A grotesca fala de Jair Bolsonaro diante de embaixadores estrangeiros, nesta segunda-feira (18), desencadeou uma onda de reações contrárias. Transmitidos ao vivo pela TV Brasil, uma emissora pública, ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) foram rechaçados por instituições, entidades sociais e políticos nacionais, após o eloquente silêncio dos embaixadores ao fim do encontro.
Um dos principais alvos de Bolsonaro, o presidente do TSE, Luiz Edson Fachin, disse, sem mencionar o nome do chefe do Executivo, que há “inaceitável negacionismo eleitoral por parte de uma personalidade pública” e que “é muito grave haver acusação sem prova”. Para o ministro, o debate político “tem sido achatado por narrativas nocivas que tensionam o espaço social”, chamadas por ele de “teia de rumores descabidos”.
“É hora de dizer basta à desinformação. É hora também de dizer não ao populismo autoritário, que coloca em xeque a conquista da Constituição de 1988”, afirmou Fachin durante participação virtual em um evento de combate à desinformação promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Paraná (OAB-PR).
“Se isso assim prosseguir, somente pode interessar a quem não interessa provas e fatos. Por isso precisamos nos unir e questionar a razão de tantos ataques a este tribunal e também ataques pessoais”, prosseguiu Fachin. “Neste tribunal sempre estivemos abertos ao diálogo. Assim já se deu e assim se de dará na gestão de ministro Alexandre de Moraes”, que o sucederá a partir de 16 de agosto.
À noite, o TSE respondeu nas redes sociais a 20 declarações mentirosas e/ou desonestas feitas por Bolsonaro aos diplomatas estrangeiros e a membros de seu desgoverno . “A Secretaria de Comunicação e Multimídia do TSE reuniu conteúdos com esclarecimentos e checagens sobre o processo eleitoral. Confira no fio” (no tuite abaixo), afirmou a postagem no Twitter.
Outra vítima das calúnias, Luiz Inácio Lula da Silva também foi às redes sociais para lamentar o deprimente espetáculo do Palácio do Planalto. “É uma pena que o Brasil não tenha um presidente que chame 50 embaixadores para falar sobre algo que interesse ao país. Emprego, desenvolvimento ou combate à fome, por exemplo. Ao invés disso, conta mentiras contra nossa democracia”, afirmou o líder nas pesquisas.
Fux e Lira se calam, enquanto Youtube retira live do ar
O presidente do STF, Luiz Fux, que recusou convite para participar da reunião, não se manifestou, enquanto na cúpula do Parlamento ocorreu o que se esperava. Enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sócio majoritário do bolsonarismo parlamentar, silenciou sobre os ataques, o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), criticou de forma contida as declarações de Bolsonaro.
“Uma democracia forte se faz com respeito ao contraditório e à divergência, independentemente do tema. Mas há obviedades e questões superadas, inclusive já assimiladas pela sociedade brasileira, que não mais admitem discussão”, ressaltou o senador em nota à imprensa. “A segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral não podem mais ser colocadas em dúvida”, finalizou.Também em nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) manifestou “apoio irrestrito” ao TSE e seus ministros e ministras.
“Como vem acontecendo em todas as eleições prévias, reafirma-se a certeza de que o resultado da vontade popular será respeitado”, afirma o texto. “Rechaça-se qualquer tentativa de impugnação a tal resultado fora das vias adequadas, ou seja, aquelas admitidas pelo ordenamento jurídico, garantida a independência do Poder Judiciário e a soberania do voto popular.”
O grupo de advogados Prerrogativas considerou a reunião “da mais alta gravidade” e lembrou que a defesa do Estado Democrático de Direito “exige atitudes enérgicas”. Caso as demais instituições não ajam, afirmou nota da entidade, “serão partícipes na trama ilícita e no lodaçal golpista de traição à pátria e à Constituição”.
“Uma futura e eventual ofensa golpista à Lei de defesa da democracia, que introduziu como crimes a tentativa de golpe de Estado e a pregação de violência política, será duramente repreendida pelos democratas do nosso país”, prossegue o texto. “Para tanto, a PGR e os demais Poderes da República não devem mais se calar ante tantos e tão graves ilícitos praticados pelo presidente.”
O “dia D do golpe” de Bolsonaro terminou com o YouTube derrubando uma live de julho de 2021 em que ele propagava a velha ladainha contra o sistema eleitoral, desmentida inúmeras vezes. A empresa também avalia se vai manter a transmissão desta segunda. Desde março, a plataforma de vídeos mantém uma política de remoção de conteúdos que contenham alegações falsas de fraudes, erros ou problemas técnicos na eleição de 2018. Nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996.
Da Redação