O repúdio de diferentes segmentos sociais contra o discurso fascista do candidato da extrema-direita e do PSL Jair Bolsonaro. Nesta sexta-feira (5), o ódio alimentado pelo radical fez com que judeus e muçulmanos que vivem no Brasil deixassem as diferenças históricas de lado e se unissem contra a postura fascista do deputado.
Em carta, dez grupos das duas comunidades e que representam mais de 15 mil pessoas revelam que a “bandeira comum, como muçulmanos e judeus é barrar toda forma de violência, de preconceito e qualquer outro elemento que dê base ao projeto fascista desse homem e de seus seguidores”.
Para as “Muçulmanas contra o fascismo”, um dos grupos que assinam o manifesto, é fundamental deixar claro a indignação com a realidade política e social a qual estão submetidos. “Somar em força e fé com a Comunidade Judaica que, de igual forma, não pode tolerar intolerância, desrespeito, formas e movimentos de separatismo e desigualdade. Juntamos forças e vamos juntos, por dias melhores a todas as criaturas. Particularmente, confesso uma enorme alegria nessa união de forças e coragem, junto às mulheres e homens da fé judaica”, declarou Regina de Oliveira, membro do grupo.
O mesmo pensa o judeu Michel Gherman, historiador e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudo Judaicos e Árabes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que também corroborou com o manifesto:“Judeus e muçulmanos do Brasil estão comprometidos com uma sociedade plural, mais justa e democrática. Ambos os grupos, com todas as suas contradições e questões, estão comprometidos na luta contra a candidatura da extrema-direita apresentada neste ano.”
Leia a carta na íntegra:
Judeus e Muçulmanos Unidos: Fascismo Não!
A cultura de tolerância religiosa é recente no Brasil. Nas raízes de nossa formação, encontra-se o massacre cultural imposto aos povos indígenas e africanos, obrigados a renunciar a suas crenças originárias e aceitar o poder dos senhores, aliados à estrutura da Igreja Católica. Com a tolerância advinda em meados do século passado, a partir do Concílio Vaticano II, uma nova onda de intolerância religiosa ganha ímpeto com o fanatismo de parte dos evangélicos neopentecostais, tendo como principais alvos as religiões de matriz africana.
Mesmo com os avanços legais que tornaram o Brasil um dos países mais avançados na criminalização do racismo e da discriminação religiosa, permanece em boa parte da sociedade brasileira o sentimento abafado do segregacionismo excludente. Na onda de ódio fomentada no país, nos últimos anos, a resistência cultural-religiosa desses povos passou a incomodar os setores de extrema direita, que passaram a ameaçar novamente a imposição de restrições às religiões não-cristãs, e a disseminar o medo.
Esse comportamento de uma parte da sociedade abre caminho ao cenário da ameaça fascista, solo fértil às hostilidades de raça, gênero e todas as demais discriminações sociais, hoje personificadas na figura de Jair Bolsonaro. Seu discurso deixa claro o intento de subjugar as minorias.
Os discursos de ódio, ironicamente, têm se aproveitado da liberdade de expressão, que não tem proteção contra a livre circulação de ideários fascistas.
Nós, muçulmanos e judeus, que conhecemos os horrores da islamofobia e do antissemitismo, temos a sensibilidade aguçada para perceber que, entre todas as barbaridades proferidas por este candidato, a mais emblemática, por atingir vários segmentos, foi a de que as minorias devem se curvar à maioria. Essa frase ecoa fundo no coração daqueles que sofrem diariamente a brutalidade do preconceito e da não aceitação, contrariando a nossa Constituição, que nos garante o direito de vivermos em um Estado Laico. As minorias religiosas se sentem ameaçadas em seus direitos à prática de seus cultos, e até mesmo, nas suas existências.
O discurso de ódio fomentou a união de muitos subsetores existentes nas mesmas minorias, e nos une contra o inimigo comum. Manifestamos o nosso mais profundo repúdio a todas as formas de intolerância que possam comprometer o convívio salutar dos cidadãos com todas as suas diferenças, sejam religiosas, de gênero, de cor ou de ideologia política. Ressaltamos que nossa luta não se restringe apenas à figura pessoal do candidato, mas a tudo que ele representa e todos os que reproduzem o seu discurso.
Nossa bandeira comum, como muçulmanos e judeus é barrar toda forma de violência, de preconceito e qualquer outro elemento que dê base ao projeto fascista desse homem e de seus seguidores.
Muçulmanos e judeus vão permanecer unidos depois das eleições de 2018. Nossa luta é perene, enquanto existirem nesse país sementes de fascismo, lá estaremos para tornar esse solo cada vez mais impermeável a esta ideologia.
Muçulmanos contra Bolsonaro
Coletivo Muçulmanas e Muçulmanos contra o Golpe
Mesquita Sumayyah Bint Khayyat – Comunidade Muçulmana de Embu das Artes (SP)
Muçulmanas em Manifesto contra o Fascismo
Judeus contra Bolsonaro
Frente Judaica para os Direitos Humanos
Articulação Judaica
Meretz Brasil
Movimento de Mulheres Mê Dê a Sua Mão
Forum de Judeus Sionistas-Socialistas Pró-Palestina
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da Revista Época