Governada pelo prefeito Edinho Silva (PT), Araraquara (SP) se tornou recentemente o caso mais bem-sucedido de combate à Covid-19. Graças a um lockdown de 10 dias em fevereiro, a cidade conseguiu que o número de infectados, internados e mortos despencasse, mesmo após ser atingida pela variante P1 do coronavírus, a mais agressiva.
O lockdown, no entanto, foi uma medida emergencial em um momento crítico. Antes dele, várias outras medidas haviam sido tomadas pela Prefeitura, fazendo com que Araraquara se tornasse um exemplo desde o começo da pandemia. E essas ações contribuíram também para o sucesso do próprio lockdown.
Em entrevista à Globo News, no domingo (11), Edinho Silva lembrou que a população da cidade aderiu ao lockdown de maneira massiva porque, antes, a Prefeitura adotou como centro de sua política o diálogo e a transparência. “Desenvolvemos um processo de diálogo não só agora quando a pandemia se agravou, mas durante todo o ano de 2020, sentando com as entidades representativas de todos os setores econômicos, com as entidades representativas dos trabalhadores, os setores religiosos. E, nesse momento, que nós necessitamos tomar medidas mais duras, esses setores estavam informados”, disse.
A verdade é que Araraquara coleciona elogios desde os primeiros meses da pandemia. Em julho de 2020, levantamento da Fundação Seade, do governo do estado de São Paulo, apontava que o município tinha a taxa de letalidade mais baixa entre municípios com mais de 500 casos confirmados.
Na ocasião, Edinho Silva listou as ações que vinham sendo adotadas, que incluíam a expansão do horário de atendimento das redes básicas regionais, um 0800 para telemedicina, equipes de bloqueio, criação de um centro de referência do coronavírus, parceria com Faculdade de Farmácia da Unesp, mapeamento da doença na cidade, criação de hospital de campanha e de um comitê de solidariedade para distribuição de alimentos. Deu certo. Em setembro, a cidade já era apontada pelo jornal francês Libération como exemplo de combate ao vírus.
Inspiração, dizem pesquisadores
Em artigo publicado no fim de semana no site UOL, os pesquisadores Márcia Speranza e Vitor Marchetti também destacam que o lockdown foi apenas uma das ações adotadas pela equipe de Edinho Silva, cuja fórmula de sucesso “vai muito além do recente lockdown”.
Escrevem os dois especialistas: “A partir de março de 2020, uma série de políticas públicas coordenadas foi posta em marcha para conter o avanço da doença. Entre as principais medidas estão a abertura de um hospital de campanha, uma central de internação, centros de atendimento exclusivos para pacientes sintomáticos, parceria com a Unesp para auxílio em testagem e vacinação, programa de telemedicina para monitoramento de pacientes infectados que estão em casa, equipes médicas de consulta domiciliar, centro de inteligência de covid-19 que organiza e divulga diariamente dados sobre contaminação, disponibilidade de leitos e perfil de doentes e casos fatais, equipes de bloqueio que coloca em quarentena os infectados e familiares, rede de solidariedade com distribuição de kits de higiene pessoal e cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade, bolsa cidadania para famílias em situação de extrema vulnerabilidade (mães arrimo de família, em situação de cárcere, idosos, mulheres grávidas); apoiadores de combate ao covid-19 contratados pela prefeitura com dispensa de concurso público, para trabalho temporário por 6 meses prorrogáveis por mais 6, envolvimento da guarda municipal para auxiliar na orientação da população para que fique em casa”.
Para os dois especialistas, o exemplo de Araraquara pode inspirar ações semelhantes no resto do país, mas, evidentemente, não basta orientar as pessoas a ficar em casa. “Os gestores públicos e a sociedade devem cobrar do Governo Federal programas para auxiliar o pequeno e médio empresário e os indivíduos que fazem trabalho autônomo. São eles e elas os mais prejudicados pela necessidade de fechamento do comércio neste período crítico da pandemia”, afirmam, cobrando também um auxílio emergencial aos trabalhadores mais robusto.
Edinho Silva faz coro à dupla. Na entrevista à Globo News disse que a falta de um programa de apoio aos setores econômicos foi a maior dificuldade enfrentada por Araraquara. “Nós precisaríamos, num momento como este, como temos visto os Estados Unidos e outros países fazendo, um programa de ajuda aos setores econômicos que estão sofrendo, principalmente o comerciante, o pequeno e médio empresário, o prestador de serviços. Porque se esses setores tiverem uma ajuda, uma linha de crédito, um programa governamental, claro que as medidas restritivas podem ser tomadas de forma mais homogênea”, afirmou, lamentando que, no entanto, Jair Bolsonaro e seus apoiadores continuam agindo como sabotadores da unidade nacional contra o vírus.
Da Redação, com informações de UOL e Globo News