Não há como falar sobre a democracia no Brasil sem falar de Dilma Rousseff, a primeira e única presidenta mulher da nossa história. Esse fato, por si só, já garante a Dilma um espaço privilegiado na nossa democracia. Em um país tão patriarcal, com uma política tão machista, em que as mulheres têm sempre tão pouco espaço, Dilma foi presidenta. Primeira e única. Presidenta da República e o debate linguístico sobre presidenta poder ou não ser uma palavra no feminino, é inaugurado com sua eleição. Sim, presidenta está correto e Dilma foi. Sim, as mulheres podem ser presidentas.
Sua atuação na luta contra a ditadura militar, página infeliz da nossa história, lhe confere assento no hall dos grandes lutadores da nossa pátria. Dilma, de forma abnegada, dedicou a vida pela libertação do nosso povo contra um regime opressor. Foi presa com 19 anos. Foi barbaramente torturada no pau de arara, com palmatória, com choques e socos e nunca delatou seus companheiros. É impossível não lembrar daquela resposta que deu ao então Senador Agripino Maia, quando o mesmo lhe interrogou sobre ter mentido nos seus depoimentos aos carrascos. Dilma corajosa, explicou que só compara ditadura com democracia quem não sabe o valor da segunda. Que mentir para os algozes sempre foi motivo de orgulho, porque salvou a vida de seus companheiros. Dilma orgulha nosso país e nosso partido. Dilma é relevante.
Dilma enfrentou um câncer e um golpe de Estado. Um golpe que não foi só contra ela, mas contra todo o país e também contra o PT e nossa história, com implicações que alteraram a correlação de forças no país, no continente e no mundo em desfavor da classe trabalhadora e em favor do grande capital transnacional, em particular o capital financeiro.
Não, o golpe não aconteceu por falta de habilidade política da presidenta Dilma. Quem tenta falsear a história para culpar uma pessoa por um golpe de Estado acha que o golpe no Chile teve Allende como único culpado? E os golpes na Argentina, quem são os culpados? E os recentes golpes da Bolívia, Paraguai e Honduras? Têm culpado único? Ou somente no Brasil a culpa única é imputada?
Mulheres na política aprendem isso desde que começam a militar. Não têm o direito ao erro. Precisam provar sua capacidade de forma muito mais enfática. E o erro coletivo boa parte das vezes é imputado às mulheres, que são recorrentemente silenciadas em todos os ambientes de luta política e vítimas de violência de gênero constantemente.
Voltando aos golpes de Estado, nem no Brasil e nem em nenhum lugar, eles têm culpado únicos. Golpes são fruto de articulação internacional, têm caráter estratégico e geopolítico. Os recentes golpes na América Latina foram uma resposta do imperialismo neoliberal aos avanços sociais e econômicos assegurados pelas políticas públicas e pelas opções de política externa desses governos.
No Brasil essas forças patrocinaram uma estratégia de desestabilização econômica, fragilização política e mobilização de massas, pondo em marcha um processo fraudulento do impeachment, contra uma presidenta que crime algum havia cometido. Romperam com o pacto e a Constituição de 1988.
Não é a toa que logo em seguida viabilizaram a prisão de Lula, maior líder popular do país, em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais no pleito de 2018 para eleger um governo de desmonte e entrega.
2022 será um ano chave para a nossa história. Derrotar o neofascismo e o neoliberalismo, eleger Lula presidente mobilizará cada instante de nossas vidas. Mas para isso, é preciso que reconheçamos a história.
Não é possível, portanto, que exista na esquerda quem negue a realidade do golpe contra Dilma. Seria negacionismo histórico e político. Aqueles que acham mais confortável negar o golpe, não serão capazes de superá-lo e isso implica em lutar contra suas graves consequências, entre elas mais de 600 mil vidas perdidas por Covid no Brasil.
Os que acham que não devemos mais falar em golpe, devem ser os mesmos que achavam que devíamos virar a página e não ter mais como nossa principal bandeira o “Lula Livre”. Estavam errados. É preciso lutar quando parece ser mais fácil ceder.
Aprendamos que a disputa eleitoral não pode ser a única frente da nossa atuação. Que para se vencer uma guerra político-cultural-ideológica são necessárias diversas frentes de atuação. Que o neofascismo não se derrota somente com acordos eleitorais. Que as mulheres são fundamentais para a luta política.
E aprendamos com Dilma Rousseff a não abaixar a cabeça e lutar incansavelmente!
Camila Moreno é membro da Executiva Nacional do PT