Clã Bolsonaro faz um ataque à imprensa por dia no Twitter

Levantamento da Abraji aponta 801 postagens hostis entre 1% de janeiro de 2021 e 5 de maio de 2022. Instigados por Jair e seus filhos, ataques cresceram neste ano

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Bolsonaro ataca liberdade de imprensa

Das 14.918 postagens publicadas no Twitter por Jair Bolsonaro e seus três filhos políticos entre 1º de janeiro de 2021 e 5 de maio de 2022, 1.097 (7,3%) fazem alguma referência à imprensa ou seus profissionais, e 801 delas atacaram diretamente a mídia. A soma, equivalente a uma agressão a cada 14 horas, faz parte de mais um levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) sobre a atuação do clã Bolsonaro nas redes sociais, divulgada nesta terça-feira (12) no jornal O Globo.

Conforme o estudo, o clã Bolsonaro fez 1.097 tuites ou repostagens com os termos “jornal”, “jornalismo”, “jornalista”, “jornazista”, “imprensa”, “mídia”, “blog”, “blogueiro(a)”, “notícia” e “matéria” no período. Desses 1.097 tuites analisados, 801 (73%) foram considerados ataques, críticas e tentativas de descredibilização.

Apontado como líder do chamado “gabinete do ódio”, o vereador Carlos “Carluxo” Bolsonaro (Republicanos-RJ) é o recordista das agressões. Ele fez 3.663 tuites no período, dos quais 404 (11%) sobre a imprensa e seus profissionais – 351 (86,9%) deles com ataques, respostas e compartilhamentos hostis.

Em seguida vem o deputado federal Eduardo “Bananinha” Bolsonaro (PL-SP). Ele fez 6.508 tuites no período, dos quais 510 (7,8%) sobre a imprensa e seus profissionais – 340 (66,6%) foram considerados ataques. Já o senador Flávio “Rachadinha” Bolsonaro (PL-RJ) fez 1.922 tuites, sendo 121 sobre a imprensa (6,3%) – 76 (62,8%) com ataques.

O pai de todos, Jair “genocida” Bolsonaro, fez 2.825 tuites, dos quais 62 sobre a imprensa (2,2%) – 34 deles (54,8%) com ataques. Mesmo sendo quem menos publica ataques, ele é que tem maior engajamento. As cinco postagens hostis mais retuitadas e marcadas como favoritas são do chefe temporário do Executivo.

O levantamento indica ainda que a família lidera uma rede de intimidação agressiva que envolve integrantes do governo, influenciadores e apoiadores, como o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), o ex-secretário especial de Cultura Mario Frias e o deputado pastor Marco Feliciano (PL-SP). Esses atores instigam a hostilização e os seguidores a amplificam.

A análise enquadrou 74,6% dos casos registrados em 2021 e 64,5% dos episódios identificados até 5 de maio deste ano como discursos estigmatizantes e campanhas sistemáticas de intimidação. Além disso, aponta que 62,5% do total de alertas de ataques sofridos por jornalistas em 2021 e 60,1% dos casos de 2022 tiveram origem ou repercussão na internet.

Ataques cresceram 26,9% em 2022

Levantamento anterior da Abraji, sobre os ataques de diversos atores a jornalistas e meios de comunicação ocorridos entre janeiro e abril deste ano, revelou piora em relação a 2021. Considerando o mesmo período do ano passado, houve aumento de 26,9%.

Em quatro meses, foram identificados 151 episódios de agressão física e verbal ou outras formas de cerceamento do trabalho. Como restrições de acesso à informação, ataques de negação de serviço na internet, doxing (exposição de dados pessoais), processos civis ou penais, assassinato, assédio sexual e uso abusivo do poder estatal.

Assim como nos três anos anteriores da “era Bolsonaro”, o tipo de agressão mais comum ainda é o discurso estigmatizante, presente em 66,9% dos alertas identificados até abril. São 12 casos a mais em comparação com o mesmo período de 2021. A categoria de “agressões e ataques” (violência física, atentados e ameaças explícitas) saltou 80%.

Além disso, em 2022 foram registrados um assassinato e dois casos de violência sexual, classificados conforme novo indicador estabelecido pela rede latino-americana Voces del Sur. A entidade passou a incluir a perspectiva de gênero na metodologia, registrando situações de assédio, ameaças, atos ou comentários indesejados de natureza sexual em uma categoria própria.

Os dados apontam para uma participação intensa de agentes públicos nos ataques. Do total de casos, 70,2% contaram com o envolvimento de atores relacionados ao Estado e 57,6% tiveram a participação de figuras que cumprem mandatos em cargos eletivos.

Dos 106 ataques perpetrados por atores estatais, 70 (66%) envolveram um ou mais membros do clã Bolsonaro, o que faz da família a principal instigadora do ódio e da violência nas redes sociais contra a imprensa ou seus adversários em geral.

A Abraji é uma das signatárias do documento anunciado pelo Pacto Pela Democracia, que reúne mais de 70 organizações da sociedade civil, em repúdio à violência política que escalou nas últimas semanas e culminou no assassinato do guarda civil Marcelo Arruda, na noite de sábado em Foz do Iguaçu (PR).

Esses casos de violência, avaliam as entidades, não são fenômenos isolados, e “se inserem em um contexto mais amplo, que vem se agravando ao longo da última década, nutrido desde 2018 por repetidos posicionamentos de Jair Bolsonaro e seus apoiadores”.

“Nosso país está imerso num cenário marcado pela radicalização da extrema direita, reforçada por uma ampla rede de desinformação e por apoiadores armados”, prossegue o documento. “Não se trata de uma disputa entre dois pólos, dois lados de uma mesma moeda. É, sim, o avanço autoritário contra qualquer voz que se oponha a este projeto político extremista.”

Da Redação

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