Mais da metade da população do país sofre com algum nível de insegurança alimentar, sendo que 19 milhões de brasileiros passam fome. A conclusão é do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, divulgado nesta segunda-feira (5) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).
Para medir o tamanho da tragédia, o inquérito pesquisou 2.180 domicílios nas cinco regiões, em áreas urbanas e rurais. O levantamento ocorreu entre 5 e 24 de dezembro de 2020, três meses após o governo Bolsonaro reduzir as parcelas do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300. Isso significa que a situação, atualmente, deve ser ainda pior, uma vez que o governo cortou o auxílio em janeiro, fevereiro e março e, agora, o retomou com valores menores e para um número bem menor de beneficiados.
A Penssan explica que insegurança alimentar é quando alguém não tem acesso pleno e permanente a alimentos. “Hoje, em meio à pandemia, mais da metade da população brasileira está nessa situação, nos mais variados níveis: leve, moderado ou grave. E a insegurança alimentar grave afeta 9% da população — ou seja, 19 milhões de brasileiros estão passando fome”, afirma a entidade.
Os resultados mostram que, em 55,2% dos domicílios, os habitantes conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018, quando o índice era de 36,7%. Em números absolutos, o total de brasileiros com algum grau de insegurança alimentar chega a 116,8 milhões. “Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave)”, informa.
Superada em 2013, fome voltou após o golpe
A rede reconhece que a fome é um problema histórico no Brasil, mas ressalta que houve um momento em que fomos capazes de combatê-la. “Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero, aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria, se tornaram visíveis”, escreve a Penssan, referindo-se ao conjunto de medidas contra a fome implementada pelo presidente Lula já no primeiro mandato.
“A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar em todo o país. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% — o nível mais baixo até então. Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente”, acrescenta a entidade.
Após o golpe de Estado que derrubou a presidente Dilma Rousseff, a fome avançou a passos largos no Brasil, mostram os dados. “De 2018 a 2020, como mostra a pesquisa VigiSAN, o aumento da fome foi de 27,6%. Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia”, afirma a Penssan.
PT Solidário
Os números confirmam o que vem dizendo há meses o Partido dos Trabalhadores e está sendo reforçado pelo presidente Lula em entrevistas recentes: o Brasil precisa, urgentemente, retomar o auxílio emergencial de R$ 600 e garanti-lo à população mais pobre até o fim da pandemia.
“Espero que o Bolsonaro esteja assistindo, para o Bolsonaro saber que não tem jeito este país se não houver um salário emergencial de R$ 600 até terminar esta pandemia. E que esta pandemia só vai terminar quando tiver vacina para todo mundo. Então, deixe de ser ignorante, presidente. Pare de brigar com a ciência, pare de falar para os seus milicianos. Fale para 220 milhões de pessoas. Quando tiver vacina para todo mundo, todo mundo vai voltar a trabalhar, e a economia pode voltar a crescer. E o Estado tem condições de fazer financiamento”, disse Lula na última sexta-feira (1º).
Nesta segunda-feira, parlamentares do PT voltaram ao tema. No Senado, Paulo Rocha (PT-PA), líder do partido na Casa, e Paulo Paim (PT-RS), voltaram a alertar o país para a piora das condições de vida do povo brasileiro. “Os preços dos alimentos não param de subir. Em 12 meses, o arroz ficou 70% mais caro; o feijão, 50%; e a cebola, 69%. Um botijão de gás custa R$ 100. Os pobres são os que mais sofrem. O novo auxílio emergencial é um deboche. O país precisa retomar, no mínimo, o valor original: R$ 600”, disse Rocha.
O senador Paulo Paim reforçou: “O Insper aponta que o novo auxílio emergencial é insuficiente para cobrir despesas mínimas de sobrevivência da população. O valor de R$ 250 representa R$ 62,50 per capita em uma família de quatro pessoas. Esse nível está abaixo da linha de extrema pobreza em todos os estados”.
A importância de se garantir uma renda mínima digna aos mais pobres durante a pandemia também foi abordada pelo papa Francisco no domingo de Páscoa (veja vídeo abaixo). Porém, enquanto o governo Bolsonaro não age, campanhas de arrecadação de alimentos se tornaram a única forma de amenizar o sofrimento das famílias que não têm o que comer. O Partido dos Trabalhadores tem mobilizado a militância por meio da campanha PT Solidário, lançada em 31 de março (veja aqui como participar).
Da Redação, com informações da Rede Penssan