Temendo o avanço das investigações contra seu filho, o senador Flávio (PSL-RJ), Jair Bolsonaro (PSL) demitiu o superintendente da Polícia Federal do Rio, Ricardo Saadi. Essa foi a primeira vez que um comandante da PF foi afastado por decisão presidencial, segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada nesta sexta-feira (16).
Saadi não não tinha ingerência direta sobre as investigações de envolvimento do clã Bolsonaro com milícias cariocas, mas atuava em sintonia com os responsáveis pelo caso. Aliados do governo ouvidos pela Folha afirmaram que Bolsonaro temia que as investigações contra seu filho mais velho atingissem sua imagem.
As suspeitas contra Flávio tiveram início em dezembro, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações atípicas do ex-assessor Fabrício Queiroz. Desde então, as investigações apontam que Queiroz gerenciava um esquema de rachadinha – nome dado a devolução de parte dos salários de servidores – no gabinete do primogênito, há época deputado estadual do Rio. O decorrer das investigações revelou ainda que parentes de milicianos foram nomeados para trabalhar no gabinete de Flávio.
A Folha lembra que, em março do ano passado, quando a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) foi brutalmente assassinada junto com seu motorista Anderson Gomes, uma investigação da Polícia Civil terminou sob intervenção por suspeita de tentar tirar o foco de milicianos no envolvimento com o crime. Um grupo na PF foi criado para investigar o caso por determinação do Ministério de Segurança Púbica e da Procuradoria-Geral da República. Essas investigações são sigilosas e trabalharam em coordenação com Saadi e com o Ministério Público do Rio.
Paralelamente, as investigações sobre o caso Queiroz vão evidenciando a relação entre o clã Bolsonaro e as milícias do Rio de Janeiro. A família já usou espaços do poder legislativo diversas vezes para defender esses grupos para-militares.
Interlocutores ouvidos pela Folha especulam se Saadi teria sido usado como um bote expiatório ou se foi demitido devido ao tipo de informação a que teve acesso. Ele assumiu em fevereiro do ano passado e, devido ao desgaste interno, havia sido colocado na rotação natural de cargos da PF, processo que estava sendo tocado com naturalidade até a intervenção direta de Jair Bolsonaro.
Na quinta-feira (15), o chefe do clã Bolsonaro anunciou a demissão do superintendente da Polícia Federal. A interferência é tanta que ele também não queria aceitar o substituto indicado para o cargo, Calos Henrique Oliveira, superintendente da PF de Pernambuco. No lugar dele, Bolsonaro queria que fosse nomeado o chefe da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva.
Jair só moderou o discurso quando superintendes ameaçaram uma renúncia geral caso Oliveira não fosse efetivado no Rio, mas a disputa permanece. Devido a interferência sem precedentes, delegados também ameaçam um pedido de demissão coletiva, segundo informou a coluna de Mônica Bergamo, deste sábado (17) na Folha.
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações da Folha de S. Paulo