Desde a tarde de terça (3) secundaristas estão ocupando o plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Pedem a abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os desvios de dinheiro da Máfia da Merenda ligada à gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
O presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), um dos suspeitos de envolvimento na máfia da merenda, tentou enfraquecer o movimento. Para dificultar a coleta de assinaturas, o tucano decretou ponto facultativo para esta quarta-feira e informou, via assessoria de imprensa, que prepara pedido de reintegração de posse do prédio. Capez havia proibido a entrada da imprensa e o envio de alimentos aos estudantes. Disse que usaria “estratégia de saturação”.
A Polícia Militar de São Paulo tentou acabar com a ocupação dos secundaristas. Na noite de terça-feira (3), duas horas após o início da manifestação, a tropa entrou no plenário para retirar os estudantes da casa, mas eles resistiram.
Deputados apoiam movimento dos estudantes
Deputados ligados a partidos de esquerda como PT, Psol e PCdoB acompanham a movimentação e esperam o processo de reintegração para acompanhar e tentar impedir que sejam agredidos pela PM.
Por volta das 13h desta quarta (4), o deputado Enio Tatto (PT), 1º secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, informou que as bancadas do PT e PCdoB entraram em acordo com Capez para garantir que os secundaristas possam se alimentar.
João Paulo Rillo (PT) esteve desde o início da ocupação, passou a madrugada na Assembleia e conta: “Situação mostra destempero do presidente da Casa, que tirou água e comida ontem e que decretou ponto facultativo”, disse Rillo. “Ocupação é legítima”, afirmou. E conclui: “Estudantes deram vida a esta Assembléia submissa”. E garantiu: “Este é um momento de glória. Vamos apoiar os estudantes, seja qual for a decisão dos estudantes – resistir ou sair após a reintegração de posse”, disse.
“Esta geração que está lá dentro e que está aqui fora é protagonista de uma mudança da história do Brasil”, elogiou Luiz Turco (PT-SP). A deputada Ana do Carmo (PT): “Vamos lutar, resistir e vencer. Fazem chantagem e ameaças até a gente perder a cabeça. Podem contar com apoio da nossa bancada”. Citou deputados do PT, do Psol e PcdoB e agradeceu o trabalho dos colegas.
O deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL) informou que não houve possiblidade de negociação entre manifestantes e a presidência da Alesp e que o deputado Fernando Capez (PSDB), já teria enviado o pedido de reintegração de posse. Ele também prestou solidariedade e apoio ao deputado Rillo, denunciando um movimento de deputados da base governista que querem criminalizá-lo, depois de ele oferecer ajuda aos estudantes.
Veja como foi a operação policial:
Pedido de CPI
Na manhã desta quarta-feira (4), os alunos fizeram uma assembleia e reforçaram que ficarão até conseguirem todas as assinaturas necessárias. Até o momento, 25 deputados assinaram o pedido de abertura da CPI, 7 a menos do que o necessário. “A educação pública do estado de São Paulo vai de mal a pior há muitos anos, e mais do que nunca os estudantes tem se mobilizado para mudar essa realidade”, afirmam os secundaristas na “Carta aberta aos estudantes ocupantes da Alesp: quem vai punir os ladrões de merenda?”, divulgada durante a madrugada.
Os estudantes lamentam que, depois de o movimento ocupar mais de 200 escolas em 2015, mais de mil salas de aula tenham sido fechadas em 2016. “É uma reorganização disfarçada e o mais grave de todos: a falta de merenda nas escolas estaduais em diversos lugares do estado de São Paulo. Descobrimos que há meses estava ‘abandonada’ no Ministério Público uma investigação sobre possíveis desvios da merenda. A investigação avançou e o presidente da ALESP, Fernando Capez (PSDB), foi desmascarado como o principal envolvido; junto ao ex-chefe de gabinete da Secretaria de Educação, Fernando Padula e outros servidores públicos do Governo do Estado de São Paulo”. Explicam também que, antes de decidir pela ocupação, já foram diversas vezes à Assembleia pedir aos deputados que investigassem o caso.
No plenário, os jovens pretendem realizar oficinas com professores e artistas, e debates com os deputados para reforçar o pedido de investigação. “A gente vai tentar chamar as pessoas para virem para frente da assembleia para construir uma mobilização para que a polícia compreenda que a gente não está sozinhos aqui dentro”, disse a presidenta União Brasileira dos Estudantes (UBES), Camila Lanes, à “Rede Brasil Atual”.
“Estamos ocupando para tentar achar o ladrão da merenda, que já sabemos o nome, sobrenome e o cargo que ele ocupa. Por isso, estamos aqui avisando que somente iremos nos retirar de dentro desse plenário quando a CPI da merenda for efetivada. Enquanto as escolas são sucateadas, Capez e Alckmin continuam enriquecendo”, afirmou Camila.
“É um movimento muito importante, democrático, uma aula de cidadania. Espero que os deputados e o governador ouçam esses estudantes”, avaliou o deputado estadual João Paulo Rillo (PT).
A Máfia da Merenda superfaturava o preço da merenda escolar e aumentava seus lucros com o fornecimento de alimentos de má qualidade para as crianças. Além disso, o esquema deixava de enviar parte da comida contratada, fazendo com que muitos alunos ficassem sem a alimentação adequada. Deputados petistas já haviam denunciado que a base governista ligada ao PSDB barrava a abertura da CPI.
Também na manhã de quarta-feira, estudantes protestaram em frente à sede estadual do PSDB de São Paulo para denunciar a reorganização escolar disfarçada.
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Da Redação da Agência PT de Notícias