Partido dos Trabalhadores

Pazuello, na CPI, diante de 440 mil mortos: “Missão cumprida”

Contradições, mentiras e desrespeito marcaram depoimento de ex-ministro à CPI da Covid nesta quarta (19). General foi desmentido até pelo TCU. “Peça desculpas ao povo brasileiro”, cobrou Humberto Costa

Foto: Agência Senado

"O senhor não devia ser leal a um governo, devia ser leal ao povo brasileiro, que quer saber de quem é a responsabilidade, porque não tem vacina, kit intubação, teste", afirmou o senador Humberto Costa

O depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, no Senado, nesta quarta-feira (19), foi recheado de contradições e mentiras. Pazuello foi pressionado a responder sobre a demora para aquisições de vacinas pelo governo federal, a recomendação do uso de cloroquina para tratamento de Covid-19, a falta de oxigênio em Manaus, que causou a morte de dezenas de pacientes, e a adesão de apenas 10% de vacinas ao consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Prolixo, evasivo, impaciente e desrespeitoso com o relator Renan Calheiros, Pazuello fez de tudo para escapar de questões espinhosas para o governo Bolsonaro, cuja gestão desastrosa da pandemia gerou quase 440 mil mortos. Destes, mais de 270 mil óbitos ocorreram durante o período em que o general esteve à frente do ministério. Indagado sobre as razões para sua demissão da Saúde, Pazuello devolveu, de imediato: “Missão cumprida”. Ele estava a poucos metros de uma placa posicionada à frente de Renan, com o número total de mortos pela doença: 439.379.

Pazuello caiu em contradição ao ser indagado sobre sua declaração, dada em outubro, ao lado de Bolsonaro, de que “um manda, o outro obedece”. Na véspera, Bolsonaro havia desautorizado o então ministro a comprar a vacina Coronavac, do Instituto Butantan.

“Nunca o Presidente da República mandou eu desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan”, mentiu o ex-ministro. “Em nenhuma vez”. E completou o argumento: “E eu gostaria de colocar uma coisa aqui diretamente: eu queria lembrar que o presidente fala como chefe de estado, chefe de governo, como comandante-chefe das forças armadas, chefe da administração federal, mas fala também como agente político”, declarou, explicando sabe-se lá o quê. 

Livrar a cara de Bolsonaro

O senador Humberto Costa (PT-PE) cuidou então de apontar a verdade dos fatos: Pazuello, ao contrário do que afirmou, jamais teve autonomia à frente da pasta e agora faz de tudo para proteger Bolsonaro. Segundo o senador, o presidente é quem deveria estar na frente dos senadores, na CPI, para responder pela tragédia brasileira.

“O senhor vem aqui para livrar a cara de Bolsonaro por essa situação”, disse Costa. “Mas o senhor não devia ser leal a um governo, devia ser leal ao povo brasileiro, que quer saber de quem é a responsabilidade, porque não tem vacina, kit intubação, teste. Por que o Brasil virou esse pária mundial e uma ameaça sanitária para o mundo?”

O senador indagou ainda se valia a pena o ex-ministro responder “a um caminhão de processos” só por lealdade a Bolsonaro, alguém que não gosta do povo, é incompetente e só pensa no poder. “Peça desculpas ao povo brasileiro”, inquiriu Costa.

Cloroquina e Covax

Costa também acusou Pazuello de apresentar informações equivocadas sobre cloroquina e vacinas. “Pazuello foi aquele que aplicou a imunidade de rebanho, enquanto ludibriava o povo com cloroquina”, apontou o senador. “Ele cumpriu a ordem do líder para a “solução final”. Sua “missão cumprida” são 440 mil mortos até hoje”.

Costa citou a adesão tardia e de apenas 10% das ofertas do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Pazuello disse que a negociação com o consórcio começou de forma “nebulosa”. “Não havia bases, o preço inicial eram 40 dólares cada vacina, e assim começou a discussão. Não havia garantia de fornecimento”, declarou o ex-ministro.

Pzifer

Sobre a oferta de vacinas da Pfizer, Pazuello afirmou que respondeu todas as ofertas de vacinas da Pfizer mas que as negociações não avançaram no primeiro semestre de 2020 pela imposição de “cláusulas assustadoras” no contrato. Ele desmentiu o CEO da Pfizer, Carlos Murillo, e o ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten, que afirmaram que as ofertas foram ignoradas pelo Ministério da Saúde.

O ex-ministro confirmou que assinou um Memorando de Entendimentos (MOU) apenas em dezembro de 2020, a despeito de, segundo ele, parecer contrário da Controladoria-Geral da União (CGU), da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU).

Mais adiante, na sessão, foi desmentido pelo TCU, que afirmou ao relator Renan Calheiros que não recomendou a recusa da vacina. Pazuello  se desculpou e disse que confundiu o órgão com a CGU.

Crise em Manaus

Pazuello também foi desmentido ao afirmar que foi informado sobre o risco de desabastecimento de oxigênio em Manaus no dia 10 de janeiro, durante a noite. “Temos o acesso do inquérito do Ministério Público, que trata de Manaus, e a informação que temos e que o Ministério da Saúde foi informado da iminência de falta de oxigênio no dia 8 de janeiro”, rebateu Humberto Costa.

Ele também foi desmascarado quando disse que o estoque de oxigênio na capital amazonense ficou “negativo” por apenas três dias, entre os dias 13 e 15 de janeiro de 2021. “Informação errada, mentirosa”, bradou o senador Eduardo Braga (MDB-AM). “Não faltou oxigênio no Amazonas apenas 3 dias. Faltou oxigênio na cidade de Manaus por mais de 20 dias. É só ver o número de mortos. É só ver o desespero”, denunciou.

Humberto Costa condenou o ministro pelo envio de cloroquina ao Amazonas, em meio ao momento mais agudo da pandemia. “Mandaram 224 mil comprimidos de cloroquina quando o povo precisava de oxigênio. Só em Manaus foram 47.960”, criticou o senador. “E ainda aquela senhora [Mayra Pinheiro], que vem depor amanhã, saiu visitando os lugares para convencer os médicos a usar a cloroquina”, lamentou Costa.

Da Redação