Depois de uma campanha eleitoral de notícias falsas contra opositores na internet, nas redes sociais e no Whatsapp, Jair Bolsonaro mostrou que também mentiu sobre como seu governo trataria a máquina do Estado. Ele dizia que iria “enxugar a máquina pública”, mas criou sete ministérios a mais do que se comprometeu nas eleições, muitos deles com notórios corruptos.
A proposta inicial era “cortar o número de ministérios pela metade”, conforme publicou a Reuters em junho. Depois ele fixou o número em 15, segundo noticiou o G1. Ao final da transição, ele chega a um total de 22 ministérios, cortando apenas aqueles que beneficiam o trabalhador e as populações menos favorecidas. Além de tudo isso, Bolsonaro tem pelo menos nove envolvidos ou investigados por casos de corrupção chefiando as pastas.
Empurrando suas falsas promessas eleitoreiras, agora ele fala em “funcionalidade” da Esplanada. “Não vai chegar a 20 [ministérios], não, tá? É 20 no máximo ali. Porque a gente vai vendo, por uma governabilidade até, não podemos sobrecarregar demais uma pessoa em um ministério. Então, refizemos alguma coisa”, chegou a afirmar o presidente eleito, antes de aumentar novamente o número de pastas.
Confira os nomes:
Ministério da Economia: Paulo Guedes – o futuro ministro da Economia de Bolsonaro é investigado pelo MPF por fraudes de até R$ 1 bilhão em negócios de fundos de pensão estatais da Caixa, Petrobras, Banco do Brasil, Correios e BNDES. O depoimento do economista foi adiado do dia 6 de novembro e ele ainda deve comparecer ao MPF. Guedes também é conhecido por ser uma ‘Chicago Boy’, grupo de economistas de ideias ultraliberais que foram aplicadas na ditadura de Pinochet no Chile e arruinaram a economia, o sistema de educação e aposentadorias do país.
Casa Civil: Onyx Lorenzoni – braço direito de Bolsonaro, o deputado será o responsável por fazer a articulação com o Congresso. Lorenzoni ficou conhecido, em 2016, por ser o relator do pacote de medidas de combate à corrupção. É aí que a casa cai. Ainda em 2016, ele pediu a punição para caixa 2, ‘sem desculpinha’, mas um ano depois, confessou ter recebido R$ 100 mil em caixa 2 da empresa JBS, envolvida na Lava Jato, para pagar dívidas da campanha eleitoral de 2014. Na época, Lorenzoni alegou que não tinha como declarar o valor no TSE. Agora, a JBS entregou uma planilha ao MPF que mostra outro repasse de caixa 2 de R$ 100 mil. Será que este ele também vai confessar?
Secretaria-Geral da presidência: Gustavo Bebianno – Advogado de formação, Gustavo Bebianno presidiu o partido de Bolsonaro, o PSL, durante a campanha eleitoral. Ao ser anunciado como o futuro ministro, Bebianno disse que sua pasta seria a responsável por tocar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), criado pelo golpista Michel Temer, com o objetivo de acelerar privatizações e concessões de serviços públicos, como rodovias e aeroportos.
Ministério da Saúde: Luiz Henrique Mandetta – ele é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e Caixa 2 na implementação de um sistema de informatização da Secretaria de Saúde de Campo Grande (MS), onde foi secretário. O deputado do DEM teria influenciado a contratação de empresas para o serviço, conhecido como Gisa (Gestão de Informação da Saúde), em troca de favores em campanha eleitoral. Na ação civil pública, o Judiciário do MS mandou bloquear R$ 16 milhões de bens do deputado e dos demais envolvidos
Gabinete de Segurança Institucional: Augusto Heleno – O general da reserva já foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por autorizar convênios ilegais que custaram R$ 22 milhões ao governo e favoreceram militares conhecidos, em 2013. Segundo o TCU, os convênios firmados por Heleno deveriam ter sido feitos por meio de licitação, o que não ocorreu. Ainda segundo o tribunal, os acordos não se justificavam porque o Exército e as entidades estavam “em desacordo com os preceitos legais e a jurisprudência” da própria Corte. Na época, o general de Bolsonaro disse que não tinha conhecimentos necessários para impedir a realização dos convênios, ainda que fosse o chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército.
Ministério da Justiça: Sérgio Moro – Bolsonaro chegou a dizer que Moro parecia “um jovem universitário recebendo seu diploma”. Não é para menos, afinal Moro estava recebendo sua recompensa por ter tirado o principal adversário de Bolsonaro das Eleições 2018, ao condenar Lula sem nenhuma prova. Ao longo de sua perseguição ao ex-presidente, o juiz coleciona arbitrariedades e irregularidades na condução dos processos. Moro já foi apontado, pelo Wikileaks, como um agente dos interesses dos EUA no Pré-sal.
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações: Marcos Pontes – o astronauta Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia, quer emprestar sua transcendência espacial ao governo Bolsonaro, algo como “ao infinito e além”. Se vai dar certo, ninguém sabe, mas Pontes já foi além… do Código Militar. Ao voltar do espaço, Pontes resolveu lucrar com a viagem e exerceu atividade comercial, segundo o Ministério Público Militar, o que é proibido pela legislação. Uma investigação foi aberta, mas a demora de resposta do STF fez a ação prescrever.
Ministério da Agricultura: Tereza Cristina – a deputada ruralista e presidente da Frente Parlamentar Agropecuária concedeu incentivos fiscais ao grupo JBS na mesma época em que arrendava um propriedade em MS aos irmãos Joesley e Wesley Batista para a criação de bois e ocupava o cargo de secretária estadual de Desenvolvimento Agrário e Produção do estado. Cristina é ferrenha defensora dos interesses do agronegócio como o PL dos Agrotóxicos e costuma atacar políticas favoráveis aos povos indígenas, movimentos pela terra e pequenos produtores rurais. Votou a favor da MP da Grilagem e para acabar com o aviso nos alimentos transgênicos.
Ministério da Educação: Ricardo Vélez Rodríguez – A indicação de Rodríguez entra na cota de Olavo de Carvalho, mentor da extrema-direita brasileira que vive nos Estados Unidos. Compondo o exótico time bolsonarista, ele compactua com a ideia que existe um grande complô comunista no Brasil, que promove “doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista”. Ele ainda crítica a educação de gênero, que classifica como uma das “invenções deletérias em matéria pedagógica”.
Ministério das Relações Exteriores: Ernesto Fraga Araújo – o diplomata é, talvez, o símbolo do anacronismo de um governo que nem começou, mas já promete descontrole. O futuro ministro das Relações Exteriores parece ter saído de uma distopia ficcional tanto que defende o antiglobalismo de Donald Trump e o rechaça valores considerados por ele “decadentes”, como“democracia”, “cooperação”, “tolerância” e o “politicamente correto”. Araújo afirma que o nazismo foi uma experiência socialista e que as preocupações climáticas são estratégias marxistas para favorecer a China.
Ministério do Turismo: Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) – Quando entrou na política, Marcelo Henrique Teixeira Dias adotou como sobrenome o nome do pai, o ex-deputado federal Álvaro Antônio, morto em 2003. Ele é deputado federal pelo PSL de Minas Gerais e membro da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara. Eleito em 2014 e 2018, foi junto com a mãe o principal patrocinador das duas campanhas, com quase R$ 434 mil.
Ministério do Desenvolvimento Social, Cultura e Esporte: Osmar Terra (MDB-RS) – Ex-ministro do Desenvolvimento Social do governo Michel Temer, Terra é deputado federal pelo MDB há cinco mandatos. Desde 1998, Osmar Terra se candidata a deputado federal. Na campanha mais recente, neste ano, 89% dos R$ 1,678 milhão que arrecadou vieram do seu partido, o MDB. Foi sua campanha mais cara até agora. Em 2014, o futuro ministro arrecadou R$ 954 mil‚ e suas maiores doadoras foram a JBS, com R$ 200 mil, e a construtora Odebrecht, com R$ 190 mil. A Gerdau também se destaca como contribuinte relevante nas campanhas de Terra: foram R$ 142 mil em 2014 e R$ 50 mil em 2010, somando R$ 192 mil.
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos – Pastora evangélica Damares Alves, atualmente é assessora do senador Magno Malta (PR-ES). Ela chegou a defender um projeto apelidado de “bolsa estupro”, que além de restringir os direitos da mulher em relação ao aborto, também prevê que uma pensão seja paga em casos de gravidez decorrente de estupro. Damares também é a criadora da ONG Atini, que é alvo de indigenistas e Ministério Público, acusada de tráfico e sequestro de crianças e incitação ao ódio contra indígenas.
Ministério do Meio Ambiente: Ricardo de Aquino Salles – Último integrante da Esplanada dos Ministérios a ser anunciado por Bolsonaro, em 9 de dezembro, o advogado Ricardo de Aquino Salles foi secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Nesse período, Salles tentou vender 34 áreas florestais e estações experimentais de produção de madeira vinculadas ao Instituto Florestal em 2017. Ele ainda afirma que a defesa do meio ambiente “foi sequestrada pela esquerda” e promete revisar multas aplicadas pelo Ibama.
Ministério da Infraestrutura: Tarcísio Gomes de Freitas – Ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Tarcísio já mostrou a que veio: acelerar o processo de privatizações. Em entrevista ao jornal Valor, ele anunciou que pretende privatizar todos os aeroportos da Infraero. “Vamos prosseguir com a quinta rodada, onde temos 12 aeroportos em três blocos. E a ideia é continuar fazendo licitações por blocos até licitar a rede Infraero inteira”, disse.
Ministério do Desenvolvimento Regional: Gustavo Henrique Canuto – Ele irá chefiar uma fusão dos ministérios das Cidades e da Integração Nacional, sendo que atualmente canuto já é secretário executivo deste último, mostrando que Bolsonaro irá dar continuidade a diversas políticas do governo golpista de Temer.
Ministro da Defesa: Fernando Azevedo e Silva – Azevedo e Silva foi chefe do Estado-Maior do Exército e passou para a reserva neste ano. Atualmente, o general assessora o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. Ele vai suceder no cargo o também general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna, primeiro militar a comandar a pasta desde sua criação, em 1999.
Ministro da Transparência: Wagner do Rosário – Atual ministro da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU) do golpista Michel Temer, Rosário dará continuidade ao esvaziamento do órgão, iniciado em 2016 pelo ilegítimo. No cargo desde maio de 2017, Rosário, que é servidor de carreira e ex-capitão do Exército, assumiu interinamente o Ministério da Transparência para substituir Torquato Jardim, que foi para o Ministério da Justiça. Antes, ele ocupava a secretaria executiva da pasta.
Ministério de Minas e Energia: Bento Costa Lima Leite – A indicação foi feita diretamente por Bolsonaro. Bento Costa é militar da Marinha, e ocupa o posto de Almirante de Esquadra. Hoje, Costa é diretor-geral de desenvolvimento nuclear e tecnológico da força. Em seu último cargo antes de ser indicado ministro, Bento esteve à frente do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) e o Programa Nuclear da Marinha (PNM).
Secretaria de Governo: Carlos Alberto dos Santos Cruz – Gaúcho da cidade de Rio Grande (RS), Carlos Alberto é engenheiro civil de formação e general da reserva do Exército. Na ativa, comandou de 2007 a 2009 a missão de paz no Haiti, a Minustah. Ainda no governo golpista de Michel temer, Santos Cruz chegou a chefiar a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça.
Advocacia-Geral da União: André Luiz de Almeida Mendonça – A indicação de Mendonça foi feita pelo Twitter. Atualmente ele é assessor especial da Controladoria Geral da União (CGU), responsável por coordenar as comissões de negociação dos acordos de leniência, e já atuou como Corregedor-Geral da própria AGU.
Banco Central: Roberto Campos Neto – Neto de Roberto Campos (1917-2001), economista liberal que foi ministro durante durante o governo de Castelo Branco, na ditadura militar, é ligado ao setor bancário, tendo atuado no Banco Bozano Simonsen e Santander.
Da redação da Agência PT de notícias