A informação plural é um oxigênio para a democracia, diz Gleisi
Em encontro de Blogueir@s e Ativistas Digitais, presidenta do PT defendeu a necessidade de se iniciar o debate da democratização da mídia no Brasil
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“Temos que debater democraticamente a regulação pública da mídia”, defendeu a presidenta do PT Gleisi Hoffman nesta sexta-feira (9), durante o 3º Encontro Estadual de Blogueir@s e Ativistas Digitais de São Paulo, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Ela ainda criticou o fato de que, a toda tentativa de debate sobre regulação, é feita uma acusação de tentativa censura.
A senadora pelo estado do Paraná ressaltou que países considerados desenvolvidos, como França, Estados Unidos e Portugal, possuem mecanismos de regulação. Se nos Estados Unidos a regulação é apenas econômica, na França ela busca assegurar a pluralidade cultural e política.
“Na França, tem o Conselho Superior do Audiovisual. Não podemos dizer que França é bolivariana. Além de apontar diretores de canais públicos e outorgar licenças, o conselho também é responsável por monitorar comportamento no que diz respeito à responsabilidade educativa e cultural.”
Hoffman relembrou que a estrutura de comunicações no Brasil e o vazio regulatório existente vêm desde o tempo da ditadura militar. “Era do interesse da ditadura criar uma estrutura que ajudasse a sustentar o regime militar por meio da comunicação. As concessões foram entregues a poucos grupos, e aí que a Globo começa a se desenvolver. Aí começa a estrutura de mídia que temos hoje, que além de oligopolizada é verticalizada. Temos mais de 500 concessões, mas a maioria é retransmissora.”
A presidenta do PT ainda avaliou que hoje há uma mídia rigidamente controlada pelo interesse privado. “É anacrônico porque é contra a democracia. Primeiro porque o direito à comunicação é constitucional e, conforme a Unesco, é um direito básico do ser humano, como saúde e educação. O cidadão sem acesso a comunicação é um não cidadão, não é capaz de fazer escolhas políticas com embasamento.”
Ela criticou que, apesar de exemplos internacionais, toda tentativa de debate sobre a regulação da mídia é taxada como censura no Brasil. “Esses argumentos são ridículos porque a regulação dos meios é sempre apresentada como algo autoritário, a democratização é colocada como autoritarismo.”
A senadora defendeu que a democratização da mídia é uma ansiedade da cidadania esclarecida do país. Para ela, a mídia contribuiu e continua contribuindo para um estado de exceção no Brasil.
“Se não fosse a ação dessa mídia oligopólica, teria sido impossível a instituição de um estado de exceção no Brasil. Não fosse essa mídia, não teríamos o lawfare contra Lula hoje. Não fosse essa mídia, não teria ocorrido o golpe.”
Fazendo uma autocrítica, Hoffman avaliou que “em termos de governo, acabamos dando sustentação a essa mídia e hoje estamos pagando o preço”. Ela ainda elogiou a mídia independente afirmando que “se não fosse a ação de blogueiros independentes, estaríamos em uma situação muito pior. Vocês que hoje apresentam as alternativas de informação fidedignas”.
A presidenta do PT lembrou que o golpe inaugurou uma guerra de contrainformação. “Gasta-se milhões em dinheiro público com campanhas, dizendo que economia está melhor. As propagandas a favor das reformas são uma barbaridade, primeiro que são mentirosas, segundo que sempre estão nas páginas nobres da imprensa escrita e nos horários nobres de TV e rádio.”
Como resposta a essa necessidade de se debater mais profundamente a regulamentação da mídia, Gleisi Hoffmann afirmou que será feito um seminário com as bancadas do PT no Senado e Câmara com parceria da Fundação Perseu Abramo sobre regulação da mídia.
“Vamos trazer pessoas da França, Argentina, Estado Unidos, para falar sobre a política de regulação da mídia. Democracia de verdade precisa ser feita de verdades. Não queremos que parem de falar mal da gente, o que não pode é ter essa concentração na mão de poucos e ter uma vinculação pasteurizada e sem qualidade.”
A presidenta do PCdoB, Luciana Santos, esteve presente e afirmou que a operação Lava Jato é inspirada na operação Mãos Limpas da Itália, que tinha um braço na mídia e, apesar de supostamente combater a corrupção, acabou levando o corrupto Berlusconi ao poder.
“Está na Constituição que não pode ter monopólio, que não pode ter empresa estrangeira, está lá que deve haver agência reguladora. Quando não enfrentamos isso, no mínimo dentro do sistema de comunicação brasileiro, que está previsto como sistema privado-público-estatal, deveríamos no mínimo ter dado passos largos para criar uma comunicação pública. O que garante a comunicação pública é seu conselho. Tanto que uma das primeiras medidas do governo golpista foi ir para cima do diretor da EBC.”
A jornalista Maria Inês Nassif destacou que no esteio do discurso contra a corrupção, o Brasil veio um aumento de toda uma pauta conservadora, contra mulheres, minorias e outros segmentos menos favorecidos do país.
“Para as pessoas que não conseguem um argumento político contra o governo, a corrupção resolve. Respondendo a esse discurso, você se alinha com ideias conservadoras que são muito mais confortáveis, e aí vem agenda conservadora.”
Para Nassif, “a grande unidade da esquerda continua sendo a democracia”. Ela defende que após esse período de exceção que vive o Brasil, é necessário que a esquerda trabalhe para entender melhor os movimentos dos grandes interesses no país.
“Isso é fazer jornalismo: ir atrás da conspiração. Não seremos paranoicos se acharmos conspiração nessa conjuntura. Nosso dever é desvendá-las, tornar público e devemos nos unir para que chegue ao maior número de pessoas.”
O coordenador do Barão de Itararé, Altamiro Borges, ressaltou que o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff foi essencialmente midiático. “Se não fosse essa mídia, não teríamos esse parlamento que nós temos, que é um horror. Se não fosse essa mídia, o juizeco de primeira instância Sérgio Moro seria só um juizeco de primeira instância. Foi criado pela mídia como foi o Joaquim Barbosa.”
Ele avalia que o governo golpista se enfraqueceu, mas o momento requer atenção redobrada. “Vivemos um período muito perigoso no Brasil. Há sinais de inflexão, graças ao povo que foi para a rua, graças aos trabalhadores. Na greve geral os trabalhadores entraram em cena. Vivemos momento de inflexão, mas ainda um cenário muito sombrio.”
“O casamento do partido da Operação Lava Jato, em aliança com partidos golpistas e mídia golpista, gera situação de estado de exceção, por isso foi acertado o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) de lançar o slogan ‘calar jamais’ e defesa da liberdade de expressão. Corremos sérios riscos nesse terreno.”
Borges ainda destacou que a mídia tradicional, após o golpe passou a fazer propaganda para o governo ilegítimo de Temer. “A mídia deixou de ser protagonista do golpe e virou defensora do governo. Essa turma passou a ser puro chapa-branquismo. Esse chapa-branquismo tem motivos políticos, porque é um projeto que interessa a eles.”
Assista à íntegra do debate:
3º Encontro de Blogueir@s e Ativistas Digitais do Estado de SP.
Nos dias 9 e 10 de junho acontece o 3o Encontro de Blogueir@s e Ativistas Digitais do Estado de SP. O encontro é realizado há cada dois anos, alternando com os encontros nacionais. A atividade é uma inciativa do Comitê Estadual de Blogueiras/os Progressistas de SP e do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, e visa discutir e trazer à tona temas relevantes da conjuntura, sob à perspetiva da comunicação. A mídia tradicional tem participado como agente político ativo em diversas pautas e atacam os direitos humanos. A mídia alternativa, por sua vez, precisa se munir e estar preparada para fazer o contraponto à primeira. Comunicadores de todo o estado de São Paulo e se reúnem em para debater a democratização da comunicação. Veja a programação: 09/06 Abertura – Sexta-feira 18h30 Credenciamento 19h Mesa de abertura: Liberdade de expressão em tempos de exceção • Altamiro Borges – Presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé • Gleisi Hoffmann – senadora pelo PT-PR • Luciana Santos – deputada federal pelo PCdoB-PE • Maria Inês Nassif – jornalista • Mediação: Renata Mielli – Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e FNCD (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação) 10/06 – Sábado Das 9h às 10h – Comunicação e Blogosfera na América Latina • Marco Piva – jornalista, apresentador do programa Brasil Latino (Rádio USP). • Leonardo Fernandes – jornalista, foi correspondente da Telesur no Brasil Das 10h às 12h – Rodas de conversa Roda 1: A mulher na mídia • Jéssica Moreira – Nós, Mulheres da Periferia • Marcha Mundial das Mulheres ● Beatriz Accioly Lins – Doutoranda em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da USP. Mestre em Antropologia Social pelo PPGAS-USP. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Mediação:Fernanda Targa – Levante Popular da Juventude Roda 2: Diversidade e comunicação • Ane Sarinara – Coletiva Luana Barbosa • Andrey Lemos – presidente nacional da União Nacional LGBT (UNA-LGBT) • Léo Moreira Sá – Ator, homem-trans e Jornalista Livre Mediação: Coletivo Manas e Monas Roda 3: A relação da grande imprensa e o genocídio negro • Douglas Belchior – Uneafro • Junião – Cartunista da Ponte Jornalismo • Tati Preta Soul – mulher preta, Rapper, poeta, militante das periferias e educadora Social no CEDECA Interlagos. Integrante do Coletivo Abayomi Aba- pela Juventude Negra viva desde 2012 e MOJUBÁ – Minha ancestralidade te incomoda. Mediação: Gisele Brito, Rede Jornalistas das Periferias 12h – Almoço Das 13h30 às 15h – Oficinas • Memes – Mídia Ninja • Fotografia – Sergio Silva – Fundação Perseu Abramo • Transmissão ao vivo – Jornalistas Livres Das 15h30 às 17h – Mesa final: Golpes ontem e hoje, 1964 e 2016 – semelhanças • Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania • Laura Capriglione – Jornalistas Livres • Rodrigo Vianna – blog Escrevinhador Das 17h às 18h – Carta do #3BlogProgSP .
Publicado por Barão de Itararé em Sexta, 9 de junho de 2017
Por Pedro Sibahi, da redação da Agência PT de notícias