“É uma pessoa de absoluta correição”. A declaração de Sérgio Moro, durante a audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, sobre o advogado Marlus Arns reforça o caráter contraditório das respostas do ex-juiz. Isso porque o ministro de Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, no mesmo questionamento, que “não tem nenhuma relação” com o Arns, que é acusado por Rodrigo Tacla Duran de extorsão para livrá-lo da cadeia.
Durante a audiência, a presidenta nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, questionou: “Eu quero te fazer perguntas bem objetivas, o senhor diz ‘sim’ ou não’, pode ser com a cabeça: sua esposa, Rosângela Moro, trabalhou ou teve escritório com os advogados Marlus Arns e Carlos Zucolloto? Outra pergunta: o senhor ou a sua esposa mantêm ou mantiveram contas no exterior? Já receberam valores no exterior?”. O ex-juiz, por sua vez, disse que “não tem nenhuma relação” com Arns, e ainda afirmou que “até onde tem presente, é uma pessoa com absoluta correição”.
Extorsão e conta na Suíça
O advogado defendido por Moro é acusado por Duran, que já defendeu a Odebrecht no âmbito da Lava Jato, de ter cobrado US$ 5 milhões para aliviar sua prisão, o que sugere que Arns teria influência sobre as decisões do ex-juiz. Duran, por sua vez, diz ter pago apenas a “primeira parcela”, de US$ 612 mil, antes de fugir para a Espanha. Ele acabou preso ao desembarcar no aeroporto de Madri, em 18 de novembro em 2016, e ficou 70 dias detido, após mandado de Moro. A Lava Jato pediu sua extradição para o governo espanhol, que negou.
O jornalista Jamil Chade do UOL teve acesso a um documento enviado por advogados de Durán ao Ministério Público da Suíça, que investiga uma transferência suspeita de 612 mil dólares realizada por ele. Ainda segundo a publicação, o ex-defensor da Odebrecht disse que fez o pagamento para que seu nome não fosse incluído em delações premiadas de outros acusados.
O documento obtido pelo jornalista aponta que no dia 14 de julho de 2016, um pagamento ocorreu e teria sido feito a partir de um banco em Genebra para a conta do escritório Arns de Oliveira & Andreazza Advogados Associados, com sede em Curitiba. Naquele dia, Durán depositou US$ 612 mil ao advogado Marlus Arns em uma conta no Banco Paulista. As informações fazem parte de documentos que constam de processos na Suíça.
Arns sócio de Rosângela Moro
Reportagem do Diário do Centro do Mundo, em parceria com o GGN, mostrou que a ligação de Marlus Arns e Rosângela Moro, esposa do ex-juiz, é extensa. Os dois atuaram como sócios na falência da GVA, fábrica de placas de madeirit, em Guapuava, no Paraná. A falência da GVA é citada no livro Poder, Dinheiro e Corrupção — Os bastidores da CPI da Falências”, escrito pelo ex-deputado estadual Fábio Camargo, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Arns também é advogado da Federação das APAEs do Estado, entidade da qual Rosângela Moro é procuradora.
Segundo a publicação do DCM, “é uma panela, da qual faziam parte Marlus, Carlos Zucolotto Júnior, Rosângela (e por extensão Sergio Moro), Deltan Dallagnol e outros procuradores”. A publicação ainda questiona quais as motivações do então juiz Moro de nunca deferir pedidos para que Durán fosse ouvido nos processos da Lava Jato:
“O dinheiro transferido da Suíça para a conta Marlus Arns pode ser rastreado. Pode estar aí a explicação para a recusa sistemática do então juiz Sérgio Moro de tomar o depoimento de Tacla Durán, como testemunha arrolada pela defesa de Lula”, destacou o DCM.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações de Jamil Chade e Diário do Centro do Mundo