A CPI da Covid, que investiga no Senado a omissão criminosa de Jair Bolsonaro na pandemia, ouviu, nesta quinta-feira (6) o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Diferentemente dos depoimentos de seus antecessores, no entanto, Queiroga comportou-se como um ministro de outro governo, não de Bolsonaro. Enquanto Henrique Mandetta e Nelson Teich confirmaram o negacionismo e a sabotagem de Bolsonaro na gestão da pandemia, Queiroga evitou responder questões que representam um problema grave ao ocupante do Planalto, como o uso da cloroquina e as aglomerações promovidas por Bolsonaro para gerar “imunidade de rebanho”.
Também não quis comprometer o antecessor Eduardo Pazuello, atribuindo o colapso da saúde e as mortes por Covid-19 no país a uma “imprevisibilidade” do vírus. “Além de não responder às perguntas na CPI para blindar o chefe genocida, Marcelo Queiroga não criticou o uso de cloroquina, condenada mundialmente pela ciência, e ainda errou dados sobre a vacinação no Brasil”, denunciou o senador Humberto Costa (PT-PE).
Queiroga afirmou que a recomendação do uso da cloroquina deve passar por análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). Ele também não explicou os motivos pelos quais o ministério não emitiu parecer técnico sobre a cloroquina, mais de um ano e dois meses após o inicio da pandemia, mas orientou seu uso, como denunciou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
Em sua intervenção, Carvalho lembrou que a recomendação não tem autorização legal, apesar da existência do Conitec. “Além de passar pela Conitec, tem de ter autorização da Anvisa”, frisou Carvalho. “A recomendação descumpriu a lei, por vontade do presidente da República, que mandou usar, colocando em risco a vida das pessoas”.
Imunidade de rebanho
Carvalho também questionou o ministro se é a favor da estratégia de Bolsonaro de contaminar o máximo possível da população, com o objetivo de atingir a chamada imunidade de rebanho, quando pelo menos 70% dos habitantes seriam contaminados.
“As aglomerações que o presidente Bolsonaro faz sistematicamente ajudam a proliferar o vírus? Sim ou não?”, perguntou o senador. Pressionado, Queiroga afirmou que “toda aglomeração deve ser dissuadida, independentemente de quem a faça”.
Ataques à China
O senador petista condenou ainda os ataques de Bolsonaro à China, cujos danos diplomáticos já se fizeram sentir na aquisição de insumos para a produção de vacinas pelo Butantan.
“Ele boicota Vossa Excelência quando agride a China, quando insinua uma coisa gravíssima, que nenhum chefe de Estado pode fazer: acusar uma nação de espalhar o vírus por interesse econômico”, disse. “Isso é de uma gravidade, eu não faria parte, por nenhum segundo, de um governo com tamanha irresponsabilidade com seu país, sua economia e seu povo”.
Decreto
Rogério Carvalho disse ao ministro que Bolsonaro é o maior promotor do vírus no país, agindo em diferentes níveis institucionais, inclusive com a ameaça, feita nesta quinta-feira, de acabar com o isolamento social por decreto.
Humberto Costa contestou a afirmação do ministro de que tem total autonomia no ministério, perguntando se ele foi consultado pelo presidente sobre a edição do decreto. Ao responder que não, Queiroga ouviu do senador: “É uma demonstração de que talvez sua autonomia esteja mais na sua cabeça do que na do presidente”.
Pelo Twitter, Costa aconselhou o ministro: “É bom rever [a convicção da autonomia], pois, também será culpado por toda tragédia que estamos enfrentando”.
A CPI da Covid prosseguirá, na semana que vem, com depoimento do presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na terça-feira (11).
Da Redação