“Pela vida das pessoas e de todos os animais.” Foi com esse lema que surgiu o mais novo setorial criado pelo Partido dos Trabalhadores, dedicado aos direitos animais e responsável por pensar políticas que contemplem animais domesticados, familiares, silvestres e também aqueles explorados pela indústria e pela ciência, para o quais é preciso criar proteções que impeçam a crueldade extrema.
Além disso, como o próprio lema já deixa claro, o grupo não se esquece do animal humano, como muito bem explica a coordenadora nacional do Setorial de Direitos Animais do PT, Vanessa Negrini:
Não se trata de um Setorial para tratar apenas de cães e gatos, embora também sejam importantes. É um Setorial que luta pela vida das pessoas e de todos os animais, pois direitos humanos e direitos animais estão conectados. Com quase 600 mil mortos pelo coronavírus no país, é preciso lembrar que essa doença é uma zoonose, fruto da exploração predatória do ser humano contra o meio ambiente e as outras formas de vida, fruto das nossas escolhas por um modelo de produção que viola os direitos animais e favorece a propagação de doenças.”
Política nacional
Uma das primeiras ações do novo colegiado foi a elaboração de um manifesto com princípios e diretrizes e a reunião de sugestões para uma política nacional a respeito do tema, entregues ao presidente Lula e à presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), durante encontro no último dia 7.
De acordo com os documentos preparados, relatório de 2013 da Organização das Nações Unidas (ONU) já indicava que ao menos 70% das enfermidades que apareceram a partir da década de 1940 tiveram origem na exploração animal.
A expansão agrícola e a interatividade entre animais humanos e não humanos fizeram com que novas doenças surgissem e se disseminassem rapidamente, como o HIV-1, doença da vaca louca, síndrome respiratória aguda grave (Sars), gripe suína e gripe aviária. A Covid-19 é mais um capítulo dessa trágica história, que mostra como a violação dos direitos animais vitima também os humanos.
Outra preocupação do Setorial de Direitos Animais do PT é com a redução da oferta global de água e alimentos, provocada pela pecuária industrial, que estimula a produção de alimentos que servem de ração (como a soja) em detrimento de culturas cujo destino direto é a alimentação humana.
Mais de 40% dos grãos mundiais são dados para os animais na produção industrial de carne, que para produzir 1kg de proteína animal, utiliza em média 6kg de proteína vegetal proveniente de grãos e forragem, além de 15 mil litros de água.
A importância do setorial
Cada vez mais, a sociedade se preocupa e reivindica os direitos animais. Em 43% dos lares brasileiros, há pelo menos um cão e, em 19%, vive pelo menos um gato. Além disso, 14% dos brasileiros são veganos ou vegetarianos, um universo de 30 milhões de pessoas que decidiram mudar sua alimentação e estilo de vida por respeito aos aos animais.
O PT, sendo o maior partido do Brasil, certamente está atento ao que 30 milhões de pessoas dizem: é preciso tratar os animais de forma digna e é fundamental priorizar um sistema de alimentação que preserve o meio ambiente, os direitos animais e a saúde humana. “A luta por uma sociedade melhor, onde não haja explorados nem exploradores, que haja justiça entre a humanidade, prescinde também da luta para que no futuro aconteça a libertação dos animais”, disse Gleisi Hoffmann, durante o seminário inaugural do setorial, em junho passado.
O Setorial de Direitos Animais chega para fazer este debate dentro e fora do partido. As soluções passam pela valorização dos pequenos agricultores e da agricultura familiar e orgânica, livre de agrotóxicos, e pela educação sobre os direitos animais e ambientais. Passam também pela possibilidade de inovar, tornando o Brasil um país líder internacional em agricultura celular, pela qual já é possível produzir carne em laboratório, sem matar um só animal. Israel já inaugurou a primeira fábrica do gênero, mas o PT acredita ser possível fazer com que o Brasil lidere esse mercado, ao passo que reduza a emissão de metano, o uso da água e da terra, previna novos surtos virais e liberte do sofrimento bilhões de animais.
No encontro, o presidente Lula mostrou-se muito interessado ao saber que, em comparação com o método tradicional, a carne cultivada em laboratório emite 80% menos gases do efeito estufa, utiliza 96% a menos de água e necessita de 99% a menos de terra.
A agenda também foi acompanhada pelo porta-voz da Frente de Ações pela Libertação Animal (Fala), Bruno Pinheiro, que apresentou dados do projeto Voto Animal, que acompanha o desempenho de candidaturas animalistas em todo o Brasil. “De todo trabalho que faço acompanhando alguns partidos políticos, assessorando voluntariamente sobre a pauta animal, este é sem dúvida o movimento partidário mais organizado em defesa dos direitos animais”, afirmou.
Da Redação