Abri o meu Facebook e uma publicação logo saltou as minhas vistas, chamando a atenção para a dor e o sofrimento permanentes de uma mulher. Era a mãe do Sávio Oliveira, o Soul, um dos 5 meninos de Maricá que foram brutalmente executados no Conjunto Minha Casa Minha Vida de Itaipuaçu. Por que foram assassinados? Provavelmente morreram sem saber, um ao lado do outro, se entreolhando deitados no chão, deixando ali a esperança de quem sonhava e versava por um mundo melhor.
Eram meninos bons, do rap, do hip-hop, do sorriso fácil e de muita inteligência. Digo isso pelo que vi do menino Soul. Ele participou do lançamento da plataforma “O Brasil e o RJ que o povo quer”, no Circo Voador, que eu tive a tarefa de organizar. Esbanjava simpatia e carregava em si uma áurea boa. Antes, levados pelo meu amigo Sérgio Henrique, estiveram na Faculdade de Formação de Professores, versando para aqueles futuros educadores e educadoras ali sentados, que prestavam atenção e se contagiavam com a letra dos jovens meninos de Maricá.
Mas por que eles foram executados? A letra, o ritmo e a poesia de uma roda de rima não rima com o medo que pretendem instaurar os milicianos para depois venderem falsa sensação de segurança, gás e gatonet. Aqueles meninos que saíam da Bienal de Cultura da União Municipal dos Estudantes, diretamente do show de um de seus ídolos, não pareciam sentir medo de estarem conversando tarde da noite naquele que era o seu lugar, sonho conquistado por sua família, que não era o de nascimento, mas apenas o lugar onde “eles só queriam ser felizes e andarem tranquilamente”, como já versara outros poetas. Por isso acabaram servindo de exemplo.
Mas que exemplo? A opressão cotidiana que aflige o povo preto de todos os lados vai insistir em nos manter com medo. Mas o maior exemplo que os meninos podem nos dar, vem nas suas letras, versos e nos seus sorrisos. Vem na sua insistência em ocupar as praças com alegria, na hora que bem entendiam e sem medo de contagiar o mundo de felicidade. Vem da possibilidade de organizar o povo e a juventude de uma outra forma, com ritmo e poesia, com disciplina e vontade de mudar o mundo. Que os nomes de Sávio, Matheus Baraúna, Matheus Bitterncourt, Patrick e Marcus sejam sempre lembrados para que um dia sejamos todos livres!
Ronald Sorriso, secretário Nacional da Juventude do PT