Fabrício Queiroz teria matado duas pessoas e agredido esposa, revela Veja

Ex-assessor de Flávio e amigo da família Bolsonaro investigado por movimentações financeiras atípicas tem passado marcado por assassinatos e agressão

Reprodução/SBT

Durante cinco semanas, a reportagem da revista Veja afirma ter se dedicado a investigar 20 boletins de ocorrência e uma dezena de inquéritos que envolvem Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e que é investigado pelo Ministério Público por enriquecimento ilícito e desvios de recursos públicos. Destes, a revista diz que se aprofundou em seis BOs. E que neles, o que resta é um retrato de um policial violento e temido.

As duas ocorrências de mortes suspeitas teriam ocorrido quando Queiroz trabalhava no 18º Batalhão da PM, em Jacarepaguá, Zona Oeste carioca.

Segundo a revista, em Em uma delas, seu parceiro era um PM que entrara no 18º em 2003 e lá permanecera por seis meses: o então tenente Adriano de Nobrega, atirador de primeira que anos depois chefiaria uma milícia.

Juntos, Adriano e o sargento Queiroz atiraram em Anderson Rosa de Souza por volta de 0h30 de 15 de maio de 2003, durante uma ronda na Cidade de Deus.

Souza morreu em consequência dos tiros, e a dupla, na madrugada, foi a uma delegacia registrar o que qualificou de auto de resistência — na sua versão, dispararam para se defender.

Ainda segundo a revista Veja, no inquérito que se seguiu (em que aparecem como testemunhas, em vez de atiradores, por ser deles o relato dos fatos) consta que os dois e mais quatro policiais foram atacados “por vários indivíduos armados”. Só Queiroz e Adriano revidaram à “injusta agressão”. Perseguiram os “meliantes”, que por sua vez corriam, paravam e atiravam contra os “milicianos” — este o termo usado na transcrição, que provavelmente não tinha o significado de agora. A vítima, segundo contaram Queiroz e Adriano, atuava como gerente do tráfico local.

A certidão de óbito (veja trecho na pág. 45) de Souza, pai de dois filhos, técnico de refrigeração, menciona ferimentos por arma de fogo na cabeça, pulmão e baço. Passados dezesseis anos, o inquérito permanece em aberto. Já percorreu 72 vezes o caminho entre a 32ª Delegacia Policial, que investiga, e o Ministério Público, que pede mais apurações.

Queiroz também está envolvido em outra morte na mesma Cidade de Deus, na noite de 16 de novembro de 2002 (um mês antes da chegada do seu parceiro Adriano ao batalhão).

Policiais escondidos em uma laje trocaram tiros com bandidos durante um baile funk. Moradores que lembram do caso — e preferem não se identificar — afirmam que o motivo do tiroteio foi o não pagamento de propina para a realização do baile.

Dois rapazes ficaram feridos — um deles, Gênesis Luiz da Silva, de 19 anos, levou um tiro nas costas, que entrou pelo pescoço e saiu na altura do nariz, e morreu 25 minutos depois de chegar ao hospital. Novamente, Queiroz e outro policial, os atiradores da noite, foram à delegacia registrar o auto de resistência — mataram para se defender. Também esse inquérito está aberto, sem desfecho.

Testemunhas ouvidas pela revista VEJA contam que os PMs puseram os feridos em uma viatura e ficaram dando voltas pela favela. “O médico disse que, se o Gênesis tivesse chegado um pouco antes, teria sobrevivido”, lembra uma delas.

O parceiro de Queiroz na primeira morte citada no texto, Adriano de Nobrega nunca foi esquecido pelo coleta. Por iniciativa do deputado Flávio Bolsonaro, a quem Queiroz serviu por um longo período, Adriano recebeu uma menção honrosa da Alerj. Dois anos depois, com o mesmo patrocínio, ganhou uma comenda. A entrega da comenda foi na cadeia, onde Adriano de Nobrega, hoje chefão miliciano, estava preso e sendo julgado por homicídio (o então deputado federal Jair Bolsonaro foi ao tribunal prestar solidariedade e denunciou na tribuna da Câmara a condenação do policial, depois revertida).

Adriano de Nobrega acabaria expulso da PM em 2014, por ligações com bicheiros, e desde janeiro é foragido da polícia. Ele, além da milícia na Zona Oeste, comanda o Escritório do Crime, quadrilha especializada em assassinatos por encomenda.

Agressão à esposa

A revista Veja ainda revela que Queiroz voltaria às fichas de ocorrência policial em 2008, quando Marcia Aguiar (que também trabalhou no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj) foi à Delegacia da Mulher de Jacarepaguá relatar ter sido vítima de “vários socos na cabeça, costela e braços” desferidos pelo marido.

A esposa solicitou uma ordem restritiva para mantê-lo longe dela e contou ter sido agredida outras vezes. Uma semana depois, foi a vez de Queiroz confirmar que o casal chegara às “vias de fato” depois de uma discussão por “motivo familiar”. Mas Marcia desistiu da medida restritiva, abriu mão de fazer o exame de corpo de delito, e em setembro de 2010 o caso foi arquivado.

Desde janeiro, quando se submeteu a uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino, Queiroz está sumido. Faltou a reiteradas convocações para depor, alegando motivo de saúde. Para cuidarem do pai, sua mulher e filhas, igualmente convocadas por suspeita de implicação no esquema, sumiram e não falaram à polícia. O processo se arrasta na Justiça sem que se saiba do paradeiro do principal envolvido — alegando necessidade de um tratamento de quimioterapia em São Paulo, Queiroz não tem sido localizado.

Veja afirma ter percorrido vários endereços conhecidos na Zona Oeste do Rio como habitualmente frequentados pela família Queiroz.

No mais frequentado, uma casa em uma vila humilde no bairro da Taquara, encontrou um pedreiro que disse que Márcia, sua esposa, tinha estado lá recentemente e saiu carregando sacolas cheias de roupa. Um carro registrado em nome dela fica estacionado na entrada da vila. No prédio onde a ex-mulher de Queiroz, Débora, morou com as duas filhas do casal (elas também agregadas, claro, ao gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj), o porteiro afirmou que o apartamento está vazio.

No endereço citado em um habeas-corpus impetrado pela família Queiroz contra a quebra de seus sigilos bancário e fiscal reside uma das filhas, Evelyn. A outra, Nathalia, voltou a viver e trabalhar na Barra da Tijuca. O álibi delas à justiça é que não vão às audiências porque estão em local desconhecido cuidando do pai.

Por Revista Fórum 

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