A sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito do MST, realizada nesta terça-feira (15), na Câmara dos Deputados, foi histórica para a defesa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Em entrevista ao Jornal PT Brasil de hoje (16), Ayala Ferreira, dirigente Nacional do Setor de Direitos Humanos do MST e coordenadora de núcleo sobre a CPI em Brasília, afirmou que a sessão deu uma nova dimensão para a defesa da luta social a partir da repercussão alcançada pelo depoimento de João Pedro Stédile, líder do MST.
“O companheiro Stédile trouxe questões fundamentais para compreendermos a natureza dessa CPI, mas sobretudo aponta os desafios que estão colocados ao movimento, à sociedade brasileira e ao próprio governo Lula acerca daquilo que deveria ser fundamental”, afirmou Ayala.
A Comissão Parlamentar de Inquérito tem maioria que é vinculada a um setor do “latifúndio atrasado que desmata, concentra a terra e pratica violências”. “Então, esse núcleo articulado nós chamamos de projeto agromilitar, projeto bolsonarista que foi responsável pela tentativa de golpe de 8 de janeiro. É esse grupo que coordena todo o processo da CPI do MST”, comentou.
Durante a sua inquirição pela CPI, Stédile deu uma verdadeira aula de história, contextualizando o papel de movimentos sociais na luta pela terra e contradizendo o discurso de criminalização do movimento por bolsonaristas na CPI.
Stédile foi à CPI amparado por amplo apoio de movimentos sociais, de parlamentares do PT e de partidos de esquerda, além do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT). Em diversos momentos, enquanto proliferavam ataques bolsonaristas, Stédile era cordialmente cumprimentado por deputados federais e senadores.
“Não dá para esperar outra coisa de um setor que a gente sabe que, declaradamente, é contra todos os processos de participação e organização populares, reforçando no próprio governo Lula a implementação daqueles direitos que foram negados em governos anteriores”, disse a coordenadora, fazendo referência ao grupo político que controla a CPI.
A dirigente nacional do MST comentou que o objetivo bolsonarista era desestabilizar Stédile para que, eventualmente, ele saísse preso da sessão. “A coisa boa é que João Pedro não foi lá convencê-los do projeto de reforma agrária, mesmo porque eles têm um lado. Ele foi muito paciente e didático falar para o povo brasileiro e trouxe questões fundamentais sobre a pauta da reforma agrária e as conquistas que o Movimento Sem Terra obteve em quase 40 anos de existência”.
Ayla falou que Stédile apresentou uma pauta da agricultura familiar e da reforma agrária que determinados setores não conhecem. “O MST é sério, tem princípios, acredita profundamente nesse esforço de organizar os trabalhadores e as trabalhadoras em uma questão tão necessária hoje que é enfrentar as desigualdades, a fome e a miséria no nosso país com a implementação da reforma agrária.”
A coordenadora de núcleo relatou ainda a ampliação de armazéns do campo, projeto do MST de levar comida saudável da agricultura familiar, livre de agrotóxicos e a preços competitivos, para serem comercializados em um número maior de cidades. “É a nossa meta seguir ampliando esse projeto, que tem sido o esforço de levar os produtos fruto do trabalho dos camponeses e das camponesas do MST para as cidades.”
A dirigente chamou as pessoas a apoiarem a campanha “MST em Debate”, abaixo-assinado em contraponto à tentativa de criminalização do MST. A carta pode ser assinada clicando aqui. Cerca de 50 mil pessoas já aderiram ao documento, que tem como meta 100 mil assinaturas.
Da Redação