Perseguido pelo governo de Bolsonaro desde o início, o físico, engenheiro e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Galvão, destaca que o trabalho de Jair Bolsonaro contra as questões ambientais e contra o progresso da ciência “atrapalha fortemente o Brasil”.
Em entrevista ao Jornal Rádio PT, na manhã desta segunda-feira, 8, Galvão comenta os diversos retrocessos que o país enfrenta com o crescimento desenfreado do desmatamento e o enfraquecimento das políticas ambientais.
O especialista alerta que o país precisa se preparar estrategicamente para um futuro sustentável com avanços científicos e tecnológicos, pois a temperatura global vai aumentar e pode afetar a estabilidade dos satélites, voos e o sistema de distribuição de energia no Brasil.
“Não teremos desenvolvimento sustentável, socialmente justo e econômico nesse século sem políticas públicas fortemente embasadas no avanço científico e tecnológico. Qualquer governo que assumir o país terá de ter isso em mente. As soluções são cada vez mais complexas e depende de uma mentalidade de utilizar o que conhecemos de mais avançados. E Bolsonaro vai exatamente no oposto disso e causa muita má impressão nos atores internacionais”.
Galvão reforça que a questão ambiental tem de ser pensada pelo governo como uma política estratégica do país. “Não vai haver nenhuma forma de evitarmos o aumento médio da temperatura global, de 162 graus centígrados, até 2050. Isso vai significar que toda a região mais seca do Nordeste vai avançar na direção da região Central do Brasil, onde temos grande produção agrícola”.
Recuperação dos órgãos de controle
Entre as ações imediatas a serem tomadas para que o Brasil recupere seu prestígio ambiental, anteriormente conquistado e visto como referência mundial, Galvão ressalta que é necessário recuperar a saúde dos órgãos de controle ambiental. “O Ibama e ICMBio são importantíssimos e foram destruídos por Salles. Eles precisam ser refortalecidos novamente”.
Outra medida emergencial é retomar a política de fiscalização e a aplicação de multas e penalidades, retiradas por Bolsonaro, além de estabelecer políticas que permitam desenvolvimento sustentável para habitantes da região da Amazônia e de proteção ambiental.
“Além de parar com o desmatamento, é necessário estimular a recuperação das áreas degradadas. Cerca de 25% das áreas desmatadas da Amazônia estão abandonadas. Precisamos de um planejamento estratégico, uma visão de longo prazo, preparando o país estrategicamente para esse futuro que deslumbramos”.
Cerrado sem monitoramento
Ao falar sobre a o desenvolvimento sustentável no futuro, Galvão explica que o Brasil vai depender significativamente da geração de energia solar e eólica. Destaca ainda a importância dos institutos de pesquisa e da ameaça que o país sofre com o desmatamento da Amazônia, que interfere no equilíbrio ambiental, inclusive do cerrado que é reserva de toda a água consumida no país.
“O cerrado é uma região importantíssima para a fronte de vários rios, começando pelo São Francisco e na nossa produção agrícola. A maior parte da água que chega depende dos chamados rios voadores, que vêm da Amazônia, e depende dela estar preservada. Estudos mostram uma grande diminuição de água no Brasil. A seca está aumentando. É preciso uma política estratégica para preservar o cerrado”, ressalta.
Galvão relembra que o INPE sempre monitorou o cerrado, mas que o projeto terminou no fim de 2021 por falta de recursos, que eram obtidos pelo Fundo Amazônia e foi retirado pelo governo federal.
“O INPE está ameaçado de a partir de março não monitorar o cerrado. É uma atitude tão estúpida que é difícil de acreditar”.
Protagonismo nos governos Lula e Dilma
O Brasil era visto como um “exemplo paradigmático de controle ambiental”, segundo o ex-diretor do INPE. O país foi citado como protagonista no desenvolvimento sustentável pela revista científica Nature, que também listou Galvão como o primeiro das dez pessoas mais importantes para a ciência, em 2019.
Diferentemente da realidade nos governos PT, o Brasil é motivo de vergonha pelo avanço das queimadas, noticiado internacionalmente. Na Cúpula do Clima, em 2021, Jair Bolsonaro tentou convencer o mundo de que se preocupa com o meio ambiente e reafirmou meta estabelecida por Dilma Rousseff em 2015.
Ele relembra que a campanha difamatória do governo de Bolsonaro contra a ciência começou em 15 de janeiro, quando o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que destruiu o meio ambiente brasileiro, concedeu entrevista à imprensa dizendo que os dados do INPE não eram suficientemente precisos para tomar qualquer ação de cerceamento de desmatamento na Amazônia e de outros biomas.
“Ele passou totalmente por cima dos resultados que observamos desde 2004 até 2012, que começaram no governo Lula e terminaram no governo Dilma. Os dados foram produzidos por demanda da Marina Silva e de alertas diários de desmatamento. Com isso, o governo conseguiu reduzir o desmatamento na Amazônia em mais de 80%, baixou de mais de 27 mil km2, em 2004, para pouco mais de 4 mil km2, em 2012”.
Assista a entrevista, na íntegra, abaixo:
Da Redação