Partido dos Trabalhadores

Sob 115 mil mortos, Bolsonaro faz campanha e vende cloroquina

Nesta segunda-feira (24), quando o país ultrapassa a marca de 3,6 milhões de infectados pelo coronavírus e 115 mil mortes, presidente participou de evento para promover o uso da hidroxicloroquina como solução milagrosa para tratamento de pacientes infectados. ‘Brasil de Fato’ revela que governo fora desaconselhado pela Anvisa sobre uso da droga. No evento, Bolsonaro não lamentou as mortes e voltou a insultar a imprensa. “O genocida não citou uma ação sequer que justificasse o nome do evento [Vencendo a Covid-19]. Apenas exaltou a cloroquina, ofendeu jornalistas, simulou choro e se auto-elogiou. Um desrespeito à memória das vítimas e à dor das famílias”, critica a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann

Site do PT

Bolsonaro tem responsabilidade pelas mais de 430 mil mortes

O governo federal voltou a investir em peças de propaganda enganosa e sem base na realidade para reforçar a estratégia de sabotagem ao combate à pandemia, em curso desde a chegada do surto no país, em fevereiro. Nesta segunda-feira (24), quando o país ultrapassa a marca de 3,6 milhões de infectados pelo coronavírus e 115 mil mortes pela doença, o presidente Jair Bolsonaro participou do Encontro Brasil Vencendo a Covid-19, no Palácio do Planalto. Trata-se de um evento feito sob medida para promover a hidroxicloroquina como solução milagrosa para tratamento de pacientes infectados, mesmo sem comprovação de eficácia e desautorizado por autoridades de saúde.

“Quando eu tomei, no dia seguinte já estava bom”, afirmou Bolsonaro durante o evento em Brasília, voltando a advogar de modo irresponsável o uso da droga e colocando a vida de milhões de brasileiros em risco. “Se a hidroxicloroquina não tivesse sido  politizada, muito mais vidas poderiam ter sido salvas”, insistiu, sem mencionar ou lamentar as vítimas fatais da pandemia.

Ele voltou a insultar profissionais de imprensa, a exemplo do ocorrido na Catedral de Brasília no final de semana. “O pessoal da imprensa vai para o deboche. Mas quando [a Covid-19] pega um bundão de vocês a chance de sobreviver é menor”, disse, em referência à frase dita por ele sobre seu “histórico de atleta”.

Intimidação

No domingo, Bolsonaro tentou intimidar um jornalista depois de ser perguntado sobre o motivo de Fabrício Queiroz ter feito depósitos na conta de sua esposa, a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Em resposta, Bolsonaro ameaçou o profissional, dizendo que tinha “vontade de encher a boca” do repórter “com uma porrada”.

“Se o jornalista elogiar o Bolsonaro, isso é liberdade de expressão, se criticar, é perseguição política”, observa o senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado. “Na cartilha autoritária do Bolsonaro, bom mesmo é o Queiroz, que paga as contas do Flávio (há suspeitas) e faz depósitos para a Michele (mais suspeitas). Com o dinheiro de quem?”, questiona o senador, pelas redes sociais.  

A repercussão do caso viralizou nas redes. Só no twitter, a pergunta do repórter sobre os depósitos foi repetida mais de 1 milhão de vezes. A imprensa internacional também repercutiu o caso, com despachos de agências e diários americanos e europeus estampando em manchete a ameaça de Bolsonaro.

Zombar do povo

“Chegamos em 115 mil óbitos e 3,6 milhões de infectados. E Bolsonaro faz hoje o inacreditável evento “Brasil vencendo o Covid-19”. Só pode ser pra zombar do povo brasileiro, desdenhar da dor da morte”, lamentou a deputada federal e presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, em comentário sobre o evento. “É um genocida cruel e sádico”.

A falta de apresentação de uma estratégia ou um plano de ação de enfrentamento à pandemia pelo governo foi duramente criticada pela presidenta do PT.  “Como esperado, o tal Brasil vencendo a covid foi uma patifaria”, observa a deputada. “O genocida não citou uma ação sequer que justificasse o nome do evento. Apenas exaltou a cloroquina, ofendeu jornalistas, simulou choro e se auto-elogiou. Um desrespeito à memória das vítimas e à dor das famílias”, critica.

Participaram do evento representantes de um grupo que diz reunir 10 mil médicos defensores do uso da droga. De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), existem atualmente 478 mil médicos registrados no país.  “Com tratamento precoce, a nossa linda hidroxicloroquina, consegue sim reduzir os danos da Covid”, alardeou a médica Raíssa Soares. Parecer do CFM afirma, no entanto, que “não existem evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a covid-19”.

Alerta da Anvisa

Segundo reportagem do ‘Brasil de Fato’, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou, no dia 9 de abril,  o Ministério da Saúde que a hidroxicloroquina não deveria ser indicada para o tratamento de casos de Covid-19. A agência enviou nota tanto para a pasta quanto para o Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19.

“Recomendamos ao Ministério da Saúde e Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19 que os comprimidos de hidroxicloroquina fabricados pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz, sejam destinados exclusivamente às indicações terapêuticas já aprovadas por esta Anvisa e que constam na bula do medicamento”, diz a nota da agência.

A reportagem também revelou que a Anvisa demostrava preocupação com o atendimento de pessoas dependentes do uso do medicamento para outras doenças. No documento, a agência adverte que o estoque de hidroxicloroquina à época, 8,8 milhões de comprimidos, “equivaleria a aproximadamente 3 (três) meses de tratamento dos pacientes malária, lúpus ou artrite reumatoide, ou seja, daquelas indicações terapêuticas aprovadas em bula”.

Crime de responsabilidade

Em depoimento ao portal, o deputado federal (PT-SP) e ex-ministro da Saúde, Alexandre padilha afirmou que o presidente cometeu crime de responsabilidade. “Mais um crime de responsabilidade de Bolsonaro: ignorou uma nota técnica da Anvisa que não recomendava o uso da hidroxicloroquina”, disse Padilha. 

“O governo transforma o debate da cloroquina em um ato político, contudo é científico. Ao ignorar a Anvisa, o governo mostra que seu compromisso não é com a vida, mas sim, com a produção de fake news [notícias falsas]”, atacou o ex-ministro.

Da Redação, com informações de ‘Brasil de Fato’