Herança da degradação do mercado de trabalho após o golpe de 2016, o chamado “empreendedorismo por necessidade” avança no país desde a posse de Jair Bolsonaro. Para fugir do desemprego, das más condições de trabalho e da queda da renda, trabalhadores e trabalhadoras cada vez mais apelam para atividades autônomas que acabam se transformando em negócios próprios – e muitas vezes, por falta de opção.
A segunda edição do Indicador Nacional da Micro e Pequena Indústria revela que, nos últimos quatro anos, o número de trabalhadores que se tornaram empreendedores após o desemprego cresceu 20%. O levantamento é elaborado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi-SP) em conjunto com o Datafolha.
Coletados entre 7 e 27 de julho, os dados apontam que, em 2022, mais da metade dos micro empresários do país (54%) estavam sem trabalhar quando abriram o próprio negócio. Outros 42% deixaram o emprego para empreender.
LEIA MAIS: Só piora: além de redução salarial, trabalhadores perdem direitos sociais
O índice é maior no Nordeste – 62% dos novos empreendedores da região estavam desempregados quando abriram o negócio. O Sudeste vem em seguida, com 56%. Enquanto no Centro-Oeste e no Norte é observado o mesmo percentual (49%), a menor proporção foi registrada no Sul do país (47%).
“Estamos vivendo um momento crítico, com a questão da pandemia e a guerra na Ucrânia. Foram muitos baques financeiros e das cadeias produtivas”, comenta o presidente do Simpi-SP, Joseph Couri, na Folha de São Paulo. “O que se percebe é que muitas pessoas abriram seu próprio negócio porque não tinham outra opção.”
LEIA MAIS: Uberização: cada vez mais pessoas recorrem a “bicos” para sobreviver
“Outras se consideram mais qualificadas e competentes, achando que têm melhores oportunidades se trabalharem por conta própria”, prossegue Couri, lembrando que a realização financeira é dos principais motivos para a decisão de empreender. “A pesquisa demonstra que 74% daqueles que montaram o seu negócio estão financeiramente melhor”, afirma ele, com ressalvas ao que considera um ponto polêmico: “Quantas horas essas pessoas trabalham”.
Quase metade dos empreendedores (49%) trabalha seis ou sete dias por semana. E neste ano eles estão trabalhando por mais horas – 59% dos empresários afirmaram trabalhar mais de 9 horas por dia. Em 2014, o percentual era de 55%.
LEIA MAIS: Informalidade: trabalho sem carteira e sem direitos explode no país
Setor cria sete em cada dez vagas de emprego formal
No primeiro semestre deste ano, as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 961,9 mil vagas de emprego formal abertas no país (72,1% do total), enquanto as médias e grandes responderam por pouco mais de 279,8 mil (21%). Quadro semelhante ao registrado no primeiro semestre de 2021, quando os pequenos negócios geraram 7 em cada 10 vagas.
Mas apesar de sustentar a geração de postos de trabalho no Brasil, a pesquisa do Simpi-SP mostra que os pequenos negócios enfrentam ainda muitas dificuldades com crédito (16%), burocracia (16%) e falta de recursos para investir (12%).
“É uma documentação atrás da outra”, reclama Couri. “Normas, procedimentos, leis, decretos e portarias, todo dia, e é praticamente impossível para alguém que tem micro e pequena empresa acompanhar a evolução disso. Ele é sempre pego na contramão quando as normas são instituídas e nem se toma conhecimento.”
“Fora isso, o acesso ao crédito é uma dificuldade crescente, pelo risco da inadimplência”, prossegue o presidente do Simpi-SP. “Com a elevação da taxa de juros, ligada à inflação, há restrição no sistema financeiro. Conseguir crédito nos bancos fica mais difícil e essa questão ainda vai seguir sendo uma pauta para os empreendedores por um tempo.”
Após começar a se recuperar das dificuldades da pandemia, as empresas foram atropeladas pela guerra, afirma Couri. “Enquanto não houver condições de acesso ao crédito e custo do crédito em igualdade de condições competitivas com o mundo, nós jamais teremos uma política de crescimento capaz de concorrer com o mundo”, finaliza.
Reportagem do portal jurídico Jota apresentou uma pauta sancionada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) a ser apresentada aos candidatos à Presidência da República. Entre as seis medidas sugeridas estão: facilitação do acesso ao crédito; recursos permanentes para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe); simplificação de processos para pagamento de imposto; mudanças em tributos; aumento do limite de faturamento do MEI e ampliação de incentivos a pequenos negócios nas compras governamentais.
Lula: pequenos negócios terão ministério, crédito e compras governamentais
Em encontro com empresárias e empresários de pequenos negócios na manhã desta quarta-feira (17), Luiz Inácio Lula da Silva apresentou respostas para a maioria das demandas do setor.
O futuro pode até esperar que a gente faça uma coisa nova, mas a gente não pode deixar que vocês morram por causa da dívida que contraíram por conta da pandemia”, afirmou ele. “Vamos ter que levar muito em conta e muito a sério a negociação das dívidas de vocês”, garantiu, diante de uma plateia entusiasmada.
Lula disse ainda que resgatará o papel social dos bancos públicos. “O BNDES vai ter que se dedicar a emprestar para pequenos e médios, porque o restante pode tomar empréstimo em dólar em qualquer lugar”, afirmou.
O candidato ao terceiro mandato presidencial também defendeu a reserva das compras governamentais destinadas a pequenas e médias empresas. Ele lembrou que o projeto de recuperação da indústria naval de seus governos contemplou a política de conteúdo nacional, que determinava que 65% das peças fossem compradas de empresas brasileiras. Isso impulsionou pequenos e médios negócios de várias cadeias produtivas.
“O Brasil não pode continuar sendo pequeno. Quando deixamos a Presidência, esse país estava crescendo. O Brasil era respeitado, era protagonista internacional. Hoje, esse país virou pária”, observou Lula.
Em seu perfil no Twitter, ele destacou outra garantia apresentada aos micro e pequenos empresários no encontro desta quarta. “Eu e o Geraldo Alckmin queremos cuidar desse país, gerar oportunidades. Vamos recriar alguns ministérios. O Ministério da Pequena e Média Empresa precisa funcionar”, afirmou o presidente mais popular da história.
LEIA MAIS: Lula: pequenas empresas terão acesso a crédito e a compras governamentais
Da Redação