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Em queda livre, produção industrial cai pelo sexto mês consecutivo

Em novembro de 2021, setor estava 4,3% abaixo do nível pré-pandemia. Queda é produto da soma de inflação e juros em alta com precarização do emprego e renda baixa, diz IBGE

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O desastre da política industrial de Bolsonaro-Guedes continua

O processo de desindustrialização no Brasil se agudiza paulatinamente, mês a mês. A Pesquisa Industrial Mensal (PIM), anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (6), revela queda da produção industrial pelo sexto mês consecutivo em novembro de 2021. O indicador ficou em -0,2%.

Em onze meses de 2021, nove deles registraram queda, somando recuo de 4,0%, embora o período ainda aponte avanço de 4,7% frente ao mesmo intervalo de 2020. Isso ocorre devido à base de comparação – em 2020, no auge das medidas de isolamento social, a produção industrial sofreu queda de 4,5%.

“Quando olhamos para o ano anterior, os resultados ao longo de 2021 são quase sempre positivos, pois a base de comparação é baixa, já que no início da pandemia a indústria chegou a interromper as atividades”, observa o gerente da pesquisa, André Macedo. “Porém, analisando mês a mês, o setor industrial ainda sente muitas dificuldades, e se encontra 4,3% abaixo do patamar de produção em que estava em fevereiro de 2020.”

Macedo afirma que os ramos industriais mostraram um movimento diferente no segundo semestre. “Pouco menos da metade, doze de 26, dos ramos pesquisados tiveram resultados negativos. O que é algo diferente do que vínhamos observando, ou seja, mais atividades no campo negativo do que positivo”, aponta o economista.

Na comparação com novembro de 2020, a indústria recuou 4,4% em novembro de 2021, com resultados negativos em três das quatro grandes categorias econômicas, em 19 dos 26 ramos, 55 dos 79 grupos e 59,1% dos 805 produtos pesquisados.

O pesquisador lembra que o setor ainda sofre os efeitos da pandemia mundial, que provocou o desabastecimento de alguns insumos e encareceu o custo da produção. “Além disso, a indústria sofre com os juros em alta e a demanda em baixa, impactada pela inflação elevada e a precarização das condições de emprego, já que, com o rendimento mais baixo, o trabalhador consome menos”, acrescenta.

A conjuntura descrita por Macedo transparece na Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgado nesta quarta (5) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O indicador fechou 2021 em 71,6 pontos, com queda de 9,9% em relação ao registrado em 2020, que já apontara um tombo de 15,9%.

O ICF em 2021 atingiu o menor nível histórico, ficando abaixo do mínimo anterior, de 2016, quando fechou em 73,3 pontos. Desde 2015 o indicador não alcança o nível de satisfação, que é de 100 pontos.

Com relação ao quesito segurança em relação ao Emprego Atual, o indicador atingiu 89,3 pontos, uma queda de 9,5%, ficando no menor patamar da série histórica. Na Renda Atual, houve recuo de 14,8% em 2021, alcançando 78,1 pontos, também o menor nível histórico. Entre os entrevistados, 40,6% declararam que a renda está pior do que no ano passado, 40,2% disseram ser igual e 18,8% melhoraram a renda.

Na chamada “porta de fábrica” das Indústrias Extrativas e de Transformação, que aponta tendências inflacionárias, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) divulgado pelo IBGE nesta semana foi de 1,31% em novembro, a metade do registrado em outubro (2,26%). Mesmo assim, o acumulado no ano atingiu 28,36%, e o acumulado em 12 meses, 28,86%. Em novembro, 17 das 24 atividades apresentaram alta de preços.

Quadro de deterioração gera fuga de dinheiro

O quadro brasileiro de deterioração social e econômica, com desemprego, precarização do trabalho, queda da renda das famílias, descontrole inflacionário, juros em trajetória de alta e absoluta ausência de um projeto de país, continua afugentando investimentos externos. Pelo nono ano consecutivo, em 2021 o Brasil registrou mais saídas que entradas de dólares na área financeira.

O setor, que reúne investimentos estrangeiros em novas fábricas ou em empresas já em funcionamento, aportes em ações da Bolsa e demais ativos financeiros, remessas de lucro e pagamentos de juros no exterior, entre outras operações, apresentou saldo negativo de US$ 3,7 bilhões (R$ 21 bilhões) pela via financeira. Ano passado, entraram US$ 540,72 bilhões e saíram US$ 544,39 bilhões.

Em 2020, a saída de dólares na área havia sido ainda maior (US$ 51,17 bilhões). A última vez que o Brasil registrou resultado positivo pela via financeira foi em 2012, quando o país somou US$ 8,38 bilhões.

“Existe uma fraqueza em nossa condição fiscal. E os investidores acabam optando por mercados pares do Brasil, por países que tenham uma realidade menos complicada. Há 7 ou 8 anos estamos com uma situação fiscal difícil”, disse Cleber Alessie, gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM, ao UOL.

Para completar, o risco de mais fuga de dólares em 2022 cresceu com a publicação da ata da reunião de dezembro de 2021 do comitê de política monetária do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, nesta quarta. O documento revelou que seus membros concordaram que um aumento da taxa de juros pode ser necessário “mais cedo ou em um ritmo mais rápido do que os participantes haviam previsto anteriormente” para conter a inflação no país. A inflação nos Estados Unidos atingiu 6,8% em novembro do ano passado, a maior desde 1982.

No mesmo dia, o Ibovespa da Bolsa de São Paulo fechou com 2,4% de queda e o dólar, em alta (0,4%), voltando a bater em R$ 5,71, na terceira alta seguida nos primeiros dias de negociação neste ano. No confronto com os números do início do ano, apenas o dublê de ministro-banqueiro e ilusionista Paulo Guedes ainda é capaz de enxergar a “retomada econômica” brasileira em 2022.

Da Redação, com Imprensa IBGE