Eleito com a ajuda de uma verdadeira fábrica de “fake news”, Jair Bolsonaro (PSL) já desrespeitou inúmeras vezes o jornalismo e seus profissionais, comprometidos em desmascarar as verdadeiras intenções de Jair à frente do governo. Nos primeiros 10 meses de governo, Jair já fez 99 declarações contra a imprensa, revela levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).
Das quase 100 ofensas, 88 delas foram com o objetivo de descredibilizar os veículos, enquanto as outras 11 foram ataques diretos a jornalistas. O balanço se baseou em postagens no Twitter e Facebook, além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais. Essa postura coloca a imprensa como inimiga e adversária, além de legitimar novos ataques aos profissionais da área, vulneráveis à situação.
“Censura indireta”
Na avaliação de Camilo Vannuchi, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) no tema do direito à comunicação, os ataques representam o autoritarismo do ex-capitão: “Bolsonaro adota um tom de, ‘se você falar mal do meu governo, vou acabar com sua liberdade de todos os jeitos, economicamente, moralmente, civilmente’, é uma censura indireta. Isso faz parte de uma atitude deplorável de achar que pode mandar em toda a imprensa. Quando o presidente ataca jornalistas, ele assina um “salvo-conduto” para quem quiser ameaçar esses profissionais, que ficam vulneráveis. Da mesma forma como ele legitima ataques à outras minorias no país”, afirmou em entrevista à Agência PT.
Vannuchi destacou os casos dos jornalistas Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello. Desde junho, Greenwald divulga os chats de procurados da Lava Jato e do ex-juiz Sérgio Moro, que manobraram em 2018 para ajudar a eleição de Bolsonaro. Patrícia foi responsável por deflagrar o esquema de caixa 2 que financiava a “máquina” de fake news da chapa de Jair.
“Importante destacar 2 pessoas que foram homenageadas pelo Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos: Glenn Greenwald e Patrícia Campos Mello. Nos últimos 12 meses, os dois produziram as principais matérias que tiveram maior impacto em desconstruir a imagem do Bolsonaro. E ele ataca as figuras pessoais desses jornalistas”, se referindo aos processos abertos por Bolsonaro contra Patrícia e o discurso xenofóbico adotado contra Greenwald.
Ataque financeiro
Além dos ataques verbais e por meio das redes sociais, Bolsonaro também tenta utilizar seu poder político para prejudicar a imprensa. Em agosto, Jair assinou uma Medida Provisória (MP) que permitia às empresas a publicarem seus balanços fora dos jornais, prática comum. O objetivo do governo era prejudicar os veículos da imprensa, pagos pelas corporações para divulgarem esses dados financeiros. Felizmente, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) declarou que a tendência é que a MP nem seja votada pelo Congresso.
Para Vannuchi, Bolsonaro tenta argumentar que a imprensa produz notícias falsas para descredibilizar o trabalho dos jornalistas: “Ele vem de uma campanha eleitoral onde ele já fazia isso abertamente. Bolsonaro acusa a grande imprensa de ser fabricante de fake news, assim como o Trump faz nos Estados Unidos. Desde sua posse, ele persegue os jornalistas através de decretos também. Houve a tentativa dele de acabar com a publicação de balanços de empresas nos jornais impressos, tentando causar um estrangulamento financeiro desses veículos”.
Ameaça à democracia
O jornalismo é ferramenta essencial para fiscalizar e divulgar os absurdos cometidos pelo atual desgoverno. Ao atacar os profissionais da área, Bolsonaro revela seu lado autoritário, compartilhado também por seus filhos. Fãs declarados da ditadura militar, o clã já deu diversas declarações sobre a liberdade de imprensa com tom ameaçador. Não à toa, o Brasil caiu três posições no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa em 2019, divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiros. O país ocupa a 105ª posição de 180 países.
A última declaração alarmante foi feita nesta quinta (31) por Eduardo Bolsonaro. O filho “03” disse em entrevista que “se a esquerda radicalizar (…) a resposta pode ser via um novo AI-5”. O Ato Institucional nº 5 foi uma lista de doze artigos brutais que liquidava de vez com os resquícios do Estado de Direito e das liberdades democráticas no país. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota repudiando a declaração.
De acordo com Vannuchi, a forma como Jair reagiu a fala de Eduardo é ainda mais preocupante para a democracia do Brasil: “Ao comentar a fala do Eduardo Bolsonaro sobre a volta do AI-5, Jair diz que o filho ‘está sonhando’. O presidente usa uma expressão que tem a ver com o subconsciente, com o desejo. Ele não deslegitima a frase do filho, já que pode ser um sonho que o próprio Bolsonaro compartilha”.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações da Fenaj