para fazer o mesmo trabalho. O motivo seria o de que uma mulher pode engravidar e tirar licença maternidade. “Eu sou um liberal, se eu quero empregar na minha empresa você ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! (…) Eu que estou pagando, o patrão sou eu”, disse. No mesmo ano, ao ser entrevistado na Rede Tv!, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o tema e disse que, se fosse empresário, “não empregaria (uma mulher) com o mesmo salário“.
Abril de 2017 – Diz que teve uma filha após ter tido quatro filhos porque deu “uma fraquejada”
A fala, que ocorreu durante palestra no Clube Hebraica, foi a seguinte: “Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”.
2018 – Na campanha para presidente, tenta espertamente amenizar o discurso
Ao disputar a eleição para presidente, Bolsonaro tentou negar o que pensa e faz. Em entrevista à Rede Record, disse não ter nada contra minorias e desafiou: “Onde tem um vídeo onde eu ataco negros? Onde tem um áudio meu atacando mulheres?”. Em resposta, o jornal El País produziu o vídeo abaixo:
8 de março de 2019 – Ri do fato de ter 20 ministros e só duas ministras
Foi só se tornar presidente que Bolsonaro voltou a se mostrar como realmente é. Desde os primeiros meses de governo, ele proferiu incontáveis frases machistas e preconceituosas, sendo acompanhado nesse comportamento por alguns de seus ministros. Tanto que, em junho de 2021, a Justiça Federal ordenou que a União pagasse R$ 5 milhões de indenizações por falas machistas de Bolsonaro, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Uma das primeiras vezes que Bolsonaro ofendeu as mulheres após se tornar presidente foi justamente no Dia Internacional da Mulher, quando afirmou: “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres”.
Abril de 2019 – Faz apologia ao turismo sexual no Brasil
Nessa ocasião, Bolsonaro se disse contra a vinda de turistas gays para o Brasil e emendou: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Além de homofóbica, a frase foi condenada como extremamente machista. Bolsonaro mostrou completa insensibilidade à situação das brasileiras vítimas da exploração sexual causada por esse tipo de turismo. Em resposta, estados brasileiros lançaram campanhas contra a exploração sexual.
2020 e 2021 – Volta seu ódio a mulheres que trabalham na imprensa
Nos segundo e terceiro anos de governo, Bolsonaro continuou a se mostrar desrespeitoso com as mulheres de maneira geral, mas chama a atenção o fato de ele ter voltado seu ódio para as jornalistas, numa clara tentativa de inibir o exercício da imprensa no país. Veja algumas dessas agressões às profissionais de mídia:
– Em fevereiro de 2020, rebateu denúncia da jornalista Patrícia Campos Mello, sobre possíveis irregularidades na sua campanha eleitoral, dizendo que a profissional “queria dar o furo”. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo”, disse a apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada.
– Em 21 de junho de 2021, em Guaratinguetá, Bolsonaro mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, “calar a boca”. Isso só porque a jornalista questionou o fato de ele ter chegado ao local sem usar máscaras, conforme exigia uma lei do estado de São Paulo, por causa da pandemia de Covid-19.
– Quatro dias depois, Bolsonaro perdeu o controle ao ser indagado sobre o atraso de vacinas contra a Covid-19 e o escândalo dos contratos do imunizante indiano Covaxin. O presidente mandou Victoria Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, e que ela “deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. Em outro momento, disse: “Você está empregada aonde? (sic)”. Na mesma ocasião, aos gritos, e em tom ameaçador, dirigiu insultos à Adriana de Luca, da CNN Brasil: “Pare de fazer perguntas idiotas”.
– Durante conversa com apoiadores na entrada do Palácio Planalto, Jair Bolsonaro xingou a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, de “quadrúpede”.
2022 – Diz não acreditar nas pesquisas que mostram rejeição das mulheres a ele
Em mais um de suas interações com apoiadores, Bolsonaro diz não acreditar nas pesquisas que mostram como as mulheres o rejeitam. “Segundo pesquisa, as mulheres não votam em mim, a maioria vota na esquerda. Agora, não sei, pesquisa a gente não acredita”.
A realidade, porém, é que as mulheres já perceberam que esse governo pretende levá-las de volta ao passado e a uma condição submissa, tirando suas possibilidades de emprego, minimizando sua capacidade de atuar politicamente e empoderando homens violentos e intolerantes que rebaixam suas parceiras. Tanto que dias antes de Bolsonaro dar essa declaração, pesquisa do PoderData afirmava que, entre as eleitoras brasileiras, Lula tem o dobro das intenções de voto que ele: 44% x 22%.
Da Redação