Mais de um mês após o anúncio das primeiras medidas, o presumido “pacote de bondades” eleitoreiro de Jair Bolsonaro não surte o efeito esperado por ele. Mesmo herdando votos de uma parte dos simpatizantes do ex-juiz Sérgio Moro, a rejeição ao ex-capitão ainda é a maior entre os pré-candidatos nas eleições deste ano. A tendência se reafirmou na nova rodada da pesquisa Ipespe, divulgada na última sexta-feira (22),
Entre todos os candidatos à Presidência da República, Jair Bolsonaro é o que tem maior rejeição, com 61% dos eleitores dizendo que não votariam nele de jeito nenhum. Ele vem seguido por João Doria (55%) e Ciro Gomes (44%).
Líder da pesquisa estimulada, com 45% das intenções de voto contra 31% de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva apresenta rejeição de 42%. Os que com certeza votariam em Lula somam 44% e em Bolsonaro, 30%. Na pesquisa espontânea, onde os nomes dos candidatos não são colocados, Lula tem 38% dos votos, seguido por Bolsonaro, com 28%. Ciro Gomes (PDT) segue atrás, com 4%.
Brancos, nulos, eleitores que dizem que não iriam votar ou que não votariam em nenhum dos candidatos somam 7%. Eleitores que não sabem ou não responderam representam 2% dos entrevistados.
O resultado da pesquisa mostra possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, já que a soma dos adversários alcança 46%, apenas um ponto percentual a mais do que o índice alcançado pelo ex-presidente. Em relação à sondagem anterior, Lula oscilou positivamente um ponto, o mesmo ocorrendo com Bolsonaro.
Num eventual segundo turno, Lula ficaria em primeiro lugar, com 54%, e Bolsonaro teria 34%. Em outro cenário, na disputa com Ciro Gomes, Lula teria 52%, contra 24% de Ciro. Contra Doria, a vitória do ex-presidente seria ainda mais expressiva: 55% a 19%. Bolsonaro (38%) perde num segundo turno para Ciro Gomes (46%) e fica tecnicamente empatado com Doria, com 39% e 38% respectivamente.
A má avaliação do desgoverno Bolsonaro continua alta, com 63% dos eleitores o desaprovando e 52% considerando a “gestão” ruim ou péssima. Em março, 65% desaprovavam o governo e 54% avaliavam a gestão como ruim ou péssima. Oscilações ocorridas dentro da margem de erro, de 3,2 pontos.
Inflação, desemprego e renda
Realizada no período de 18 a 20 de abril, a pesquisa revela ainda o peso da derrocada econômica do país sob Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Para 95% dos pesquisados, os preços aumentaram nos últimos meses (70% acham que aumentaram muito e 25%, que aumentaram). E 63% acreditam que eles ainda vão aumentar mais (43% acreditam que vão aumentar muito e 20%, que vão aumentar).
Para a consultoria Eurasia Group, a pequena melhora na avaliação de Bolsonaro pode ser atribuída “à modesta recuperação do poder de renda” da população mais pobre nos primeiros meses deste ano devido a medidas pontuais.
“No segundo semestre de 2021, a renda real no Brasil caiu 11%, impulsionada por um aumento inflacionário maior do que o previsto, que atingiu duramente as famílias de baixa renda”, afirma relatório da consultoria. “Mas no início de 2022 essas famílias recuperaram parcialmente a renda perdida com o reajuste anual de 10% do salário mínimo nacional, 13º salário para aposentados e algumas medidas como o perdão da dívida estudantil e liberação de saques do FGTS.”
Os pesquisadores da Eurasia apontam que a principal preocupação do eleitor nessas eleições será “renda e emprego”. “Para Bolsonaro continuar a se recuperar, a economia terá que superar as expectativas do mercado para esse ano”, concluem os pesquisadores. Conforme os dados do próprio mercado, isso não tem a mínima chance de ocorrer.
Da Redação