Curitiba. Dois de agosto de 2018. Bairro Santa Cândida. Os termômetros oscilam entre 10 e 12 graus logo nas primeiras horas da manhã. Café e mate esquentam o corpo ainda sonolento dos que há 118 dias permanecem em resistência contra a prisão injusta de Lula e pela volta a um passado que tinha cara de futuro com direitos e democracia.
A luta é árdua e cansativa. Jamais triste e monótona. Todos os dias dezenas de brasileiros e brasileiras (não raro na companhia de gringos de todos os cantos) fazem da Vigília Lula Livre um dos mais simbólicos exemplos de espírito coletivo que se tem notícia.
Basta notar a reação dos que a veem pela primeira vez para se ter a certeza de que se trata, sim, de um local que transcende o tempo: nos faz rir, cantar, mas também chorar e se enfurecer quando olhamos para o outro lado da rua. Todos procuram com os olhos algum sinal de Lula, quem sabe um aceno inesperado na janela ou, vá lá, que ele merecidamente saia pela porta da frente honrado e com o perdão de seus detratores.
Mas nada. Tudo o que vemos é concreto, frio e soturno. Nem a presença de Chico Buarque e Martinho da Vila consegue tirar o ranço daquele prédio da PF. Por isso, para não cair em desânimo todos sempre dão um jeito de celebrar, mesmo que com indignação.
Na data em especial, com a presença da Caravana do Semiárido contra a Fome, a Vigília ganhou mais um notório capítulo em sua história. Houve de tudo um pouco: de depoimentos marcantes sobre o estrago que o golpe tem causado aos trabalhadores do campo ao plantio simbólico de uma araucária nos arredores, o dia foi tão intenso que todos custavam a ir embora. Gente do Brasil todo se unia para cantar e clamar pela soltura imediata do homem que os levou até ali.
Agora novamente na estrada fica difícil não sentir um aperto enorme do peito. Sabemos (e torcemos) para que logo a Vigília logo se acabe e Lula volte aos braços do povo. Mesmo assim, o local já é eterno. Tão eterno quanto o sonho por um Brasil sem golpe e sem miséria. Obrigado, Vigília.
Sobre a caravana
O Brasil deixou o Mapa da Fome da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) apenas em 2014, mas com as políticas nefastas de Temer, já corre o risco de retornar para esse inglório patamar.
Diante desse cenário, organizações, redes e movimentos sociais do campo popular e democrático do Semiárido vão cruzar o país para chamar a atenção da sociedade e dos agentes públicos do Estado sobre os riscos da volta da fome e ao mesmo anunciar os avanços e conquistas que milhares de famílias tiveram a partir do acesso à água, ao crédito, a assistência técnica nos últimos anos.
O projeto está percorrendo mais de 4.300 quilômetros do sertão de Pernambuco até a capital federal. O comboio começou no dia 27 de julho, em Caetés (PE), com paradas estratégicas em Feira de Santana (BA), Guararema (SP), Curitiba (PR) até o destino final Brasília (DF), no dia 07 de agosto, onde a caravana pretende denunciar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a situação de fome que atinge o país.
Por Henrique Nunes, enviado especial à Caravana do Semiárido contra a Fome, para a Agência PT de notícias